Imprensa chinesa minimiza gravidade da covid-19

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

A China é o atual epicentro da covid-19, a nível mundial, considerando o aumento de casos das últimas semanas. E depois de semanas de protestos violentos e muita contestação por parte da população por causa das medidas muito restritivas, o Governo decidiu pôr fim gradualmente à política "zero covid". Esta terça-feira, o jornal oficial do Partido Comunista da China relativizou a doença e afirmou que a maioria dos casos é leve, horas antes de uma reunião da Organização Mundial da Saúde para avaliar a evolução da pandemia.

Ao fim de quase três anos, as autoridades chinesas decidiram pôr fim à política “zero covid”, em dezembro, antes de uma onda inédita de infeções no país, que está a provocar muita pressão nos hospitais, embora a Comissão Nacional de Saúde garanta que “fez os preparativos” para o alívio das restrições. Contudo, a OMS admitiu já estar “muito preocupada” com a evolução da doença na China e exigiu “mais informação”.

Esta terça-feira, o People’s Daily citou especialistas chineses que dizem que a doença provocada pelo SARS-CoV-2 é relativamente leve para a maioria dos infetados.

Doença grave e muito grave representa três a quatro por cento dos pacientes infetados atualmente internados em hospitais”, afirmou ao jornal Tong Zhaohui, vice-presidente do Hospital Chaoyang de Pequim.

Também o chefe do Hospital Tianfu da China Ocidental, Kang Yan, é citado na publicação a referir que, nas últimas três semanas, foram internados 46 doentes em cuidados intensivas – o que representa um por cento das infeções sintomáticas.
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Todavia, esta vaga de casos deve ser exacerbada pelo feriado do Ano Novo Lunar, que se celebra na última semana de janeiro - a principal festa das famílias chinesas, equivalente ao natal nos países ocidentais, regista, tradicionalmente, a maior migração interna do planeta, com centenas de milhões de chineses a regressarem à terra natal.
OMS quer informações "detalhadas"
A Organização Mundial da Saúde instou as autoridades de saúde chinesas a partilhar regularmente informações específicas e em tempo real sobre o surto, incluindo número de novos casos, internamentos e mortes. Além disso, pediu aos especialistas que apresentassem dados sobre o sequeciamento viral numa reunião, esta terça-feira. Antes dessa reunião, agendada para esta tarde, um porta-voz da OMS, citado pela Reuters, disse que se previa uma "discussão detalhada" sobre as variantes circulantes na China e no mundo

Também as autoridades de saúde da União Europeia vão reunir, na quarta-feira, para uma resposta coordenada. O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês) reforçou a monitorização face ao aumento de casos de covid-19 na China e pondera rever o risco e ajustar medidas, se necessário.

O ECDC indica na sua página oficial que, juntamente com os Estados-membros da União Europeia e a Comissão Europeia, aumentou as suas atividades de acompanhamento após o número de casos de covid-19 ter atingido um nível recorde na China continental, com um pico a 2 de dezembro de 2022. O centro refere ainda que está a trabalhar em estreita colaboração com a OMS, sublinhando estar em contacto regular com o Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças (China CDC) e com os principais CDC a nível mundial.

Mas de acordo com o centro europeu, continua a haver falta de dados fiáveis sobre os casos de covid-19, internamentos, mortes e a ocupação nas unidades de cuidados intensivos na China.

"Nas próximas semanas, são esperados níveis elevados de infeções por SARS-CoV-2 e uma maior pressão sobre os serviços de saúde na China, devido à baixa imunidade da população e ao relaxamento das intervenções não farmacêuticas", refere o organismo, esta terça-feira.

Entretanto, alguns países impuseram testes à covid-19 a todos os viajantes que cheguem da China, de forma a controlar e evitar uma nova vaga. Medida que o Governo chinês condenou, alertando que o país pode tomar medidas em retaliação.

"Alguns países estabeleceram restrições de entrada que visam apenas viajantes chineses. Isso não tem base científica e algumas práticas são inaceitáveis", disse a porta-voz do Ministério das dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, acrescentando que a China pode tomar "medidas recíprocas".

"Estamos dispostos a melhorar a comunicação com o mundo", acrescentou ainda. "Mas opomo-nos a tentativas de manipulação das medidas de prevenção e controlo da epidemia para fins políticos e tomaremos as medidas correspondentes em diferentes situações de acordo com o princípio da reciprocidade".

Recorde-se que a China mantém as suas fronteiras encerradas para estrangeiros desde 2020. O país não emite vistos para turistas há quase três anos e impõe quarentena obrigatória à chegada no seu território. Estas medidas de isolamento serão levantadas a 08 de janeiro, mas continuará a ser necessário um teste de rastreio de menos de 48 horas antes da chegada ao território chinês.
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