Irão ameaça celebridades e jornalistas solidários com Mahsa Amini

por Joana Raposo Santos - RTP
Majid Asgaripour - Reuters

O Irão está a aumentar a pressão sobre jornalistas e celebridades perante a onda de protestos no país. As manifestações, apoiadas por cineastas, atletas, músicos e atores, entre outros, são lideradas por mulheres e seguem-se à morte de Mahsa Amini, a jovem de 22 anos detida pela "polícia da moralidade" da República Islâmica por alegadamente usar mal o hijab (véu islâmico).

“Vamos tomar ações contra as celebridades que atiçarem as chamas dos protestos”, ameaçou o governador de Teerão, Mohsen Mansouri, de acordo com a agência de notícias estatal ISNA.

O aviso chega depois de várias personalidades demonstrarem o seu apoio às mulheres que têm saído à rua para se manifestarem contra a morte de Mahsa Amini. Esta sexta-feira, o número de vítimas mortais em confrontos com as autoridades nos protestos subiu para 83, entre os quais crianças, segundo a organização não-governamental Iran Human Rights.

Uma das mais recentes demonstrações de apoio veio da seleção nacional de futebol do Irão, que antes de um jogo contra o Senegal em Viena vestiu fatos de treino negros enquanto tocava o hino do seu país, em vez de terem vestido o equipamento oficial.

Já o realizador iraniano Asghar Farhadi, duas vezes premiado com um Óscar, exortou no sábado os povos de todo o mundo a "estarem solidários" com os manifestantes.

"Convido todos os artistas, cineastas, intelectuais, militantes dos direitos cívicos do mundo inteiro (...) todos os que acreditam na dignidade e liberdade humanas, a exprimirem a sua solidariedade com as mulheres e homens fortes e corajosos do Irão produzindo vídeos, escrevendo, ou de uma outra forma qualquer", disse numa mensagem vídeo no Instagram.


Gholamhossein Mohseni Ejei, responsável pelo poder judicial no Irão, considerou entretanto que “aqueles que se tornaram famosos graças ao apoio do sistema, durante os dias difíceis aliaram-se ao inimigo em vez de estarem com o povo”.

Na quinta-feira, as autoridades iranianas prenderam a jornalista Elahe Mohammadi, que cobriu o funeral de Mahsa Amini.

Também a jornalista Niloufar Hamedi, que esteve no hospital onde Amini se encontrava então em coma e ajudou a expor o caso à comunidade internacional, foi detida, elevando o total de profissionais presos para 28, segundo o Comité para a Proteção dos Jornalistas.
Irão traça “linha vermelha”
Mahsa Amini morreu a 16 de setembro, três dias depois de ter sido detida pela “polícia da moralidade” por alegadamente violar as regras sobre a utilização do véu islâmico, o hijab, e sobre as roupas consideradas adequadas.

Desde então, as iranianas têm saído destemidamente às ruas, gritando “mulher, vida, liberdade!”, cortando os cabelos em público e queimando os véus. São as maiores manifestações no Irão em quase três anos.

O presidente do país, Ebrahim Raisi, alertou na quinta-feira que, apesar do “pesar e tristeza” pela morte de Amini, a segurança pública “é a linha vermelha da República Islâmica do Irão e ninguém pode infringir a lei e causar o caos”. As manifestações no Irão acontecem há cerca de duas semanas e têm sido marcadas por “violência implacável pelas forças de segurança”, alertou a Amnistia Internacional.

No mesmo dia, o Governo do país condenou a “interferência” da França nos seus assuntos internos, após uma declaração de Paris de apoio aos protestos. O mesmo aconteceu anteriormente com o Reino Unido e a Noruega.

Por todo o mundo têm surgido manifestações de solidariedade para com as mulheres iranianas, estando neste momento planeados protestos em 70 cidades de vários países já para este sábado.

No Afeganistão, por exemplo, várias mulheres protestaram junto à embaixada iraniana em Cabul, gritando “o Irão ergueu-se, agora é a nossa vez” e “de Cabul ao Irão, digam não à ditadura!”.
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