"Povo no centro das decisões". Daniel Chapo assume a Presidência de Moçambique sob segurança apertada
Diante de 2.500 convidados na Praça da Independência, em Maputo, o atual secretário-geral da Frelimo, Daniel Chapo, tomou esta quarta-feira posse como quinto presidente da República de Moçambique. Depois da investidura, novo chefe de Estado defendeu a união no país e "a estabilidade social e política" como "prioridade das prioridades".
“Hoje iniciamos juntos uma era para Moçambique e uma nova era. Este não é apenas o início de um mandato, mas de uma jornada que nos desafia a construir o futuro que sonhámos”.
O novo presidente moçambicano pediu, “antes de qualquer palavra”, um momento de silêncio em “homenagem às vítimas” dos ciclones e do terrorismo em Cabo Delgado.
“Que este silêncio nos lembre do peso da nossa responsabilidade mas também da imensa força que temos enquanto nação. Moçambique é maior do que qualquer desafio, maior do que qualquer crise. Unidos somos capazes de superar os obstáculos e de transformar a nossa dor em prosperidade”.
A tomada de posse do quinto presidente da República de Moçambique marca o “início de uma nova fase da nossa jornada de consolidação, da construção de nação soberana e próspera”. Admitindo que pretendia deixar uma mensagem de esperança para o país, Chapo afirmou que o “diálogo com as forças políticas será sempre franco, honesto e sincero”, tendo como “prioridade das prioridades” a estabilidade política.
“Hoje dirigimo-nos a cada um dos moçambicanos, não como um presidente distante, mas como um filho desta terra, onde sentimos, vivemos e partilhamos as nossas angústias”, continuou, sublinhando que Moçambique está a passar “por muitas angústias” e não pode ignorar os desafios, como a fome, o desemprego, a crise na Função Pública.
“Ouvimos as vossas vozes, antes e durante as manifestações. E continuaremos a ouvir, mesmo em momentos de estabilidade”. Falando ainda de desafios como a corrupção, Chapo considerou que Moçambique não pode continuar a “ser refém” de “todos os vícios e desvios da boa conduta exigida aos servidores públicos”.
Dirigindo-se aos moçambicanos, o novo presidente quis falar das “mudanças importantes” que vão transformar o modo como o Governo “vai funcionar, colocando o povo no centro de todas as decisões”.
“Vamos ajustar as velas do nosso barco, para que ele navegue com mais eficiência, menos desperdício e sobretudo com mais atenção e cuidado para cada moçambicano. Por isso, vamos ter um Governo mais eficaz”, afirmou, acrescentando que uma das primeiras mudanças será a redução do Executivo, “começando com a redução de ministérios, ministros e eliminação de secretarias de Estado equiparados aos ministérios”.
“Vamos prosseguir o reforço da cooperação internacional”, incluindo na CPLC e com a União Europeia, e as instituições bancárias. “Parceiros com os quais trabalharemos na agenda de renovar Moçambique”.
“Cada uma destas ações reflete o nosso compromisso, em proteger e servir o cidadão, desenvolvendo a justiça social, o papel fundamental de garantir a paz e a igualdade de todos os moçambicanos”.
Para terminar, Daniel Chapo afirmou: “o futuro de Moçambique está nas nossas mãos”.
“Hoje, mais do que nunca, precisamos de união, coragem e determinação. Não será uma jornada fácil, mas temos de ter plena confiança na força do povo moçambicano, da nossa unidade nacional, que é o segredo do nosso sucesso”, disse. “Este Governo que vamos constituir será incansável, mas o verdadeiro poder de mudança está na nossa capacidade de trabalhar juntos, como uma só nação”.
Daniel Chapo pretende liderar como “humildade, transparência, determinação e comprometimento”, para que as próximas gerações “olhem para este momento como um ponto de virada, onde juntos escolhemos um futuro de esperança, com determinação e fé”.
“Construiremos um Moçambique que orgulhará a todos e às futuras gerações”.
O novo presidente moçambicano terminou dirigindo-se à população com um repto repetido: “Vamos trabalhar”.
Antes da investidura, o presidente cessante de Moçambique pediu aos moçambicanos apoio para Daniel Chapo, apontando que tem um projeto de "esperança" e vai "costurar feridas e ressentimentos" de todos os cidadãos. Filipe Nyusi agradeceu ainda a todos os representantes de outros países por “presenciarem este importante evento na vida dos moçambicanos”.
