Ida e volta. Junts per Catalunya situa Puigdemont de regresso a Waterloo

por Cristina Sambado - RTP
Alberto Estevez - EPA

O líder independentista catalão Carles Puigdemont partiu "em direção a Waterloo", na Bélgica, após se ter deslocado na quinta-feira a Barcelona, disse esta sexta-feira o secretário-geral do seu partido, Junts per Catalunya (Juntos pela Catalunha), Jordi Turull, à rádio catalã.

"Ele vai voltar para Waterloo", disse Jordi Turull à Rac1, acrescentando que não sabia se Carles Puigdemont já tinha chegado a esta cidade belga perto de Bruxelas, onde passou a maior parte dos seus sete anos de exílio.

"O primeiro cenário previsto era que ele pudesse regressar para beneficiar (...) da lei da amnistia", acrescentou Jordi Turull, assegurando que este regresso expresso à Catalunha e esta nova fuga para o estrangeiro não estavam nos planos iniciais. "Ele não veio para ser preso em Espanha, mas para exercer os seus direitos políticos".Apesar da lei de amnistia negociada pelo primeiro-ministro Pedro Sanchez em troca do apoio do partido Junts per Catalunyat ao seu governo, Puigdemont continua a ser procurado pela justiça espanhola pelo seu papel na tentativa falhada de secessão em 2017.

O Tribunal Supremo espanhol pediu esta sexta-feira à polícia catalã e ao Ministério da Administração Interna informações sobre a operação para deter o dirigente independentista e "os elementos que determinaram o seu fracasso do ponto de vista técnico-policial".

Em dois documentos judiciais consultados pela Europa Press, o juiz Pablo Llarena pergunta aos Mossos d`Esquadra e à tutela que operação estava inicialmente montada para a deteção na fronteira e detenção de Puigdemont, bem como que ordens posteriores foram dadas, depois da sua fuga.

Também esta sexta-feira, o advogado do independentista, Gonzalo Boye, confirmou, em declarações à Rac1, que o seu cliente se encontra fora de Espanha e falará "entre hoje e amanhã", sábado.Dois elementos dos Mossos d`Esquadra foram detidos na quinta-feira por suspeita de terem ajudado o dirigente a abandonar o centro de Barcelona sem ser detido.

Puigdemont, antigo presidente do Governo Regional da Catalunha e protagonista da declaração unilateral de independência da região de 2017, vive no estrangeiro desde então, para fugir à justiça espanhola, e continua a ser alvo de um mandado de detenção em território nacional.

Apesar disso, conseguiu surgir na quinta-feira em público numa concentração de milhares de apoiantes no centro de Barcelona sem ser detido.

Depois de, a partir de um palco, se ter dirigido à multidão concentrada numa praça do centro da cidade, o dirigente separatista desapareceu.

Ana Romeu, correspondente da RTP em Espanha

Eleito deputado nas eleições catalãs de 12 de maio, Puigdemont tinha anunciado na quarta-feira que estaria na sessão parlamentar de quinta-feira, convocada para investir o socialista Salvador Illa presidente do Governo Regional, mas o plenário arrancou e decorreu sem a sua presença.

A polícia tinha montado um perímetro de segurança em redor do parlamento, com uma barreira policial que Puigdemont teria de cruzar para aceder ao edifício, mas nunca chegou a esse local, onde se esperava que fosse detido.

Os Mossos d`Esquadra acionaram depois a "operação Jaula", um dispositivo de segurança, com controlo de estradas, para tentar localizá-lo, mas sem sucesso.

A polícia da Catalunha garantiu, num comunicado, que tentou deter o dirigente independentista nas ruas de Barcelona mas não conseguiu porque a prioridade foi evitar distúrbios, sublinhando que o político esteve sempre rodeado por milhares de pessoas e autoridades.

Face às críticas de que está a ser alvo, a polícia catalã nega também qualquer "acordo ou conversação prévios" com Puigdemont.

A força de segurança assegura que ativou um dispositivo considerado proporcional para evitar desordens públicas, atendendo ao anunciado regresso de Puigdemont a Espanha, mas também, em simultâneo, para garantir a segurança e a normalidade da sessão de investidura do novo presidente do Governo Regional no parlamento autonómico.
Junts per Catalunya vai reavaliar apoio ao governo de Sánchez
O partido separatista catalão, Junts per Catalunya, revelou esta sexta-feira que vai decidir se mantém o seu apoio parlamentar crucial ao governo central em Madrid, uma vez que a situação "mudou muito".

O secretário-geral, Jordi Turull, listou como fatores que influenciam a decisão o novo governo catalão liderado pelo socialista Salvador Illa - que é contra a independência e foi confirmado como líder na quinta-feira - e problemas com uma lei que concede amnistia aos envolvidos numa tentativa fracassada de secessão de 2017.Turull esteve preso entre 2018 e 2021 sob a acusação de rebelião, sedição e desvio de fundos por causa do referendo independentista, mas foi perdoado pelo Governo espanhol.

Um acordo relacionado com impostos entre os socialistas e o partido moderado e separatista ERC, que permitiu a Illa governar a Catalunha, alterou as condições em que Junts per Catalunya concordou em apoiar o governo central do primeiro-ministro Pedro Sánchez no ano passado, acrescentou Turull.

Turull disse ainda que o apoio de Junts per Catalunya teria "um caminho muito estreito ou nenhum caminho", a não ser que Madrid defendesse firmemente a plena aplicação da controversa lei da amnistia pelos juízes.

"A situação mudou muito devido ao contexto e aos parâmetros que tornaram possível o nosso acordo (de apoio ao governo socialista), e temos de ver se faz sentido", rematou Turull.

c/ agências

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