Inquérito. Apoio ao Brexit caiu a pique nos 27 e portugueses estão mais emocionalmente ligados à UE
Desde que, a 31 de janeiro de 2020, o Reino Unido deixou oficialmente a União Europeia no culminar do processo do Brexit, o apoio à saída dos britânicos caiu significativamente entre as populações dos 27 Estados-membros. A conclusão é de um inquérito sociológico realizado em 30 países europeus e liderado pela Universidade de Londres, no qual foi também revelado que a ligação emocional dos portugueses com a UE aumentou nos últimos seis anos.
A maior queda no apoio ao Brexit registou-se na Finlândia. Em 2016, 28,6% dos inquiridos finlandeses disseram que votariam a favor da saída do Reino Unido caso houvesse um referendo. Em 2022, apenas 15,4% deram essa resposta – uma queda de 13,2 pontos percentuais (p.p.).
Quedas semelhantes foram registadas nos Países Baixos (onde a votação diminuiu 9,5 p.p.), em Portugal (9,1), Áustria (8,5) e França (8,3). Segue-se a Hungria, com uma queda de 5,8 p.p., a Espanha e Suécia com 4,6, e a Alemanha com 2,6.
As nações que mantêm elevada percentagem de apoio ao Brexit são a Chéquia (com 29,2% dos inquiridos a dizer que votariam positivamente num referendo), a Itália (com 20,1%) e a Suécia (19,3%). Ainda assim, as percentagens nesses países são inferiores às de há seis anos, tendo caído 4,5 p.p., 9,1 p.p. e 4,6 p.p., respetivamente.
Portugueses mais emocionalmente ligados à UE
Na Finlândia, o nível de ligação emocional da população com a Europa subiu de 46% para 58,7% nesse período de seis anos, enquanto na Hungria aumentou de 60% para 70,3%. Em Itália também é notável a diferença, passando de 37,2% para 44,3%, assim como na França, dos 44 para os 48,8%.O European Social Survey é um inquérito académico transnacional, realizado de dois em dois anos por toda a Europa desde 2001.
Foi também perguntado aos inquiridos se defendiam a continuidade do seu país na União Europeia. As respostas positivas aumentaram em todos os Estados-membros, tendo a percentagem mais alta sido registada em Espanha (95,3%) e a mais baixa na Chéquia (70,8%).
Um outro inquérito, conduzido pela organização norte-americana Pew Research Center na primavera passada em dez Estados-membros, concluiu por sua vez que grandes maiorias em quase todos esses países tinham uma opinião favorável da UE, com uma média de 72% a vê-lo de forma positiva, em comparação com os 26% de pessoas com opinião negativa sobre o bloco.
Crise política no Reino Unido pode explicar resultados
O intervalo entre o European Social Survey de 2016 e o de 2022 cobre não só o tumultuoso processo de saída do Reino Unido da União Europeia – alvo de longas e tensas negociações -, como também a mais recente agitação no cenário político britânico, em simultâneo com a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia.
Em julho do ano passado, o então primeiro-ministro Boris Johnson acabou por se demitir na sequência de uma série de polémicas que levaram à saída de mais de 50 membros do seu Governo.
Entre os escândalos esteve aquele conhecido por “Partygate”, envolvendo a realização de convívios e festas no número 10 de Downing Street durante o período de confinamento pandémico.
Em setembro, a sua sucessora Liz Truss tornou-se a primeira-ministra com o mandato mais curto na história do Reino Unido, ao demitir-se passado 44 dias e no meio de uma crise económica. Truss reconheceu então que tinha ido “demasiado longe e demasiado rápido” com as suas reformas no setor da economia.
Chegou então ao poder Rishi Sunak, que se mantém, até ao momento, na chefia do Governo britânico.
Mathieu Gallard, diretor de investigação na empresa de estudos de mercado Ipsos, que conduz com frequência sondagens de opinião na União Europeia, vê os resultados do mais recente European Social Survey como reflexo de “um verdadeiro colapso” no apoio ao Brexit.
“Parece o resultado do efeito cumulativo que combina a atitude da UE em relação às várias crises dos últimos anos, a moderação da direita radical sobre o tema [da saída da União Europeia] e as muitas diversidades do Brexit”, defendeu em declarações ao Guardian.