“A vossa presença expressa o apreço que nutrem pelo povo moçambicano”, afirmou.
“Hoje os moçambicanos escrevem mais uma página da sua história de democracia multipartidária, num percurso que teve início há mais de três décadas”, com a "transição de liderança política, num ambiente de relativa estabilidade, não obstante a situação de terrorismo em alguns distritos na província de Cabo Delgado”.
Lembrando a "onda de protestos violentos no período pós eleitoral", Nyusi lamentou que o país tenha sido "atingido por mais dois ciclones, que resultaram em perdas de vidas, ferimentos e destruição significativa de infraestruturas socioeconómicas”.
“No momento em que me retiro da mais alta magistratura do nosso Estado, ao fim de uma década de caminhada de mãos dadas ao serviço da nossa pátria, constitui para mim e para a minha família um enorme privilégio poder dirigir-me aos moçambicanos. Nesta ocasião queremos exprimir o nosso profundo respeito e gratidão ao povo moçambicano (…) pela oportunidade que nos proporcionou de sermos seus servidores”.
“É importante que juntos tivemos de enfrentar desafios de dimensão histórica”, como os desastres naturais que assolaram o país, a tensão militar na zona centro do país e “sem esquecer o desafios das restrições orçamentais” impostas pelos países financiadores.Naquele que foi o seu último discurso como presidente de Moçambique, Filipe Nyusi pediu união à volta do programa de governação de Daniel Chapo, defendendo que é o caminho para assegurar o desenvolvimento do país.
"O povo moçambicano conferiu legitimidade não apenas a um novo dirigente, mas a um projeto de esperança dos moçambicanos. Será este moçambicano que nos irá abraçar a todos sem qualquer distinção, será este dirigente que saberá congregar todos os esforços na construção de um país melhor", declarou Filipe Nyusi.
"Será ele que irá costurar as feridas, soturar os ressentimentos e ajudar a encontrar tudo o que nos une na nossa caminhada coletiva (...) Aquilo que nos une é certamente maior e mais urgente do que aquilo que nos pode dividir. Daniel Chapo é a pessoa certa para proceder a esse reencontro de ideias que, sendo diversas, servem o mesmo propósito, que é unir e fortalecer a nossa nação", acrescentou Nyusi.
Ainda no seu discurso, o chefe de Estado cessante pediu a continuação diálogo político em curso entre as formações partidárias visando colocar fim à tensão pós-eleitoral, afirmando que é o caminho para a "segurança, harmonia, ordem e tranquilidade pública".
Nyusi apelou igualmente ao fim dos ataques terroristas que se registam desde 2017 na província de Cabo Delgado, norte do país.
"Fiz a última reunião com as Forças de Defesa e Segurança e tivemos uma boa notícia: estão completamente desarticulados os terroristas, uns abandonaram o país e mais uma vez quero deixar a última palavra: entreguem-se, os moçambicanos não têm ódio permante. Já nos fizeram saber que querem sair mas estão com medo de represálias. Não heverá, podem ir, juntem-se às famílias", disse. Conforme o previsto no programa da cerimónia, a presidente do Constitucional, Lúcia Ribeiro, recebeu os símbolos do poder pelo Presidente cessante, Filipe Nyusi, e poucos minutos depois fez a investidura de Daniel Chapo como novo Presidente da República de Moçambique.
A 23 de dezembro, Daniel Chapo, 48 anos, foi proclamado pelo Conselho Constitucional como vencedor da eleição presidencial, com 65,17 por cento dos votos, nas eleições gerais de 9 de outubro, que incluíram legislativas e para assembleias provinciais, que a Frelimo também venceu.
Formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, em 2000, Daniel Francisco Chapo nasceu em Inhaminga, província de Sofala, centro de Moçambique, a 6 de janeiro de 1977, sendo por isso o primeiro presidente da República nascido já depois da independência do país (1975).
Estiveram presentes três vice-presidentes, nomeadamente da Tanzânia, Maláui e Quénia, bem como os primeiros-ministros de Essuatíni e do Ruanda e oito ministros, incluindo o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel.
A eleição de Daniel Chapo tem sido contestada nas ruas desde outubro, com manifestantes pró-Mondlane -- candidato que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24 por cento dos votos, mas que reclama vitória - em protestos a exigirem a "reposição da verdade eleitoral, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
c/ Lusa