Em 2024, de acordo com o Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW Kiel), o montante que a União Europeis atribuiu à Ucrânia em ajuda financeira foi de 18,7 mil milhões de euros.
Ao mesmo tempo, o bloco europeu comprou combustíveis fósseis russos - petróleo e gás – no valor de 21,9 mil milhões de euros, no ano passado, diz relatório do Centro de Pesquisa sobre Energia e Ar Limpo (Crea).
“A compra de combustíveis fósseis russos é, claramente, semelhante a enviar ajuda financeira ao Kremlin e permitir sua invasão. É uma prática que deve parar imediatamente para garantir não apenas o futuro da Ucrânia, mas também a segurança energética da Europa”, adverte Vaibhav Raghunandan, analista da Crea e co-autor do relatório.No ano de 2024, a UE gastou 39 por cento mais em importações de combustíveis fósseis da Rússia do que no valor alocado para a ajuda à Ucrânia. Note-se que nesta contribuição a Kiev não está incluido contribuições militares ou humanitárias.
Ouvido pelo jornal britânico The Guardian, Christoph Trebesch, economista da IfW Kiel, que não esteve envolvido no estudo, afirmou que “existe uma diferença impressionante entre quanto os doadores de ajuda tinham se mobilizado para a Ucrânia em comparação com as guerras passadas, onde doadores europeus gastaram muito mais, correspondendo em média, a perto de 0,1 por cento do PIB por ano”.
E acrescenta: “Muitos países foram mais generosos em conflitos passados. A Alemanha, por exemplo, mobilizou muito mais ajuda, mais rapidamente para a libertação do Kuwait em 1990/91 do que para a Ucrânia num período de tempo comparável”.
O
relatório aponta que a Rússia ganhou 242 mil milhões de euros das exportações globais de combustíveis fósseis.
A análisa da Crea identifica ainda as receitas que caíram nos cofres de Moscovo desde o início da guerra “agora aproximando-se do valor de biliões de euros” ao mesmo tempo que a Rússia se adapta às sanções.
Frota-sombra
Mesmo com a quantidade de restrições e sanções económicas, a Rússia garante pelo menos até metade de receitas fiscais proveniente do setor de petróleo e gás.
Uma das manobras utilizadas por Moscovo passa por contornar as sanções transportando combustíveis através de uma “frota-sombra” de navios-tanque antigos e subsegurados.Uma frota-sombra é um cjunto de navios que usam táticas de ocultação para contrabandear bens sancionados. É uma resposta direta a sanções económicas internacionais ou unilaterais.
De acordo com a Crea, os navios “obscuros” são responsáveis pelo transporte de cerca de um terço das receitas de exportação de combustíveis fósseis.
Por sua vez, durante a 16ª ronda de sanções, os embaixadores da UE concordaram com novas medidas para atingir a frota-sombra da Rússia.
De acordo com os investigadores da Crea, as receitas russas de combustíveis fósseis poderiam cair 20 por cento, caso fossem reforçadas as sanções existentes.
Entre as medidas em estudo na rondas de sanções está o fecho de uma “pequena brecha” através da qual os países europeus podem comprar petróleo russo – isto porque o combustível foi processado noutro país que não tem restrições face a UE. Restringir os fluxos de gás através do gasoduto Turkstream deverá também ser observado.
No relatório também está claramente expresso a necessidade da repressão ao gás natural liquefeito (GNL).
A Europa tem reduzido as importações de gás russo canalizado desde o início da guerra da Ucrânia, mas continua a compensar o consumo com transporte em navios com gás liquefeito, proveniente da Rússia.
Jan-Eric Fuhnrich, analista de gás da Rystad Energy, elucidou que o papel do GNL na UE e no Reino Unido “cresceu drásticamente desde o início da guerra”, disparando de “uma alta pré-guerra de 81,3 milhões em 2019 para 119mt em 2022”.
Fuhnrich acrescentou ainda que “a Rússia conquistou o lugar como o maior exportador de GNL para a Europa no ano passado”.