Intervenção policial gera indignação em Espanha e leva a abertura de inquérito

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Alex Vasey - Unsplash

Na noite de sexta-feira, um vídeo de uma detenção policial no bairro de Lavapiés, no centro da capital espanhola, tornou-se viral nas redes sociais. As imagens captadas por um residente mostram agentes da Polícia Nacional a deterem à força dois cidadãos senegaleses, numa intervenção descrita como violenta e desproporcionada por parte dos agentes. Esta ação foi denunciada por organizações antirracistas e partidos políticos de esquerda, que apelaram à abertura de uma investigação.

O Ministério espanhol do Interior abriu esta segunda-feira um inquérito para investigar a alegada violência utilizada durante a detenção de dois homens negros desarmados, na sequência das queixas apresentadas por organizações antirracistas e dos apelos dos partidos de esquerda, nomeadamente o Podemos, Sumar e Más Madrid, que exigiram mais explicações sobre o sucedido.

“Assim até quando? Qual é a justificação para esta ação violenta, o assédio e a violência policial em Lavapiés não têm nome"
escreveu Serigne Mbayé, ativista social e antigo deputado do Unidas Podemos na Assembleia de Madrid, na sua conta da rede social X. "Espero que o Ministério do Interior, a Polícia Nacional e o Provedor de Justiça tomem medidas antes que seja tarde demais", acrescentou.


As imagens do vídeo, que dura pouco mais de um minuto, mostram apenas parte da intervenção em que é possível ver um dos homens deitado no chão e já imobilizado por um agente da polícia, enquanto um segundo agente parece então atingi-lo com um bastão, antes de imobilizar e agarrar um outro migrante que se encontrava nas proximidades.

Segundo fontes policiais, citadas pela imprensa espanhola, uma patrulha deslocou-se ao início da manhã de sexta-feira à praça de Lavapiés depois de ter recebido uma chamada de um supermercado na rua de Valencia, no bairro madrileno de Lavapiés, devido a uma rixa entre quatro indivíduos no exterior, alegadamente por causa de drogas.

De acordo com as mesmas fontes, quando os agentes chegaram ao local, conseguiram separar os quatro indivíduos, mas enquanto dois deles colaboraram com a polícia, outros dois mantiveram uma atitude hostil e violenta com os agentes da polícia.

Após a intervenção da polícia, os dois foram detidos por agressão à autoridade, desobediência e um deles foi acusado de tráfico de droga, por estar na posse de substâncias estupefacientes.
Por fim, um dos agentes ficou ferido e um carro da polícia ficou danificado.
"Não normalizem esta situação"

O vídeo, partilhado pelo ativista Serigne Mbay nas redes sociais, demorou pouco até tornar-se viral e a provocar reações em todo o país, inclusive na esfera política. "Esta violência policial é inaceitável", escreveu a porta-voz do partido Podemos, Isabel Serra, na rede social X. Acusando que " a cumplicidade das instituições" de ser "demasiado comum" e de tratar-se de "racismo".

A porta-voz de Más Madrid, Manuela Bergerot, também reagiu na mesma rede, observando que "Isto é inadmissível. O Ministério do Interior deve tomar medidas"

Já o porta-voz da aliança de esquerda Sumar, Iñigo Errejón, pediu ao ministério do Interior para esclarecer se tinha aberto um inquérito e questionou que medidas iam ser tomadas “perante as queixas dos cidadãos sobre a existência de violência policial”, num documento submetido ao Parlamento. Segundo Iñigo Errejón, “é possível perceber (nas imagens) uma crueldade que não parece responder a um protocolo contido de ação policial”.

Na sequência da indignação causada em todo o país, centenas de pessoas reuniram-se na praça de Lavapiés, no domingo, para manifestaram contra a violência policial e o racismo institucional.

“Esta é uma situação que vivemos diariamente”
, denunciou Serigne Mbayé, apelando ao governo espanhol para fazer mais na luta contra o racismo e no reforço da transparência na polícia. "Estamos a dizer ao governo para tomar medidas, isto não pode continuar", afirmou.

A investigação aberta pelo Ministério Público será conduzida pelo Gabinete Nacional para a Garantia dos Direitos Humanos, o orgão responsável pelo controlo do cumprimento dos direitos fundamentais dos indivíduos durante as ações das Forças de Segurança do Estado e dos Corpos de Intervenção em Espanha, de acordo com o jornal El País.
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