Os meios de comunicação social iranianos noticiaram esta quarta-feira que o estado de saúde de Armita Garawand, a jovem de 16 anos que entrou em coma após ter sido agredida pela "Polícia da Moralidade" no metro de Teerão, no início de outubro, se tinha "deteriorado" nos últimos dias.
"Apesar dos esforços contínuos da equipa médica, os sinais vitais relativamente estáveis de Armita Garawand evoluíram e deterioraram-se um pouco nos últimos dias", avançaram as agências noticiosas Irna e Borna, ligadas ao ministério iraniano da Juventude e dos Desportos.
"Os esforços da equipa médica prosseguem" para tentar salvar a jovem, que se encontra hospitalizada no hospital da Força Aérea, “Fajr” em Teerão, sob rigorosas medidas de segurança, acrescentaram.
Na sequência da notícia a organização de defesa de Direitos Humanos no Irão Hengaw, com sede na Noruega, "sublinhou o estado crítico de Armita Garavand, com sinais vitais alarmantemente baixos", numa publicação na rede social X, antigo Twitter.#BREAKING
— Hengaw Organization for Human Rights (@Hengaw_English) October 11, 2023
Hengaw underscores the critical condition of Armita Garavand, with alarmingly low vital signs.
This information was relayed by the government news agency Barna a few hours ago on Wednesday, October 11, 2023.#ArmitaGaravand pic.twitter.com/tKqpiaQ1GR
Causa do coma é controversa
Armita Garawand terá sido fisicamente agredida por membros femininos das autoridades iranianas na estação de “Shoada”, do metropolitano da capital, no dia 1 de outubro, alegadamente por não ter respeitado o uso obrigatório do “hijab”.
Tendo sido imediatamente transportada para o hospital militar de Fajr,
onde se encontra desde então em estado de morte cerebral, mas ainda
assim privada de “visitas nem mesmo de família”, de acordo com a ONG Hengaw.
Segundo informação da mesma fonte, a jovem foi vítima da repressão da "Polícia da Moralidade", cuja missão é assegurar a aplicação da obrigação de as mulheres iranianas usarem o véu islâmico em público.
Teerão desmente
No entanto Teerão desmentiu esta notícia e acusou os governos ocidentais "intervencionistas" de espalharem rumores sobre o estado de saúde de Armita, segundo a agência France Presse. As autoridades iranianas têm negado sistematicamente qualquer agressão física a Armita Garawand, que dizem ter sofrido uma “queda da tensão arterial”, versão veiculada pela agência noticiosa oficial iraniana e vários meios de comunicação estatais nos dias seguintes.
Segundo a Amnistia Internacional, perante a negação do Governo iraniano e a acumulação de provas de encobrimento por parte das autoridades iranianas, é necessária uma investigação independente das Nações Unidas para apurar a causa dos ferimentos graves da jovem.
"As autoridades iranianas estão a levar a cabo uma campanha concertada de negação e distorção para encobrir a verdade sobre as circunstâncias que conduziram ao colapso de Armita Garawand, o que faz lembrar de forma arrepiante as suas narrativas falsas e explicações pouco plausíveis sobre o caso de Mahsa/Zhina Amini", afirmou a diretora regional adjunta da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África, Diana Eltahawy.
"Mulher, Vida, Liberdade"
O controverso caso de Armita Garawand surge pouco mais de um ano após a morte sob custódia polícial de Mahsa Amini, uma jovem iraniana curda de 22 anos, detida pela “Polícia da Moralidade” por alegadamente também estar a violar as rigorosas regras de vestuário impostas às mulheres no Irão.
A morte polémica de Mahsa Amini, a 16 de setembro de 2022, desencadeou fortes protestos no Irão, sob o lema "Mulher, Vida, Liberdade", mas a contestação foi perdendo força com o passar dos meses fruto da brutal repressão da polícia iraniana.
Na passada sexta-feira, 6 de outubro, a jornalista e defensora dos Direitos Humanos iraniana, Narges Mohammadi, venceu o Prémio Nobel da Paz pela sua luta contra a opressão de que as mulheres são vítimas no Irão e dedicação na defesa dos Direitos Humanos e da liberdade de toda a população oprimida.
Narges Mohammadi, de 51 anos, está privada de liberdade há anos, e mesmo presa e torturada pelo regime iraniano, nunca deixou de lutar incessantemente pela liberdade.
No anúncio feito na sexta-feira, o Comité Nobel Norueguês considerou então que o lema adotado pelos manifestantes "Mulher, Vida, Liberdade" expressava "adequadamente o trabalho e dedicação" da iraniana. "Este Prémio Nobel da Paz é um tributo a todas as mulheres que lutam pelos seus direitos, pondo em risco a sua liberdade, a sua saúde e até a sua vida", afirmou António Guterres.
O secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, considerou que "é importante recordar que os direitos das mulheres e das raparigas estão a sofrer uma forte pressão, nomeadamente através da perseguição das mulheres defensoras dos direitos humanos, no Irão e noutros países", numa declaração sobre a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Narges Mohammadi.
c/agências
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