A Amnistia Internacional condenou a polícia da Indonésia por ter abatido pelo menos 77 pessoas, numa operação que pretende diminuir a criminalidade do país antes dos Jogos Asiáticos. O evento começa neste sábado.
A operação, denominada de Cipta Kondisi (Operação de Segurança Pública), pretende “tomar ações firmes” contra todos os suspeitos que constituam uma ameaça pública. Desta forma, os polícias têm ordens para disparar sobre qualquer pessoa que resista a uma detenção ou a ataques das autoridades.
Seguindo estas indicações, o número de mortes de “pequenos criminosos” atribuídas a agentes policiais entre estes meses aumentou 64 por cento, tendo em conta os valores do ano passado. De acordo com a Amnistia Internacional, verificou-se um pico entre os dias 3 e 12 de julho.
Nessa altura foram mortas três pessoas em Sumatra do Sul. Em Jacarta, o número de mortos chegou aos 11, para além de se terem baleado 41 pessoas nas pernas. Das cinco mil pessoas que se prenderam nesses dias, 700 foram acusadas de ofensa criminal.
Apesar destas ações terem sido alvo de críticas, o diretor da Polícia Nacional da Indonésia manteve-se inabalável na decisão de continuar com o programa. “Se eles lutam contra as autoridades durante uma detenção não tenham dúvidas, matem-nos”, afirmou a 30 de julho.
“Disparar primeiro, perguntar depois”
Está prevista a participação de 12 mil atletas na 18ª edição dos Jogos Asiáticos, o maior evento multidesportivo para além dos Jogos Olímpicos. Com o evento a decorrer deste sábado até ao dia 2 de setembro, a Indonésia empregou 100 mil polícias para manter a segurança.
Esta operação, no entanto, não era o que a Amnistia Internacional esperava. A organização acusou a polícia de “disparar primeiro e fazer as perguntas depois”.
“Nos meses que antecederam os Jogos Asiáticos, as autoridades prometeram melhorar a segurança para todos. Em vez disso, vemos a polícia matar dezenas de pessoas ao longo do país sem ser responsabilizada por essas mortes”, afirmou Usman Hamid, diretor executivo da Amnistia Internacional da Indonésia.
A organização Human Rights Watch também já se manifestou sobre a ação policial na Indonésia, defendendo que esta vai contra o espírito do evento desportivo.
“Os Jogos Asiáticos pretendem celebrar a conquista humana, não providenciar um pretexto para uma política policial de disparar para matar em nome do controlo criminal”, defendeu Phelim Kine, vice-diretor na divisão asiática da Human Rights Watch.
Como é explicado pelo diário britânico The Guardian, nos últimos dois anos vários responsáveis pelas forças de segurança indonésias têm elogiado a política de mão de ferro do Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, contra o tráfico de droga no seu país.
Em julho do ano passado, o chefe da polícia nacional sugeriu que o combate às drogas nas Filipinas era um exemplo eficaz de como lidar com traficantes. “Pela prática no terreno constatamos que, quando matamos um traficante de droga, os outros vão-se embora”, declarou.
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