"Importância crítica". Guterres e Zelensky pedem prolongamento de acordo para exportação de cereais

por Joana Raposo Santos - RTP
Guterres lembrou que os cereais e fertilizantes da Ucrânia e da Rússia "são essenciais para a segurança alimentar global". Alina Yarysh - Reuters

De visita a Kiev esta quarta-feira, António Guterres juntou-se ao presidente Volodymyr Zelensky num apelo à extensão do acordo com a Rússia para a exportação de cereais através do Mar Negro. O pedido chega depois de Moscovo ter ameaçado bloquear a renovação do documento caso não sejam retirados os obstáculos às suas próprias exportações agrícolas.

Quero sublinhar a importância crítica de prolongar a Iniciativa dos Cereais do Mar Negro a 18 de março e de trabalhar para criar as condições que permitam o maior uso possível das infraestruturas de exportações através do Mar Negro, em linha com os objetivos da iniciativa”, declarou o secretário-geral das Nações Unidas.

Este acordo de 120 dias, mediado pela ONU e pela Turquia em julho do ano passado e prolongado em novembro, será automaticamente renovado se nenhuma das partes se opuser.

“O acordo ajudou a reduzir o custo global dos alimentos e a fornecer assistência crucial a todas as pessoas que também estão a pagar um preço elevado pela guerra, especialmente nos países em desenvolvimento”, frisou Guterres.

O secretário-geral da ONU lembrou ainda que os cereais e fertilizantes da Ucrânia e da Rússia “são essenciais para a segurança alimentar global” numa altura de inflação generalizada.

Também o presidente ucraniano considerou a Iniciativa dos Cereais do Mar Negro “criticamente necessária para o mundo inteiro”.

Tanto a Rússia como a Ucrânia são dos maiores fornecedores de cereais e fertilizantes globais. Desde que o acordo mediado pela ONU e Turquia foi adotado, Kiev já exportou mais de 23 milhões de toneladas sobretudo de milho e trigo. Os principais destinos destes cereais foram a China, Espanha, Turquia, Itália e Países Baixos.
Exigências da Rússia podem pôr acordo em causa
Uma fonte diplomática russa transmitiu esta quarta-feira à agência Reuters que ainda não foi dada resposta às exigências da Rússia e garantiu que Ancara está a “trabalhar arduamente” para garantir que o acordo de exportação de cereais se mantém em vigor.

“As preocupações da Rússia, ou melhor, as dificuldades que ela enfrenta, ainda não foram ultrapassadas. Mas a Turquia está a fazer a sua parte para alcançar um acordo entre todas as partes”, afirmou.

Moscovo também já insistiu que os obstáculos às suas próprias exportações agrícolas têm de ser removidos para que permita a continuidade do acordo sobre os cereais ucranianos.

Em julho do ano passado, quando a iniciativa da ONU e Turquia entrou em vigor, a Rússia suspendeu o bloqueio que tinha imposto em três portos ucranianos no Mar Negro.

Na altura, para ajudar a convencer o Kremlin a aprovar a Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, a ONU chegou a um acordo de três anos com Moscovo para facilitar as exportações de alimentos e fertilizantes.

Apesar de estes bens não estarem sujeitos às sanções impostas pelo Ocidente à Rússia, esta diz que as restrições aos pagamentos que efetua, assim como à logística, são uma “barreira” às suas exportações.
Resolução em marcha para “restituir a justiça”
Volodymyr Zelensky disse ter também discutido com António Guterres esta quarta-feira questões de segurança, nomeadamente na central nuclear de Zaporizhia, atualmente ocupada pelas forças russas.

Neste sentido, o representante das Nações Unidas considerou “vital” a segurança em torno da central e assegurou que a ONU está a tentar ajudar, pressionando as duas partes para estabelecerem uma “zona segura” desmilitarizada em redor da infraestrutura.

O líder ucraniano pediu, por sua vez, a criação de “um tribunal especial para conseguir repor a justiça”. “Estamos a preparar uma resolução que pode ajudar a restituir essa justiça. Todos os que nos fizeram mal têm de ser castigados”, declarou Zelensky.

“Também falámos das crianças ucranianas que foram raptadas pelos russos e que temos de salvar e devolvê-las ao nosso país”, avançou.

Já António Guterres voltou a considerar a invasão russa da Ucrânia “uma violação da Carta da ONU e do direito internacional”.

“A soberania, independência, unidade e integridade territorial da Ucrânia têm de ser defendidas dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas”, acrescentou.

c/ agências
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