Irão. Instalações nucleares que se preparavam para enriquecimento de urânio registam incidente

por Joana Raposo Santos - RTP
O Presidente iraniano, Hassan Rohani, inaugurou no sábado a nova fábrica de montagem de 164 centrifugadoras IR-6 em Natanz. Reuters

Um acidente nas instalações nucleares de Natanz, no Irão, provocou este domingo a quebra da rede de distribuição elétrica. A informação foi avançada por um porta-voz do programa nuclear civil do Irão, um dia depois de o Governo de Hassan Rouhani ter anunciado o aumento do enriquecimento de urânio através de novas centrifugadoras.

Segundo Behrouz Kamalvandi, citado pela televisão estatal do Irão, do incidente não resultaram quaisquer feridos nem poluição.

Houve "um acidente em parte da rede elétrica na instalação de enriquecimento Shahid-Ahmadi-Rochan", disse por sua vez o porta-voz a agência de notícias Fars, referindo-se ao complexo nuclear de Natanz, onde as autoridades iranianas lançaram na véspera novas cascatas de centrifugadoras proibidas pelo acordo nuclear iraniano de 2015.

As novas centrifugadoras oferecem ao Irão a capacidade de enriquecer urânio mais rapidamente e em maiores quantidades, em volumes e com um grau de refinamento proibido pelo acordo alcançado em Viena entre aquele país e a comunidade internacional.

O Presidente iraniano, Hassan Rohani, inaugurou no sábado a nova fábrica de montagem de 164 centrifugadoras IR-6 em Natanz. A cerimónia foi transmitida pela televisão estatal.
Já em julho do ano passado uma misteriosa explosão tinha danificado as instalações de Natanz. Mais tarde, o Irão indicou que o incidente se deveu a sabotagem.
Um dia antes, os Estados Unidos – que em 2018 renunciaram unilateralmente ao acordo nuclear, repondo as sanções ao Irão e levando esse país a retroceder parcialmente no acordo – disseram ter oferecido a Teerão ideias “muito sérias” sobre retomar as negociações, encontrando-se à espera de uma resposta.

A inauguração de sábado veio reforçar a ideia de que o Irão não está interessado na proposta norte-americana.

Hassan Rouhani aproveitou, inclusivamente, o lançamento das centrifugadoras IR-6 para anunciar testes de “estabilidade mecânica” em novas centrifugadoras topo de gama, as IR-9, e avançou que a planta danificada em julho passado num alegado “ataque terrorista” será substituída por uma nova fábrica de montagem.

Quando operacionais, as centrifugadoras IR-9 terão a capacidade de separar os isótopos de urânio ainda mais rápido do que as centrifugadoras que estão atualmente a ser utilizadas, permitindo um enriquecimento de urânio mais acelerado.

No acordo nuclear de 2015, tinha ficado decidido que o Irão apenas poderia utilizar centrifugadoras IR-1, de “primeira geração”, podendo apenas testar um número limitado de centrifugadoras IR-4 e IR-5.

Desde janeiro deste ano, o abastecimento de urânio enriquecido com 20 por cento de pureza no Irão aumentou para 55 quilos, elevando a capacidade de armamento nuclear do país.

Ainda assim, Teerão tem sempre negado a intenção de adquirir armas nucleares e garante que o seu programa nuclear serve propósitos de paz.
EUA aguardam resposta de Teerão para regressarem ao acordo nuclear
Esta semana, representantes dos países signatários do acordo nuclear de 2015 reuniram-se em Viena para discutir o eventual regresso dos Estados Unidos a esse mesmo acordo. Washington não participou na discussão, mas teve como intermediária a União Europeia.

O Irão já avisou por diversas vezes que, para voltar a cumprir os trâmites do acordo, os EUA terão de levantar todas as sanções impostas por Donald Trump em 2018, incluindo uma proibição de exportação de petróleo.

“Os Estados Unidos, que causaram esta crise, devem ser os primeiros a voltar a cumprir totalmente com o acordo”, alertou na sexta-feira no Twitter o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif.


A Casa Branca diz, por sua vez, ter já dado o primeiro passo e estar apenas à espera de resposta recíproca. “A equipa dos EUA avançou com uma ideia muito séria e demonstrou uma seriedade no compromisso de voltar a cumprir [com o acordo] caso o Irão também o faça”, explicou um responsável norte-americano.

c/ agências
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