Imigração ilegal e inflação levam lusoamericanos a preferir Trump

por Lusa

 O candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, terá o voto de muitos lusoamericanos do estado de Connecticut, que confiam no ex-presidente para travar a inflação e a imigração ilegal.

 

No clube português de Waterbury, em Connecticut, eleitores luso-americanos garantiram à Lusa confiar em Trump para "reerguer" o país que escolheram para viver há décadas, após deixarem Portugal, embora admitindo que o republicano possa parecer "bruto" ou "arrogante" nas suas intervenções.

Kamala Harris, a atual vice-presidente e candidata democrata, é vista com desconfiança pela comunidade luso-americana de Waterbury, e nem os democratas ou indecisos conseguem apontar qualidades àquela que poderá ser a primeira mulher a presidir ao país.

"Para mim é o Trump. Ele fala metade da minha língua: eu não tenho papas na língua, ele fala a língua, que eu percebo. Já em relação à Kamala e ao outro que anda lá a dormir [Presidente, Joe Biden]... não sei porquê, mas os políticos hoje aldrabam muito, não falam a verdade e muita gente vai nessa conversa", afirmou Manuel Silva, de 73 anos.

Embora registado como democrata, Silva assume que já votou em Trump anteriormente e que o fará de novo em 05 de novembro, uma vez que teve quatro anos de prosperidade sob a Presidência do magnata, em oposição a Kamala Harris, "que esteve os últimos quatro anos no Governo e nunca fez nada pelo país".

 Questionado sobre os problemas de Trump com a justiça, o luso-americano desvalorizou: "Se eu quisesse uma pessoa perfeita, chamava Deus. (...) Não há santos neste mundo e todos nós cometemos erros".

A par da economia e da inflação, a imigração ilegal é outro dos problemas que mais preocupa estes membros da comunidade luso-americana, embora a maioria também tenha chegado aos EUA de forma irregular.

"Quando eu vim para aqui, vim ilegal. Mas quem entrar aqui que venha pela porta, como deve ser, que venha com papéis e que venha pedir auxílio, porque toda a gente é aceite. (...) Isto passa-se não só na América. Em Portugal está igual. Estão a deixar entrar muita gente que não pertence cá", afirmou Reinaldo Sousa, de 65 anos, presidente do `Portuguese Sport Club of Waterbury`.

Uma sondagem recente mostra que 68% dos norte-americanos querem uma abordagem mais dura à política de imigração, após um número recorde de imigrantes indocumentados ter cruzado a fronteira durante o Governo Biden-Harris.

Donald Trump prometeu deportar milhões de pessoas que estão ilegalmente no país.

Kamala Harris tem sido responsabilizada pela situação da fronteira, uma vez que Joe Biden lhe deu responsabilidades na questão, na negociação com países de origem ou trânsito dos migrantes.

Contudo, no início deste ano, uma legislação bipartidária que visava reformar o sistema de imigração fracassou no Congresso após Trump ter instado os republicanos a oporem-se à mesma.

"A sinceridade [de Kamala] podia ser um bocadinho melhor. (...) Quando lhe perguntam o que vai fazer para melhorar a economia e as nossas fronteiras, nada é falado. Estamos sempre a falar da mesma coisa: que ela veio de uma família pobre. (...) O problema é que até hoje ela ainda não foi capaz de dizer o que vai fazer", criticou Reinaldo Sousa.

Também José Gonçalves, português a viver há 60 anos nos EUA, disse à Lusa que votará em Trump, avaliando que a "América ainda não está preparada para ter uma senhora como Presidente".

Para o septuagenário, Trump pode ser "um bocado arrogante", mas é a "pessoa indicada" para "levantar o país outra vez".

Entre os eleitores do ex-presidente está igualmente Manuel Freitas, de 59 anos e a viver nos EUA há 36, que considera que Trump "fez um bom trabalho" enquanto esteve na Casa Branca: "Eu acho que precisamos dele outra vez".

"Talvez ele não seja o homem mais querido pelas pessoas, pela maneira como fala. Mas sem dúvida que é um grande homem de negócios e ele provou-o nos quatro anos em que liderou este país. (...) Foi um grande homem para esta nação e para nós todos", advogou.

Freitas "não confia" em Kamala Harris e não vê na candidata democrata "capacidades" para liderar o país.

Já o polícia Orlando Oliveira, que deixou Portugal com apenas cinco semanas de vida, tem hoje 50 anos e a sua prioridade é o fim das guerras e da imigração ilegal. Para isso, votará em Trump.

"Como tenho um filho que vai fazer 16 anos, eu não quero vê-lo ir para a Terceira Guerra Mundial. Acho que isso é importante, assim como estabilidade - financeira e de segurança. Ultimamente temos tido muita imigração e muita troca de leis", observou.

"Eu sou pelo Donald Trump. Há coisas que eu não gosto dele, acho que poderia ser um bocadinho mais leve no falar, mas as ideias dele podem trazer trabalho. Vai trazer mais oportunidades", afirmou.

Orlando frisa não ser contra a imigração, mas pede limites, defendendo que a entrada de imigrantes sem controlo "torna a situação mais difícil para aqueles" que já estão nos EUA.

Por outro lado, os eleitores Maria Monteiro e Diamantino Oliveira mantêm-se na incerteza sobre em quem votar em 05 de novembro.

Para a septuagenária, natural de Amarante, o voto em branco poderá ser opção.

"O Trump é muito agressivo, é muito comerciante para mim, ainda que tenha tido coisas boas, que eu gostei e que são de valorizar. A outra senhora mal a conheço, porque ninguém a conhece. (...) Tem de fazer muito mais para me convencer. (...) Que ganhe o melhor e que de repente as coisas mudem", disse Maria à Lusa.

Já o democrata Diamantino Oliveira, que passou 56 dos seus 81 anos a residir nos EUA, admitiu que ainda está indeciso e que irá aproveitar a reta final da campanha para tomar uma decisão.

"Se eu vir que a coisa continua paralela e que estou indeciso, então voto pelo meu Partido (Democrata)", explicou.

Contudo, Diamantino diz entender a razão pela qual a comunidade portuguesa está mais inclinada a votar no ex-presidente do que em Kamala: o histórico da economia e da imigração.

"A imigração preocupa-me um bocadinho, porque sou contra a ilegalidade. E este Presidente [Biden] tem deixado entrar muita, muita gente na ilegalidade e isso está a tirar trabalho às pessoas que estão aqui legais. Isso preocupa-me um bocadinho. E a economia é a economia", reforçou.

 

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