"Incrivelmente preocupante". Detetada primeira fuga de metano no fundo marinho da Antártida
Cientistas detetaram a primeira fuga de metano no fundo oceânico da Antártida. Estima-se que várias quantidades deste gás com grande impacto nas alterações climáticas estejam armazenadas no fundo do mar e a sua libertação para a atmosfera poderá conduzir a uma situação “incrivelmente preocupante”.
Os especialistas descobriram agora que os micróbios que se encontram no fundo oceânico e que normalmente consomem o metano antes de este ser libertado para a atmosfera apareceram apenas passados cinco anos e em pequeno número, permitindo que o gás escapasse.
“Existe uma grande quantidade de metano dentro do permafrost, o que significa que pode induzir um efeito de que mesmo que deixássemos de emitir gases de efeito de estufa, o sistema natural, através do permafrost, pode começar a libertar metano e continuar a acelerar o próprio aquecimento global”, explicou à RTP Carlos Antunes, professor de Engenharia Geoespacial da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).
“Incrivelmente preocupante”
"O ciclo do metano é absolutamente algo com o qual nós, como sociedade, precisamos de nos preocupar", disse Thurber. "Acho incrivelmente preocupante", acrescentou o líder da pesquisa.
A pesquisa, publicada na revista Proceedings of Royal Society B, relata a descoberta de uma infiltração de metano a dez metros de profundidade de um local conhecido por Cinder Cones, em McMurdo Sound.
Na maioria dos oceanos, os micróbios consomem entre 70 a 90 por cento do metano libertado a partir do leito marinho. Mas o lento crescimento de micróbios em Cinder Cones e a sua pouca profundidade significa que o metano está, certamente, a ser libertado para a atmosfera.
O especialista diz, no entanto, que a boa notícia é que esta nova fuga de metano constitui um laboratório natural para futuras pesquisas. Tal como explica Jemma Wadham, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, “a Antártida e a sua camada de gelo são enormes buracos negros na nossa compreensão do ciclo de metano da Terra – são lugares difíceis de se trabalhar”.
"Acreditamos que é provável que haja metano significativo sob a camada de gelo", disse Wadham. "A grande questão é: qual é a proporção do atraso [de formação dos micróbios que consomem metano] em comparação com a velocidade com que as novas fugas de metano podem formar-se no rescaldo do degelo?", questionou.