O padre Nuno Rocha considera que a Igreja Católica tem sido uma força aglutinadora dos emigrantes portugueses nos Estados Unidos e "é um elo de identidade cultural" da diáspora.
"Certamente a religião tem tido uma importância vital na vida da comunidade portuguesa na diáspora", afirmou num evento organizado pelo Conselho de Liderança Luso-Americano (PALCUS) o padre, que nasceu em Fafe e emigrou para os Estados Unidos aos 17 anos.
O diretor do PALCUS e presidente do Instituto Português Além-Fronteiras (PBBI), Diniz Borges, referiu que as primeiras gerações de emigrantes portugueses nos Estados Unidos "começaram muitas paróquias antes de começarem clubes de futebol e recreativos".
Um dos projetos de histórias orais da diáspora, liderado pelo PBBI na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno, identificou a religião católica como sendo um elemento importante na identidade portuguesa em segundas, terceiras e até quartas gerações de emigrantes.
"A paróquia tem a capacidade de congregar", considerou o padre Nuno Rocha, salientando também a sua importância na manutenção do português entre as várias gerações.
"Um dos elementos fundamentais é a prática da língua. É o facto de ainda celebrarmos as liturgias e os sacramentos em português", sublinhou. "Ao domingo tenho quatro missas em português e somente uma em inglês".
O pároco considerou que a transmissão da língua portuguesa implica uma "dupla dinâmica" em casa e nos espaços comunitários, algo que tem andado de mãos dadas com a preservação de tradições religiosas.
"É importantíssimo que o trabalho de dinâmica familiar continue e o da comunidade também", afirmou, "com a preocupação de transmitir não somente os valores e as crenças religiosas mas também tentar preservar a língua".
Nos Estados Unidos estima-se que haja 61,9 milhões de católicos, ou 18,7% da população, com 19.405 congregações. O mais recente censo religioso identificou 372 entidades religiosas no país, sendo que os cristãos protestantes estão coletivamente na maioria, embora divididos em múltiplas denominações.
Na Igreja de Nossa Senhora de Fátima na cidade de Elizabeth (Nova Jersey), onde é padre há dez anos, Nuno Rocha disse ter encontrado uma comunidade portuguesa com vitalidade e um nível de prática religiosa muito razoável.
"Aquilo que trouxeram de Portugal continua bem presente aqui", considerou, apesar de indicar que as coisas evoluíram e houve uma adaptação aos tempos.
"As práticas religiosas do passado, nos primórdios da emigração, não são as mesmas de hoje", disse.
"Os tempos são diferentes, as coisas evoluíram, as pessoas têm outro nível de informação. Mas há uma coisa em comum que não muda: são as mesmas necessidades espirituais", ressalvou. "As pessoas continuam a procurar esta vida íntima e espiritual com Deus".
O padre luso-americano revelou que a catequese tem cerca de 400 crianças, incluindo aulas em português, e que no ano passado celebrou 200 batismos.
"A comunidade paroquial tem um papel central a proporcionar aos fiéis momentos de encontro", acrescentou.
Com cerca de 50 a 200 pessoas mesmo nas missas diárias, o padre Nuno Rocha destacou a dinâmica da vida da paróquia, traçando um paralelo com o que observa quando passa as férias do verão em Fafe, distrito de Braga.
"Passo o mês de agosto em Portugal e as igrejas estão cheias de emigrantes", indicou. "Em setembro têm dez idosas a rezar o terço".
Apesar das dificuldades que surgiram com a pandemia de covid-19 e a redução de crentes fisicamente nas igrejas, o padre considerou que a religiosidade continua a ser um elemento muito importante na comunidade.
Elogiou também o papel do Papa Francisco e a forma como tem liderado a igreja. "É um papa para os nossos tempos".
O evento "A igreja católica e a presença portuguesa nos Estados Unidos" inseriu-se na série "As Nossas Vozes" promovida pelo PALCUS e pelo PBBI, com discussões regulares inteiramente faladas em português.