Igreja Católica de Moçambique introduz dízimo mas os crentes contestam
A Igreja Católica moçambicana introduziu o dízimo, contributo dos crentes para o culto e para o clero, numa decisão contestada pelos fiéis que se dizem obrigados a escrever os nomes, estado civil e idade nos respectivos envelopes.
Segundo a imprensa moçambicana, o sistema de dízimo foi introduzido no ano passado, mas a questão ganhou relevo depois do arcebispo da Diocese de Maputo, Francisco Chimoio, ter ameaçado, em carta, sancionar as paróquias que não adiram ao sistema.
A decisão está a ser severamente censurada pelos fiéis católicos, mas o arcebispo de Maputo sustenta que a prática do "dízimo não pode ser vista do ponto de vista negativo, porque se trata de uma acção voluntária que visa apoiar a sustentação da mais antiga Igreja cristã com mais de dois mil anos".
Francisco Chimoio justificou a necessidade dos fiéis católicos oferecerem a décima parte dos seus rendimentos com o facto dos apoios financeiros à Igreja, vindos maioritariamente das congregações religiosas europeias, estarem a diminuir nos últimos anos.
"É um trabalho que visa a sustentação da igreja. Os valores monetários provenientes dos ofertórios nunca foram suficientes e nunca serão. A igreja é de todos, por isso, devemos contribuir para o seu crescimento", justificou, sublinhando, no entanto, "não ser obrigatório dar o dízimo".
Alguns crentes católicos afirmaram, todavia, não entender por que se devem identificar durante a oferta dos valores monetários, considerando-a "uma forma de controlo".
"Por que é que no envelope onde são introduzidos os valores monetários somos obrigados a escrever os nomes, estado civil, incluindo a idade?", questionou um crente citado pelo diário electrónico Canal de Moçambique, editado em Maputo.
"Parece que a igreja está implicitamente a obrigar-nos a pagar os dízimos", disse.
O arcebispo de Maputo considerou que "ele (o dízimo) serve para quem quer".
"Cada um é livre. O dízimo é mais um gesto de contribuição do crente", manifestou, defendendo por outro lado que é "a mais alta expressão do cristão".
Na referida carta enviada aos paroquianos de Maputo, Francisco Chimoio sublinhou a necessidade de "todas as paróquias da sua diocese aderirem com seriedade ao dízimo e explicarem aos crentes sobre a importância de pagarem o dízimo".
A missiva destaca as paróquias que já implementaram a cobrança do dízimo as quais o arcebispo saúda pelo "bom desempenho que lhes leva ao encontro dos desfavorecidos".
"No valor total cobrado aos dizimistas durante um mês, cada paróquia deve descontar 10 por cento e entregar ao arcebispado onde deverá receber um recibo de confirmação", lê-se na mesma carta.
"Mas - prossegue - as paróquias que não implementarem o sistema de dízimo, como forma de punição, continuarão a pagar pela deslocação do bispo para dirigir cerimónias nas respectivas paróquias, continuarão a pagar ainda pela emissão das certidões dos seus crentes e todos os serviços prestados pelo arcebispado para as paróquias".
Nos últimos dias, a Agência Lusa tentou contactar o arcebispo de Maputo, mas o prelado não se manifestou disponível.