"Injustiça secular". Deputado italiano quer que filhos tenham apenas apelido materno
Dario Franceschini, senador do Partido Democrático italiano, propôs que os bebés nascidos no país passem a receber apenas o apelido da mãe, considerando esta mudança "uma compensação por uma injustiça secular" que diz ter sido "uma das fontes culturais e sociais das desigualdades de género".
Em 2022, o Tribunal Constitucional italiano determinou que a prática de atribuir automaticamente aos recém-nascidos o apelido do pai em último lugar era “discriminatória e prejudicial à identidade da criança”.
Por essa razão, a Justiça decidiu que os apelidos materno e paterno deveriam ser dados pela ordem de preferência dos progenitores, a menos que ambos concordassem em dar apenas um dos apelidos ao filho.
Agora, Franceschini, que já foi ministro da Cultura, quer ir ainda mais longe, deixando cair totalmente o apelido paterno.
A oposição não demorou a contestar a ideia do democrata, começando por Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita Lega. “Eis as grandes prioridades da esquerda italiana”, escreveu nas redes sociais.
“Em vez do sistema de duplo apelido, querem tirar às crianças o apelido do pai! Claro, vamos apagar os pais da face da Terra, assim resolvemos todos os problemas. Onde é que vão buscar estas ideias geniais?”, questionou Salvini.
Ecco le grandi priorità della sinistra italiana: invece del doppio cognome, togliere ai bimbi il cognome del padre! Ma certo, cancelliamoli dalla faccia della terra questi papà, così risolviamo tutti i problemi… Ma dove le pensano ste idee geniali?😱🤣 pic.twitter.com/lLFhRgBZDh
— Matteo Salvini (@matteosalvinimi) March 25, 2025
Em resposta, a eurodeputada do Partido Democrático Annalisa Corrado afirmou que “para Salvini, dar aos filhos o apelido da mãe significa apagar os pais da face da Terra”, portanto “ele admite que, durante séculos, as mulheres foram sistematicamente apagadas da história e da memória formal das suas famílias”.
Já a senadora do italiano Movimento 5 Estrelas (M5S), Alessandra Maiorino, disse ter “saltado da cadeira” quando soube da intenção de Dario Franceschini.
“Interpreto a sua proposta como uma provocação”, declarou. “Até porque não se combate uma discriminação, por mais antiga que seja, com outra discriminação”.
Para Federico Mollicone, do partido da primeira-ministra Giorgia Meloni, a proposta representa uma mudança “do patriarcado para o matriarcado”, pelo que as crianças devem continuar a receber os dois apelidos.
Cesare Mirabelli, presidente emérito do Tribunal Constitucional, disse acreditar que o projeto de lei de Franceschini “será criticável e impugnável por inconstitucionalidade, pois introduz uma desigualdade”.
c/ agências