A Polícia Federal brasileira deteve este sábado, no Rio de Janeiro, Water Braga Netto, antigo candidato a vice-presidente em 2022 e ministro da Casa Civil e da Defesa de Jair Bolsonaro. O general da reserva é suspeito de “obstrução de justiça” no âmbito do inquérito à alegada tentativa de golpe de Estado para travar a posse de Lula da Silva como presidente.
O antigo ministro da Casa Civil e da Defesa de Jair Bolsonaro estava indiciado, desde o final de novembro, no processo que investiga uma alegada tentativa de golpe de Estado para conservar o poder nas mãos do presidente de direita na sequência das eleições de 2022, que devolveram Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto.
A Polícia Federal adiantou, em comunicado citado pela imprensa brasileira, estar a cumprir “mandados judiciais expedidos pelo Supremo Tribunal Federal em face de investigados no inquérito”.Em novembro, foram indiciadas 36 pessoas, entre as quais o próprio Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno, que esteve à frente do Gabinete de Segurança Institucional durante a governação do ex-presidente brasileiro. Na passada quarta-feira, somaram-se outros três suspeitos. Há agora 40 indiciados.
O general na reserva nega todas as acusações de que é alvo. Logo após a indiciação, o advogado de defesa de Braga Netto, Luís Henrique César Prata, veio afirmar, em comunicado, que o seu constituinte “repudia veementemente e desde logo a indevida difusão de informações relativas a inquéritos, concedidas em primeira mão a determinados veículos de imprensa em detrimento do devido acesso às partes diretamente envolvidas e interessadas”.
Em causa estão suspeitas de três crimes que acarretam molduras penais de três a 12 anos de prisão: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
O alegado plano de golpe incluiria a vigilância, a detenção ilegal e até a possível execução de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, de Lula da Silva, presidente eleito, e Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito.
“Participação concreta”
A Polícia Federal acredita que Braga Netto teve “participação concreta” na presumível tentativa de golpe. O antigo ministro poderia mesmo vir a encabeçar em conjunto com Augusto Heleno, segundo os investigadores, um gabinete de crise a instalar uma vez concretizado o golpe, tendo em vista a repetição das eleições presidenciais. O general na reserva teria também desempenhado um papel no desenho dos planos efetuado uma reunião sobre este tema em Brasília, a 12 de novembro de 2022. Neste encontro, adianta a BBC News Brasil, terão participado militares como Mauro Cid, tenente-coronel do exército e ajudante de ordens, à data, de Jair Bolsonaro.
Em dezembro de 2022, escreve ainda a edição brasileira da BBC, “Walter Braga Netto teria participado de uma ofensiva para pressionar os comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano”.
“Entre as estratégias de milícia digital, ele teria incentivado ataques públicos e pessoais contra generais que se recusaram a aderir ao plano e seus familiares”, acrescenta a BBC News Brasil.
“Lula não sobe a rampa”
O relatório de investigação da Polícia Federal, citado pelos media brasileiros, refere o esboço de um plano com o título Operação 142, encontrado sobre a mesa do coronel Flávio Botelho Peregrino, assessor de Braga Netto.
Este documento vinca, como "estado final desejado político”, que “Lula não sobe a rampa” do Palácio do Planalto para tomar posse como presidente do Brasil.