O ativista anti-Kremlin Ildar Dadin, que tinha sido detido na Rússia por protestar contra o presidente Vladimir Putin, foi morto na linha de frente a combater ao lado das forças de Kiev, adiantaram órgãos de comunicação independentes russos e amigos próximos.
"É com profundo pesar que devo informá-los que Ildar Dadin – Gandhi (nome de código militar) – morreu, ontem (sábado), em combate na região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia”, anunciou na rede social Facebook o seu amigo e ex-parlamentar russo Ilya Ponomaryov, que vive no exílio.
Ponomaryov saudou Dadin como um "lutador destemido e determinado" que foi "para a frente de batalha para lutar contra o putinismo".
A morte de Dadin foi também confirmada no Telegram pela jornalista russa Ksenia Larina e vários outros meios de comunicação independentes russos.
O ativista que se tornou combatente
Dadin foi primeiro cidadão russo a ser condenado sob uma lei de 2014 que decreta a repressão a protestos no país. Manifestava-se sozinho, de forma pacífica, contra as autoridades. A lei ficou apelidada de “Lei Dadin” quando, em 2015, o ativista foi detido e condenado a dois anos e meio de prisão.
Opposition activist Ildar Dadin, who was the first Russian to be jailed (in 2015) under a repressive new law on holding peaceful protests, has reportedly been killed fighting for Ukraine
— Francis Scarr (@francis_scarr) October 6, 2024
"If you keep quiet, tomorrow the next person will keep quiet when they come for you," this… https://t.co/sFKqArDfD6 pic.twitter.com/ls9jOSVnhN
Após ter sido detido num campo de prisioneiros, denunciou - numa carta aberta em 2016 - a tortura e a humilhação que lhe foram infligidas pelos guardas da prisão. Descreveu ainda como foi pendurado numa parede pelos pulsos algemados e alvo de ameaças de abusos sexuais por parte dos guardas.
Após a libertação em 2017, alistou-se num "batalhão siberiano", de acordo com Ponomaryov, e depois na "Legião da Liberdade da Rússia", um grupo que afirma ter sido formado por russos anti-Putin e responsável por várias incursões no país.
"Não posso ficar parado sem fazer nada e, assim, tornar-me cúmplice do mal russo, dos seus crimes", argumentou Dadin à BBC após ter saído da prisão, explicando a decisão de se alistar num batalhão de voluntários russos.
"Era e continua a ser um herói"
Segundo a BBC, Dadin costumava argumentar que outros russos tinham falhado em travar Vladimir Putin, deixando-se assustar pelas ruas devido à violência policial e à ameaça de prisão. Acreditava que tinha responsabilidade pessoal pela invasão perpetrada pela Rússia na Ucrânia.
"O principal agora é agir de acordo com a minha consciência", escreveu Dadin numa noite, perto da linha de frente em Sumi. Mesmo presenciando os horrores da guerra, o ativista reiterou que nunca abandonaria as trincheiras enquanto os soldados ucranianos era mortos "por criminosos russos".
"O principal agora é agir de acordo com a minha consciência", escreveu Dadin numa noite, perto da linha de frente em Sumi. Mesmo presenciando os horrores da guerra, o ativista reiterou que nunca abandonaria as trincheiras enquanto os soldados ucranianos era mortos "por criminosos russos".
Os recrutas nestes grupos são principalmente cidadãos que abandonaram a Rússia e que esperam ajudar a Ucrânia caso consigam derrotar Vladimir Putin.
O grupo que o recrutou, o Conselho Cívico, também confirmou a morte de Dadin à BBC, reforçando que “ele era e continua a ser um herói”.
O ativista russo foi abatido quando soldados do seu batalhão de voluntários foram alvo de fogo de artilharia russa na região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia.
"Ildar era forte, corajoso, íntegro e honesto", escreveu o Conselho Cívico. "É assim que devemos lembrá-lo", remata.