Imagens de satélite sugerem que Pequim está a aumentar a sua capacidade nuclear

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
As imagens revelam que estão em construção pelo menos 16 silos de mísseis num campo de exercícios a norte da China DR

Um especialista norte-americano analisou imagens de satélite de uma construção recente de campos de exercícios com mísseis na China e concluiu que Pequim parece estar a expandir significativamente o número de silos de mísseis balísticos. Segundo o especialista, as imagens revelam ainda túneis potencialmente construídos para ocultar unidades de lançamento de mísseis ou operações de carregamento. “Eles estão a tentar aumentar a capacidade de sobrevivência da sua força”, explica Hans Kristensen.

A China parece estar a avançar rapidamente no que diz respeito à sua capacidade de lançar os seus mais recentes mísseis de silos subterrâneos, possivelmente para melhorar a sua capacidade de resposta face a um possível ataque nuclear.

A questão é levantada por Hans Kristensen, um observador de longa data das forças nucleares nos EUA, Rússia e China. Kristensen analisou imagens de satélite recentes de um campo de exercícios com mísseis na cidade de Jilantai, a norte da China, e observou que estão em construção pelo menos 16 silos, o que descreve de uma “expansão significativa”.

Estes 16 novos silos somam-se aos cerca de 20 que a China opera atualmente com um míssil intercontinental mais antigo, o DF-5.

As imagens revelam ainda túneis potencialmente construídos para ocultar unidades de lançamento de mísseis ou operações de carregamento.

Quase todos os novos silos detetados pelo especialista parecem projetados para alojar o míssil de nova geração da China DF-41, que é construído com um componente de combustível sólido que permite ao operador preparar mais rapidamente o míssil para o lançamento, em comparação com o DF-5, que usa um sistema de combustível líquido mais demorado. O DF-41 pode atingir o Alasca e grande parte do território continental dos Estados Unidos.

Eles estão a tentar aumentar a capacidade de sobrevivência da sua força ao desenvolverem silos para armazenar os seus mísseis mais avançados”, disse Kristensen durante uma entrevista, citado pela agência Associated Press.

“Isto levanta algumas questões sobre esta linha ténue na estratégia nuclear”, entre dissuadir um adversário dos EUA ao ameaçar as suas forças nucleares altamente valiosas e ao forçar o adversário a tomar contramedidas que tornem a sua força mais capacitada e perigosa.

“Como se sai deste ciclo vicioso?”, questiona Kristensen.
Resposta a um possível ataque dos EUA
Kristensen, diretor do Projeto de Informação Nuclear da Federação de Cientistas Americanos, aponta várias potenciais explicações para a expansão dos campos de exercícios com mísseis por parte da China. Uma delas é a possibilidade de Pequim estar a tentar aumentar a sua capacidade de retaliação face ao que pode ser visto como uma ameaça crescente por parte dos EUA, que apontaram a modernização nuclear da China como uma justificação plausível para um investimento de centenas de milhares de dólares na construção de um arsenal nuclear totalmente novo nas próximas duas décadas.

A China está preocupada com a possibilidade de os seus atuais silos de mísseis balísticos serem demasiado vulneráveis para um ataque dos EUA (ou Rússia)”, escreve Kristensen no blog da Federação de Cientistas Americanos. “Ao aumentar o número de silos, mais mísseis poderiam sobreviver a um ataque preventivo e lançar os seus mísseis em retaliação”, explica o especialista.

Não existem indicações de que os EUA e a China estejam a caminhar para um conflito armado, muito menos um nuclear. Mas o relatório de Kristensen chega numa altura de aumento de tensões entre as duas potências, com Pequim a pressionar a Administração de Biden a abandonar muitas das políticas adotadas pelo seu antecessor, Donald Trump, nomeadamente o levantamento das restrições ao comércio e a interrupção do que Pequim considera interferência injustificada em Taiwan, Hong Kong, Xinjiang e Tibete.

Uma força nuclear chinesa mais forte poderia ser considerada nos cálculos dos EUA para uma resposta militar agressiva à China, nomeadamente em Taiwan ou no Mar da China Meridional.

À agência Associated Press, o Pentágono recusou-se a comentar a análise de Kristensen às imagens de satélite, mas afirmou no verão passado, no seu relatório anual sobre os desenvolvimentos militares chineses, que Pequim procura aumentar a prontidão das suas forças nucleares em tempos de paz ao colocar muitas delas em silos subterrâneos e ao operar num nível mais elevado de alerta, no qual pode lançar mísseis após ser avisado que está sob ataque.

A política de armas nucleares da República Popular da China prioriza a manutenção de uma força nuclear capaz de sobreviver a um primeiro ataque e responder com força suficiente para infligir danos inaceitáveis a um inimigo”, disse o relatório do Pentágono.

De uma forma mais ampla, o Pentágono considera que a China está a modernizar as suas armas nucleares como parte de um esforço para construir um exército em meados do século que seja igual ou mesmo superior ao dos EUA.

O Pentágono prevê que as Forças Balísticas do Exército de Libertação do Povo vão, pelo menos, duplicar a dimensão do seu arsenal nuclear na próxima década, deixando-o ainda muito aquém do dos EUA.

Deve-se observar que, mesmo se a China duplicar ou triplicar o número de silos de mísseis balísticos, isso constituirá apenas uma fração do número de silos operados pelos Estados Unidos e pela Rússia”, escreveu Kristensen no blog. “A Força Aérea dos EUA tem 450 silos, dos quais 400 estão carregados. A Rússia tem cerca de 130 silos operacionais”, acrescenta.

c/agências
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