Iémen. Separatistas do sul perdem Aden e legitimidade

por Graça Andrade Ramos - RTP
Um soldado do Governo guarda a sede dos separatistas do Conselho de Transição do Sul, em Aden. Reuters

As tropas leais ao Presidente iemenita, Abd Rabbo Mansour Hadi, recuperaram o controlo de Aden, a principal cidade do sul do Iémen, capital provisória do Governo de Hadi após a sua expulsão de Sanaa em 2015.

Durante várias horas, os habitantes de Aden ouviram os bombardeamentos e os combates entre as tropas governamentais e os separatistas que há 18 dias os expulsaram da cidade.

Esta manhã, o ministro da Informação, Moammar al-Eryani reportou a recuperação primeiro do aeroporto e depois do palácio presidencial.

Ao perderem o seu último reduto, os separatistas terão perdido igualmente qualquer possibilidade de se sentar à mesa das negociações e de conseguir pelo menos alguma autonomia.
O Iémen do sul foi independente até 1990, altura em que foi conquistado pelo norte. Desde então vários movimentos tentaram recuperar a independência territorial e económica.

Treinados e armados pelos Emirados Árabes Unidos, o recente avanço dos separatistas levou à conclusão de que a coligação sunita entre os Emirados e a Arábia Saudita, em apoio ao Governo de Hadi, estaria por um fio.

As duas potências regionais terão agora conseguido por fim a tais rumores, na sequência de um comunicado conjunto emitido segunda-feira, dando conta da sua união na defesa da integridade territorial do Iémen e na luta contra os rebeldes xiitas Houthi.
Recuo em três dias
Os Houthi tomaram a capital do Iémen, Sanaa, em 2014 e acabaram por expulsar Hadi e as suas forças no ano seguinte, dando origem a um conflito que se arrasta.

Na verdade, a guerra no Iémen expressa no terreno o confronto das duas principais correntes do Islão, a sunita, representada pela coligação militar entre a Arábia Saudita e os Emirados, e a xiita, representada localmente pelo Irão, através dos Houthi.

A coligação sunita foi formada para evitar que os Houthi tomassem o controlo do país e em apoio a Hadi, entretanto exilado na Arábia Saudita.

As tropas do sul do Iémen, designadas como Cinto de Segurança e apoiadas pelos Emirados, e o exército do Governo, apoiado pela Arábia Saudita, deveriam participar lado a lado da luta contra os Houthi.
Sob pressão da ONU para por fim ao conflito, que já fez mais de 100 mil vítimas entre os iemenitas, os Emirados acabaram por retirar do sul do país em junho, deixando os combates entregues ao Cinto de Segurança.

Contudo, as tropas sulistas, afetas ao Conselho de Transição do Sul, acusaram em julho passado um partido extremista, apoiante do Governo de Hadi, de se ter aliado aos Houthi num ataque que vitimou um dos seus comandantes.

A acusação serviu de pretexto para o seu avanço sobre as principais posições militares e edifícios institucionais de Aden, ao que se seguiu uma campanha de conquista das cidades vizinhas.

Ao mesmo tempo, o Conselho anunciou uma série de exigências de autonomia, recusadas pelo Governo.

Desde o fim-de-semana, os separatistas viram-se obrigados a recuar, depois de fracassarem a tomada de de Ataq e de uma alegada deserção de vários contingentes para as tropas governamentais.

O comunicado conjunto da coligação terá dado o golpe final nas aspirações dos independentistas. Três dias depois, a derrota ficou consumada.
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