A Organização das Nações Unidas (ONU) ficou "desapontada" por arrecadar hoje menos de um terço do valor que tinha pedido para ajudar a salvar o Iémen de uma catástrofe humanitária.
Os doadores prometeram dar 1,3 mil milhões de dólares (1,18 mil milhões de euros), enquanto as Nações Unidas pediam 4,3 mil milhões de dólares (3,9 mil milhões de euros).
"Não tenhamos ilusões. Esperávamos mais", disse o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.
"Estamos desapontados por não termos conseguido, no momento, angariar promessas de alguns (países) que esperávamos conseguir", insistiu Griffiths no final da conferência de doadores.
Griffiths prometeu redobrar os seus esforços para tentar, através de outros apelos nos próximos meses, angariar os fundos necessários para este país envolvido numa guerra devastadora desde 2014.
"Vamos trabalhar duramente para que isso aconteça. Vamos trabalhar duramente para mostrar que, como quase todos disseram, estamos solidários com o povo do Iémen", acrescentou
A ONU pediu hoje aos países doadores, muitos dos quais focados na guerra na Ucrânia, que não esqueçam o Iémen.
"O Iémen pode não estar mais nas manchetes, mas o sofrimento humano não diminuiu. (...) Hoje, a falta de fundos corre o risco de levar a uma catástrofe", alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura de uma conferência virtual de doadores co-organizada pela Suécia e pela Suíça para aliviar "a pior crise humanitária do mundo".
Segundo a ONU, cerca de 161.000 pessoas vão enfrentar, em breve, "uma insegurança alimentar catastrófica, prenúncio do que pode acontecer a 7,1 milhões de pessoas que estão a apenas um passo desta fase final de uma crise humanitária".
Dois em cada três iemenitas - ou 20 milhões de pessoas - vivem em extrema pobreza.
A conferência ocorre no momento em que a atenção mundial se concentra na guerra na Ucrânia, que ofuscou outras crises humanitárias desde a invasão russa em 24 de fevereiro, levantando preocupações sobre a possibilidade da situação do Iémen ser esquecida.
"A Ucrânia mantém-nos muito ocupados e é uma grande preocupação, mas é essencial que nenhuma outra crise seja esquecida", disse Manuel Bessler, chefe do Corpo Suíço de Ajuda Humanitária.
Um conflito prolongado na Ucrânia provavelmente reduzirá ainda mais o acesso dos iemenitas às suas necessidades básicas, já que os preços dos alimentos, especialmente o custo dos cereais, provavelmente aumentará.
Após os apelos da ONU, o Governo norte-americano anunciou hoje a alocação de mais 585 milhões de dólares (533,5 milhões de euros) em assistência humanitária ao povo do Iémen, valor que permitirá ajudar cerca de "17 milhões de pessoas".
Em comunicado, o Departamento de Estado norte-americano informou que, com o novo financiamento, os Estados Unidos já forneceram quase 4,5 mil milhões de dólares (4,1 mil milhões de euros) ao povo iemenita desde o início da crise, há mais de sete anos.
A guerra do Iémen começou em 2014, quando os rebeldes Huthis, apoiados pelo Irão, tomaram a capital, Sanaa, e grande parte do norte do país.
A guerra, que matou mais de 150.000 pessoas, incluindo mais de 14.500 civis, também criou a pior crise humanitária do mundo, deixando milhões de pessoas a sofrer com a escassez de alimentos e assistência médica e levando o país à fome.