Inundações Líbia. Autoridades receiam que mortos cheguem aos 20 mil

por Inês Moreira Santos - RTP
Mohamed Shalash - EPA

As populações das regiões afetadas pelas inundações na Líbia continuam a procurar os milhares de desaparecidos, estando as equipas de resgate a pedir mais sacos para cadáveres. Na quarta-feira, as autoridades indicavam que o número de mortos ascendia os cinco mil, mas as estimativas apontam para que as vítimas podem chegar até aos 20 mil.

As autoridades locais admitem que há a possibilidade de terem morrido cerca de 20 mil pessoas na sequência das inundações que assolaram o leste da Líbia, no domingo. A informação foi avançada pelo prefeito da cidade de Derna à emissora da TV saudita Al Arabiya, considerando as localidades que ficaram destruídas pelas cheias após o colapso de duas barragens durante a noite de domingo.

Ainda não há confirmação de quantas pessoas estarão ainda desaparecidas nos escombros ou no mar, mas as autoridades receiam ainda o risco de doenças.

Os dois governos rivais da Líbia – o Governo de Unidade Nacional reconhecido internacionalmente e o Governo do Leste da Líbia – têm empreendido esforços para dar resposta à situação que o país enfrenta e apelado à ajuda internacional, que tem aumentado no país nos últimos dias.

Nas regiões mais afetadas estão já equipas de resgate do Egito, da Turquia e do Catar.

“Na verdade, precisamos de equipas especializadas na recuperação de corpos”
, disse o presidente da Câmara de Derna, Abdulmenam al-Ghaithi, à imprensa local. “Temo que a cidade seja infetada por uma epidemia devido ao grande número de corpos sob os escombros e na água.”

Lutfi al-Misrati, responsável pelas equipas locais de resgate, disse à Al Jazeera: “Precisamos de sacos para os corpos”.
"Corpos por todo o lado"
O chefe do Conselho Presidencial – que exerce a função de Chefe de Estado – Mohamed al Manfi, declarou na quarta-feira que se trata de “uma catástrofe que excede as capacidades da Líbia” e insistiu na urgência da ajuda internacional, que começou a chegar progressivamente devido ao difícil acesso a este vale rodeado de montanhas, submerso e isolado, sem eletricidade nem telecomunicações.

A cidade costeira estava até agora inacessível por via terrestre depois de chuvas torrenciais provocarem o colapso de duas barragens, localizadas a poucos quilómetros de áreas habitadas, despejando 33 milhões de litros de água que varreram bairros inteiros e as quatro pontes que atravessam o rio Derna até ao mar.

Já na quarta-feira, o ministro da Aviação Civil afirmou que o “mar está a despejar constantemente dezenas de corpos” e que vários operacionais marítimos continuam a procurar cadáveres ao longo da costa

“Os corpos estão por todo o lado, dentro das casas, nas ruas, no mar. Onde quer que vamos, encontramos homens, mulheres e crianças mortas”, disse Emad al-Falah, um trabalhador humanitário de Benghazi, à Associated Press. "Perderam-se famílias inteiras".

A tempestade mediterrânica Daniel causou inundações mortais em muitas cidades do leste da Líbia, mas a mais atingida foi Derna. Enquanto a tempestade fustigava a costa no domingo, os residentes disseram ter ouvido grandes explosões quando as barragens nos arredores da cidade se desmoronaram.

As águas das cheias aumentaram substancialmente o caudal do Wadi Derna, um rio que corre das montanhas, atravessa a cidade e desagua no mar.

"Derna foi submergida por ondas de sete metros de altura que destruíram tudo no seu caminho. O número de mortos é enorme", disse Yann Fridez, chefe da delegação do Comité Internacional da Cruz Vermelha na Líbia, à emissora France24.

Derna situa-se numa estreita planície costeira no Mediterrâneo, sob montanhas íngremes que percorrem a zona costeira. Apenas duas estradas a partir do sul podem ser utilizadas, e estas implicam um longo e sinuoso percurso através das montanhas.
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