"Independência espiritual". Ucrânia aprova proibição da Igreja Ortodoxa Russa no país
O Parlamento da Ucrânia aprovou um decreto-lei a banir quaisquer atividades da Igreja Ortodoxa Russa em território ucraniano. O texto foi votado favoravelmente esta terça-feira por 265 deputados. O mínimo requerido era 226.
"Não vai existir nenhuma Igreja de Moscovo na Ucrânia", reagiu também, na rede Telegram, o chefe de gabinete do presidente ucraniano, Andriy Yermak.
A deputada da oposição, Iryna Gerashchenko, aplaudiu o resultado. "Decisão histórica! O Parlamento votou um projeto-lei que proibe uma filial do país agressor na Ucrânia", escreveu. "Esta é uma questão de segurança nacional, não de religião", acrescentou no Telegram.
Em Moscovo, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, acusou a Ucrânia de tentar "destruir a ortodoxia canónica e verdadeira e colocar em seu lugar uma substituta, uma igreja falsa".
O patriarcado de Moscovo denunciou um "ato ilegal" que viola os "Direitos Humanos".
O fim de três séculos de influência
Depois a invasão russa em fevereiro de 2022, abertamente apoiada pelo patriarca russo Kirill, o destino da IOU ficou selado, apesar deste ramo do patriaracado moscovita na Ucrânia ter meses depois repudiado todos os laços.
As autoridades ucranianas nunca acreditaram no desaparecimento da influência russa, tendo multiplicado ações judiciais contra a Igreja. De acordo com os Serviços de Segurança ucranianos, SBU, mais de 100 sacerdotes da IOU foram visados por alegações penais desde 2022, tendo 26 sido condenados em tribunal.
Os fiéis remanescentes não se conformam. Svetlana, de 56 anos, foi entrevistada pela Agência France Presse enquanto rezava com um grupo frente ao célebre Mosteiro das Cavernas de Kiev, antiga sede da Igreja Ortodoxa Ucraniana.
"Fui batizada e casei-me nesta Igreja", lamentou, inquieta com o seu encerramento. "As pessoas continuarão a rezar nas ruas, iremos instalar tendas".
Igor, um músico de 21 anos, representa outra geração e outra mentalidade. "Apoio totalmente esta proibição", afirmou, acusando a IOU de constituir na verdade "um serviço especial do Kremlin".