Irão ameaça expulsar inspetores da AIEA e Washington alerta para "escalada"

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Raheb Homavandi - Reuters

O Irão avisou esta quinta-feira que poderá suspender a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) se as ameaças externas continuarem. O alerta surge depois de o presidente norte-americano, Donald Trump, ter reiterado que não descarta usar a força contra Teerão para chegar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano. A Casa Branca já veio alertar que a expulsão de inspetores da AIEA seria uma "escalada" e "um erro de cálculo".

"Ameaças externas contínuas e colocar o Irão sob condições de um ataque militar podem levar a medidas dissuasoras como a expulsão de inspetores da AIEA e o fim da cooperação com a mesma", disse Ali Shamkhani, conselheiro do ayatollah Ali Khamenei, numa publicação na rede social X.

Shamkhani acrescentou que também poderão considerar a “transferência de material enriquecido para locais seguros” no Irão.

A ameaça surge depois de o presidente norte-americano ter voltado a sugerir que os EUA atacarão o Irão se não for possível chegar a um novo acordo sobre o programa nuclear iraniano.

"Se a força for necessária, usaremos a força", disse Donald Trump aos jornalistas na quarta-feira, afirmando que têm "muito pouco tempo" para chegar a um acordo.

A Casa Branca já reagiu à ameaça de Teerão, alertando que a expulsão dos inspetores do organismo de vigilância nuclear da ONU seria “uma escalada” e "um erro de cálculo".

"A ameaça de tal ação é, obviamente, inconsistente com as alegações do Irão de energia nuclear pacífica", disse a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, aos jornalistas, esta quinta-feira. "Além disso, expulsar os inspetores da AIEA do Irão seria uma escalada e um erro de cálculo por parte do Irão", acrescentou.
Negociações arrancam no sábado
O clima de tensão entre os dois países aumentou desde que Donald Trump tomou posse como presidente do Estados Unidos, em janeiro deste ano mas já durante o seu primeiro mandato, de 2017 a 2021, Trump retirou os EUA de um acordo assinado em 2015 entre o Irão e as potências mundiais que limitava o programa nuclear de Teerão em troca do alívio das sanções económicas. Desde que Trump saiu do acordo, em maio de 2018, a República Islâmica ultrapassou largamente os limites acordados no seu programa de enriquecimento de urânio, segundo a AIEA, e Trump restabeleceu as sanções.

Trump tenta, agora, reativar este acordo com novos termos. Diplomatas iranianos e norte-americanos visitarão o Omã no sábado para iniciar as negociações sobre o programa nuclear de Teerão. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, disse esperar que estas negociações “levem à paz”.

Enquanto os EUA insistem que as negociações com Teerão serão diretas, o Irão tem reiterado a sua política de não se envolver em negociações diretas com os Estados Unidos enquanto estiver sob a sua campanha de pressão máxima e ameaças militares.

Desde o regresso à Casa Branca, Trump tem apelado a negociações com Teerão e enviou mesmo uma carta a exortá-lo, em março. Mas ao mesmo tempo, Trump retomou a chamada política de “pressão máxima” contra o Irão para cortar as vendas de petróleo iraniano e emitiu ameaças militares.

No final de março, o presidente norte-americano ameaçou mesmo com “bombardeamentos nunca antes vistos” na ausência de um novo acordo nuclear.

Por sua vez, o ayatollah Ali Khamenei garantiu uma "resposta firme" por parte de Teerão caso o país seja alvo de um ataque.

c/agêcias
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