Ao lado de cinco urnas de carvalho, os arqueólogos do Museu Arqueológico de Londres - MOLA, fizeram uma descoberta “rara” e “excecionalmente importante”: uma cama funerária completa em “madeira de carvalho de alta qualidade”, que representa a primeira descoberta deste género, até agora, em solo britânico.
O mobiliário funerário encontra-se “muito bem preservado, apresenta os pés esculpidos e juntas fixadas com pequenas estacas de madeira” descreve o MOLA.
“Esta é uma peça de marcenaria incrivelmente bem feita.
É uma das peças de mobiliário mais sofisticadas recuperadas do tempo dos romanos, na Grã-Bretanha” afirma Michael Marshall, arqueólogo do MOLA.
Cama funerária romana - MOLA
A cama foi desmontada antes de ser colocada na sepultura de um homem adulto que teria entre 20 a 30 anos. “É quase certo que era uma pessoa de alto status”, descreve Marshall.
“O leito foi cuidadosamente desmontado e guardado, quase como se fosse uma mobília para uso na vida que viria a seguir”, isto porque, os romanos acreditavam na vida depois da morte, explica ainda o arqueólogo.
A coordenadora do projeto, Heather Knight, argumenta: “Sabemos que os romanos enterravam os seus mortos à beira das estradas, fora dos centros urbanos. Assim, não foi grande surpresa descobrir sepulturas neste local, que durante o período romano estaria localizado a 170 metros a oeste das muralhas da cidade e próximo à principal estrada romana de Watling Street. No entanto, os níveis de preservação que encontramos – e particularmente a descoberta de uma vasta gama de achados de madeira – realmente surpreenderam-nos”.
Estudadas as peças encontradas, os arqueólogos apresentam a recosntituilão econstituição do leito em madeira - MOLA
Embora a área cemiterial da Londres Romana, em redor deste achado, já estivesse identificada desde 1990,
“a cama foi uma surpresa completa, porque nunca vimos nada parecido antes”, vinca Marshall.
A cama pode ter sido usada para transportar o indivíduo até à sepultura. “Não sabíamos que as pessoas eram enterradas neste tipo de leitos funerários romanos. Isso é algo para o qual não há evidências anteriores na Grã-Bretanha”, sublinha.
No mundo romano, existem relatos de indivíduos a serem transportadas em camas durante as procissões fúnebres, assim como também há representações em lápides, mas como os materiais perecíveis não se conservam, não é habitual encontrar-se em sítios arqueológicos.
“Os móveis romanos de madeira só sobrevivem em circunstâncias excepcionais” enfatizou Michael Marshall.
E no caso os restos de madeira da era romana na Grã-Bretanha – 43 / 410 d.C - "raramente sobrevivem até aos dias de hoje".
Porém, como o cemitério, a seis metros de profundidade relativamente ao solo atual de Londres, fica ao lado do Rio Fleet, agora subterrâneo, as urnas e os restantes materiais em madeira acabaram por permanecer bem preservadas, mergulhadas no terreno húmido, como a lama e lodo.
Lucerna com decoração de um gladiador derrotado
Na necrópole romana, perto dos restos mortais, foram encontrados objetos pessoais que acompanhariam os defuntos. Entre joias com contas de âmbar e azeviche e um frasco de vidro aparentemente ainda contendo resíduos, foi recuperado uma lucerna decorada com uma representação de um gladiador derrotado, “o que é uma coisa maravilhosa”, disse Marshall.
“Há algo no simbolismo do gladiador caído que faz sentido num contexto funerário. Um gladiador derrotado é alguém que está a morrer, obviamente – mas também a lutar contra a morte”, acrescenta. O arqueólogo acredita que esta lucerna se enquadra no período mais antigo da ocupação romana, que data entre 43 e 80 d.C.
Lucerna romana, frasco de vidro e contas de um enterro de cremação - MOLA
“Portanto, estão a começar a surgir, a partir da análise desses enterros, evidências de que algumas escolhas, por vezes subtis, sobre como as pessoas lamentavam e enterravam os seus mortos", remata Marshall.
Os trabalhos arqueológicos acontecem previamente às obras que irão transformar o local junto ao viaduto Holborn num espaço de escritórios de uma empresa de advogados Hogan Lovells. Penny Angell, sócia-gerente da empresa no Reino Unido, diz estar “fascinada em saber que faz parte desta descoberta arqueológica” e acrescenta
estar prevista uma área de exposição dos artefactos que representam as vidas passadas desse local histórico.
Escavação das urnas romanas de madeira - MOLA
A investigação feita pelo MOLA permite não só recuperar materiais escondidos no lodo há pelo menos dois mil anos, como também registar com dados georreferênciados todas as evidências para a reconstituição do sítio arqueológico romano.