O Irão acusa Israel de ser responsável pelo ataque de domingo à central nuclear de Natanz, que tinha sido reforçada com novas centrifugadoras para o enriquecimento de urânio. As autoridades iranianas afirmam que as instalações foram alvo de “terrorismo nuclear” e prometeram “vingança”.
“Este incidente, felizmente, não causou nenhum dado à vida humana ou ao meio ambiente. No entanto, pode ter sido uma catástrofe”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, Saeed Khatibzadeh. “Este é um crime contra a humanidade e a relação de tais ações está de acordo com a essência do regime sionista”, acusou Khatibzadeh.
Fontes dos serviços secretos dos EUA revelaram ao New York Times que o incidente foi provocado por uma grande explosão que destruiu completamente o sistema de energia interno independente que abastece as centrifugadoras subterrâneas que enriquecem urânio.
"Com esta ação, o regime sionista vingou-se do povo iraniano pela paciência e sabedoria que demonstrou enquanto aguardava pelo levantamento das sanções", disse ainda o porta-voz dos Negócios Estrangeiros do Irão. “Eles disseram publicamente que não iriam permitir isso. Mas nós vamos vingar-nos dos sionistas”, prometeu Khatibzadeh.
O incidente ocorreu um dia depois de o Presidente iraniano, Hassan Rohani, ter inaugurado a nova fábrica de montagem de 164 centrifugadoras IR-6 em Natanz. Estas novas centrifugadoras oferecem ao Irão a capacidade de enriquecer urânio mais rapidamente e em maiores quantidades, em volumes e com um grau de refinamento proibidos pelo acordo nuclear alcançado em Viena, em 2015, entre aquele país e a comunidade internacional.
Esforços para reavivar acordo nuclear
Na semana passada, representantes dos países signatários do acordo nuclear de 2015 reuniram-se em Viena para discutir o eventual regresso dos Estados Unidos a esse mesmo acordo. O antecessor de Joe Biden, Donald Trump, retirou os EUA do acordo nuclear com o Irão em maio de 2018, o que levou a uma escalada de sanções assinadas pela Casa Branca a Teerão. Por sua vez, em retaliação, o Irão violou uma série de restrições nucleares acordadas, desde logo com a produção de urânio enriquecido a 20 por cento.
Tanto Washington como Teerão já demonstraram estar abertos ao regresso ao acordo, mas as duas partes divergem quanto às condições para que isso aconteça, não havendo consenso sobre quem dará o primeiro passo.
O Irão anunciou estar disposto a “reverter imediatamente” todas as ações, nomeadamente a produção de urânio enriquecido, e a salvar o acordo quando Washington colocar um ponto final nas sanções. Os EUA, por sua vez, não aceitam a pressão de Teerão e exigem que os iranianos regressem à conformidade nos seus compromissos perante o acordo nuclear.
A estratégia de Teerão para acabar com as sanções impostas por Trump passa por tomar medidas cada vez mais robustas proibidas pelo acordo nuclear – uma estratégia que pode agora estar comprometida, uma vez que as autoridades iranianas estimam que sejam precisos nove meses até o Irão voltar a produzir urânio enriquecido nas instalações de Natanz. Desta forma, é ainda mais incerto o futuro dos esforços diplomáticos levados a cabo pelos países signatários para reavivar o acordo nuclear de 2015.
Por sua vez, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, que se encontrou no domingo com o secretário de Defesa dos Estados Unidos, prometeu fazer tudo o que está ao seu alcance para impedir o acordo nuclear.
Netanyahu acusa o Irão de estar a procurar aumentar o armamento nuclear do país ao produzir urânio enriquecido – uma realidade que Teerão tem sempre negado – e considera que o acordo nuclear não é suficiente para proteger Israel de qualquer eventual ameaça por parte de Teerão.
Israel, que considera o Irão o seu maior adversário e ameaça, tem sido acusado por Teerão de vários ataques relacionados com a atividade nuclear. Recentemente, Teerão acusou Israel de ter assassinado um cientista de topo do seu programa nuclear.
c/ agências