Irão confirma "contactos indiretos" com Estados Unidos sobre programa nuclear
O Irão confirmou esta terça-feira que manterá negociações sobre seu programa nuclear com os Estados Unidos, mas insistiu que serão contactos indiretos, através de intermediários, contrariando o anúncio feito pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
Iran and the United States will meet in Oman on Saturday for indirect high-level talks.
— Seyed Abbas Araghchi (@araghchi) April 7, 2025
It is as much an opportunity as it is a test. The ball is in America's court.
"É uma oportunidade e um teste. A bola está do lado dos Estados Unidos", acrescentou.
Até agora, o Irão sempre disse que qualquer contacto com os Estados Unidos seria indireto, através de intermediários, o que entra em conflito com a posição de Trump.Em mais um sinal do difícil caminho para qualquer acordo entre os dois inimigos geopolíticos, Trump emitiu um aviso severo de que, se as negociações não forem bem-sucedidas, “o Irão estará em grande perigo”.
Esta terça-feira, os meios de comunicação social estatais iranianos afirmaram que as conversações seriam conduzidas por Araqchi e pelo enviado presidencial dos EUA, Steve Witkoff, com a intermediação do ministro dos Negócios Estrangeiros de Omã, Badr al-Busaidi.
O jornal iraniano Nournews, afiliado ao principal órgão de segurança do país, descreveu a declaração de Trump sobre uma reunião direta planeada como parte de uma “operação psicológica destinada a influenciar a opinião pública nacional e internacional”.
Trump fala em conversações diretas
A mensagem do principal diplomata iraniano veio horas depois de Trump anunciar que os dois países iniciariam "conversas diretas" no sábado, em busca de um acordo sobre o programa nuclear iraniano.
“Estamos a ter conversações diretas com o Irão, que já começaram, e vão continuar no sábado. Temos uma reunião muito grande e veremos o que pode acontecer”, disse Trump aos jornalistas na Sala Oval durante uma reunião com o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu.O presidente enfatizou que as negociações com o Irão, país com o qual não tem relações diplomáticas, serão diretas e não por meio de intermediários, e que envolverão autoridades "quase dos mais altos níveis".
Trump afirmou que chegar a um acordo "seria preferível a fazer o óbvio", em aparente referência a um hipotético ataque ao Irão, e afirmou que a situação com o país persa "está a tornar-se muito perigosa", expressando esperança de que as negociações "sejam bem-sucedidas".
“O Irão não pode ter uma arma nuclear e se as conversações não forem bem-sucedidas, penso que será um dia muito mau para o Irão”, acrescentou Trump na Sala Oval na segunda-feira.
O republicano enviou uma carta ao Irão via Emirados Árabes Unidos pedindo negociações sobre o programa nuclear e ameaçou repetidamente bombardear o país se um acordo não fosse alcançado.
A China apelou aos Estados Unidos para que demonstrem “sinceridade” nas negociações nucleares com o Irão.
“Como o país que se retirou unilateralmente do acordo global sobre a questão nuclear iraniana e que provocou a situação atual, os Estados Unidos devem mostrar sinceridade política e respeito mútuo” declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lin Jian.
Por seu lado, “a China continua a manter-se em contacto com todas as partes envolvidas”, com vista a uma “solução diplomática num futuro próximo”, acrescentou Lin.
Washington deve “pôr fim à sua má prática de utilizar a força para exercer a máxima pressão” nas suas negociações, sublinhou o porta-voz.
Os EUA e o Irão mantiveram conversações indiretas durante o mandato do antigo presidente Joe Biden, mas fizeram poucos ou nenhuns progressos. As últimas negociações diretas conhecidas entre os dois governos foram durante o mandato do então presidente Barack Obama, que liderou o acordo nuclear internacional de 2015 que Trump abandonou mais tarde.
Os avisos de Trump de uma ação militar contra o Irão agitaram os nervos já tensos em todo o Médio Oriente, depois de uma guerra aberta em Gaza e no Líbano, de ataques militares no Iémen, de uma mudança de liderança na Síria e de trocas de tiros entre Telavive e Teerão. Aliados próximos durante a monarquia Pahlavi, os dois países não mantêm relações diplomáticas desde 1980, quando diplomatas americanos foram feitos reféns na sua embaixada em Teerão, na sequência da Revolução Islâmica.
Trump, que reforçou a presença militar dos EUA na região desde que assumiu o cargo em janeiro, disse que preferia um acordo sobre o programa nuclear iraniano a um confronto armado e, a 7 de março, disse que tinha escrito ao líder supremo Ayatollah AliKhamenei para sugerir conversações.
Na altura, as autoridades iranianas afirmaram que Teerão não se deixaria convencer a entrar em negociações.
As conversações diretas não ocorreriam sem a aprovação explícita de Khamenei, que em fevereiro afirmou que as negociações com os EUA “não eram inteligentes, sensatas ou honrosas”.
Durante o seu primeiro mandato (2017-2021), Trump retirou os EUA de um acordo de 2015 entre o Irão e outras potências, que estabelecia limites rígidos às atividades nucleares de Teerão, em troca de alívio de sanções.Em 2018, Donald Trump anunciou a retirada unilateral dos Estados Unidos do acordo de Viena, concluído sob a égide dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, incluindo a China, durante a presidência de Obama.
Desde então, o Irão enriqueceu urânio muito além dos limites permitidos pelo extinto acordo e, agora, possui 274 quilos de urânio enriquecido com 60 por cento de pureza, próximo dos 90 por cento de grau militar, segundo a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).
As potências ocidentais acusam o Irão de ter uma agenda clandestina para desenvolver a capacidade de armas nucleares através do enriquecimento de urânio a um elevado nível de pureza físsil, acima do que dizem ser justificável para um programa civil de energia atómica.
Teerão afirma que o seu programa nuclear se destina exclusivamente a fins energéticos civis.
A mudança ocorre numa altura precária para o “Eixo de Resistência” regional de Teerão, que estabeleceu com grande custo ao longo de décadas para se opor a Israel e à influência dos EUA. O eixo ficou seriamente enfraquecido desde que o ataque do grupo palestiniano Hamas a Israel, a 7 de outubro de 2023, lançou o Médio Oriente num conflito.
O Hamas, em Gaza, e o Hezbollah, no Líbano, têm sido fustigados por Israel desde o início da guerra de Gaza, enquanto o movimento Houthi, no Iémen, tem sido alvo de ataques aéreos dos EUA desde o mês passado.