Inquérito britânico sobre morte de Litvinenko aponta para a Rússia

por RTP
Alexander Litvinenko fotografado pouco antes de morrer. Até ao fim o ex-agente do FSB culpou o governo russo pelo seu assassínio DR

Documentos do governo britânico apontam para um envolvimento do Estado russo na morte de Alexander Litvinenko. Litvinenko era um antigo espião russo que morreu há seis anos em Londres, vítima de envenenamento por Polónio-210. A viúva garante que ele trabalhava na altura da sua morte para os serviços secretos da Grã-Bretanha e da Espanha.

As provas foram divulgadas esta quinta-feira em Londres, durante uma audiência judicial destinada a preparar o inquérito à morte de Litvinenko que começará a 1 de maio de 2013.

Durante a audiência em Camden Town Hall, o advogado Hugh Davis que aconselha o juiz instrutor do inquérito Robert Owen, disse que os documentos oficiais mostram que o envolvimento oficial de Moscovo na morte de Litvinenko era evidente.

De acordo com Hugh Davis, a avaliação do material confidencial do governo “estabelece um caso prima facie quando à culpabilidade do Estado russo na morte de Alexandre Litvinenko”.

Desde a primeira hora que as suspeitas sobre a morte de Litvinenko apontavam para a pista russa, fosse para elementos da mafia local, fosse para um envolvimento da agência de espionagem FSB, sucessora do KGB soviético, a que a vítima pertencera no passado.
Chávena de chá fatal
Alexandre Litvinenko morreu em novembro de 2006 na capital britânica depois de ter ingerido o elemento radiativo e tóxico polónio-210, que terá, alegadamente, sido ministrado numa chávena de chá durante uma reunião com os ex-contactos do KGB Andrei Lugovoy e Dmitry Kovtun.
O polónio-210 e a morte suspeita de Yasser Arafat
O elemento que utilizado para assassinar Litvineko, é uma das substancias que se suspeita poderem ter causado a morte do líder palestiniano Yasser Arafat que morreu em novembro de 2004 num hospital do sudoeste de Paris devido a causas nunca inteiramente explicadas.

Neste momento decorre uma investigação em França a pedido da família de Arafat que invoca a presença detetada de altos níveis de polónio nos pertences do falecido do antes e depois da sua morte.

Estão a ser realizadas análises a amostras retiradas do corpo do histórico líder da Palestina que foi especialmente exumado para esse efeito e os resultados deverão ser conhecidos em breve.

Moscovo negou qualquer envolvimento na morte do seu ex-agente, mas recusou-se a extraditar para o Reino Unido os dois russos, incluindo o principal suspeito da morte, Andrei Lugovoy .

O próprio Litvinenko, pouco antes de morrer, acusou diretamente o Kremlin e, especificamente, o presidente Vladimir Putin pela sua morte anunciada. Desde 2006 que a família do ex-agente tem vindo a exigir que as autoridades russas sejam responsabilizadas.

O governo russo já indicou que quer tornar-se assistente no inquérito, o que permitiria a Moscovo enviar representantes do Estado para examinar as provas e contrainterrogar as testemunhas.

Nos comentários que fez durante a audiência preliminar, o assistente do juiz instrutor indicou que as provas documentais não indicam que a Grã-Bretanha tenha estado envolvida na morte ou que não tenha tomado as medidas necessárias para o proteger.

Hugh Davies disse que os documentos também excluem um envolvimento de outras partes, como o milionário russo exilado Boris Berezovsky , inimigo do Kremlin e amigo da vítima, e de grupos ligados à Tchetchénia, bem como da máfia espanhola.

Presente nesta audiência esteve também o advogado Ben Emmerson que representa a viúva do ex-agente russo, Marina, que defendeu que o inquérito deve também analisar se os serviços secretos britânicos falharam no seu dever de proteger a vítima contra “um risco real e imediato contra a sua vida”.
O MI6 falhou ?
Segundo a viúva, Litvinenko era à data da morte “um agente registado e pago” dos serviços britânicos de espionagem no exterior. Ben Emmerson revelou também que, além de trabalhar há vários anos para o MI6, a vítima também estava a trabalhar para os serviços secretos espanhóis, numa investigação sobre a máfia russa, pouco antes de morrer.

O advogado que representa o ministério do Interior, Neil Garnham , disse ao juiz que não pode “confirmar ou desmentir “ que Litvinenko estivesse a soldo dos serviços de inteligência do Reino Unido.

Por seu lado, o advogado da viúva apresentou provas de pagamentos que foram feitos pelos serviços secretos britânicos e espanhóis para uma conta bancária conjunta que o malogrado agente tinha com a sua mulher.
Uma história de “007” com um final trágico
Ben Emmerson disse que Litvinenko tinha um agente de contacto do MI6 que lhe fora destacado, identificado por “Martin” , com quem se encontrara a 31 de outubro de 2006, poucos dias antes se ter sido envenenado com polónio-210 no hotel Millenium, no centro de Londres.

O mesmo advogado acrescentou que o MI6 e o governo britânico tinham “o dever acrescido” de garantir a segurança do ex-agente russo por lhe terem atribuído “operações perigosas que envolviam agentes estrangeiros”.

Emmerson também confirmou que Litvinenko se devia deslocar à Espanha com o suspeito Andrei Lugovoy, no âmbito do seu trabalho que consistia em ajudar os procuradores espanhóis a compreender o papel da máfia russa.

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