A imprensa europeia destaca hoje as declarações polémicas do papa Bento XVI, na visita ao campo de Auschwitz, considerando que o chefe da igreja católica tentou isentar os alemães de responsabilidades no Holocausto.
"Bento XVI isenta o povo alemão de responsabilidades nos crimes nazis", titula o diário liberal El Mundo, que publica hoje em primeira página uma fotografia do Papa a entrar no campo nazi de Auschwitz-Birkenau.
O jornal cita o Sumo Pontífice, referindo que "no fim, Bento XVI lançou-se numa espécie de absolvição da responsabilidade colectiva do povo alemão nos crimes cometidos pelos nazis, numa passagem que vai, sem qualquer dúvida, criar polémica, sobretudo na sua Alemanha natal (...)".
Numa outra passagem - adianta o jornal - Ratzinger interpretou os crimes da Alemanha de Hitler contra os judeus como "um ataque também contra o cristianismo".
O El Pais (centro-esquerda) refere que "Ratzinger, que integrou o exército alemão no final da guerra, proferiu palavras de compreensão para com os seus compatriotas, apenas culpados de terem permitido a chegada ao poder do Partido nacional-socialista".
O jornal salienta que, em vez de pedir perdão, Bento XVI implorou para que seja acordada a consciência divina no ser humano.
O diário democrata-cristão catalão La Vanguardia refere, em editorial, que "o facto de o seu discurso ter isentado o povo alemão de quase toda a responsabilidade colectiva e de a atribuir exclusivamente aos nazis, que qualifica de grupo de criminosos que abusaram de cidadãos está a começar a gerar polémica".
O ABC (direita católica monárquica) elogia o Papa, referindo que "evitou acusar a Alemanha como nação (...)".
Também o diário francês Liberation (esquerda) considera que as palavras proferidas por Bento XVI em Auschwitz suscitaram "um certo mal-estar".
O jornal adianta que "a comunicação social alemã foi de uma discrição espantosa".
Em Itália, a imprensa considera que as palavras de Bento XVI provocaram a reprovação da comunidade judaica italiana.
O presidente da União da Comunidade judaica italiana, Claudio Morpugo, disse ter ficado "perplexo" com o discurso, que considerou de "algo redutor" do nazismo e da Shoah (extermínio dos judeus).
Segundo a imprensa, os dirigentes judaicos dão crédito ao Papa por ter efectuado em Auschwitz "um gesto de um grande valor simbólico" num "momento histórico no caminho para a reconciliação".
Mas, ao mesmo tempo, exprimem "desilusão" face a alguns temas abordados pelo Papa no final da sua intervenção no campo de extermínio.
Para a imprensa alemã, a visita histórica de Bento XVI contribuiu para uma melhoria das relações entre a Alemanha e a Polónia.
Para o jornal de grande tiragem Bild-Zeitung a vista de Bento XVI a Auschwitz constitui "um momento inesquecível da história da humanidade".
O diário Tagesspiegel refere que Bento XVI foi o Papa que "quebrou o gelo" entre alemães e polacos.
Vários jornais publicam todo, ou excertos, do discurso do Papa, bem como a fotografia do Sumo Pontífice a entrar em Auschwitz.
A imprensa polaca saúda hoje Bento XVI, "um Papa que se tornou polaco", através do "milagre da reconciliação" polaco-alemã ocorrido na sua viagem de quatro dias ao país de João Paulo II.
"A língua alemã deixa de ser para nós a do antigo ocupante.
Tornou-se (na língua) do Papa", lê-se no diário de Varsóvia Zycie Warszawy.
O diário Superexpress consagrou à visita do Sumo Pontífice um suplemento, titulando: "Bento, ou o Papa que se tornou polaco".