A Coreia do Norte anunciou que o ensaio do novo míssil balístico intercontinental movido a combustível sólido foi um sucesso. A arma, denominada Hwasong-18, foi lançada logo após as 7h00 de quinta-feira, e desencadeou uma breve ordem de evacuação na ilha de Hokkaido, no norte do Japão, antes de cair nas águas a leste da península coreana.
A Coreia do Norte disparou cerca de 30 mísseis apenas este ano em 12 diferentes locais de lançamento. Mas este ensaio cumpre o grande desejo de Kim Jong-un. É o primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM) movido a combustível sólido que parte de solo norte-coreano.
O Hwasong-18 faz parte de um dos principais objetivos do plano de Kim Jong-un em desenvolver armas mais avançadas e poderosas.
A KCNA citou Kim afirmando que o Hwasong-18 avançará rapidamente como resposta nuclear da Coreia do Norte e apoiará ainda mais uma estratégia militar agressiva que promete uma resposta contra os seus rivais numa lógica: “arma nuclear por arma nuclear - confronto total por confronto total”.
Pyongyang deixou claro que “o sistema de armas Hwasong-18, a ser administrado pelas forças estratégicas do país, cumprirá a sua missão e papel de defender (a Coreia do Norte), impedir invasões e preservar a segurança do país como o seu método mais poderoso”, disse a KCNA.
O líder norte coreano, Kim Jong-un, ultimamente sempre acompanhado com a filha, assistiram ao lançamento do míssil Hwasong-18 | KCNA/Agência Central de Notícias Norte Coreana via Reuters
ICBM de combustível sólido“Este é um avanço significativo para os norte-coreanos, mas não inesperado”, disse Ankit Panda, especialista do Carnegie Endowment for International Peace.
O teste de um ICBM de combustível sólido é importante porque são mais estáveis do que os de combustível líquido que a Coreia do Norte testou anteriormente em lançamentos de mísseis de longo alcance. Este tipo de ICBM fornece uma capacidade preventiva e retaliatória mais capaz e menos vulnerável à força militar de Pyongyang.
Esta tecnologia
torna os foguetes mais fáceis de transportar e mais rápidos de lançar do que os de combustível líquido.
“Como esses mísseis são abastecidos no momento do fabrico e, portanto, estão prontos para uso conforme necessário, eles serão muito mais rapidamente utilizáveis numa crise ou conflito, privando a Coreia do Sul e os Estados Unidos de um tempo valioso que poderia ser útil para detetar preventivamente e destruir tais mísseis”, explicou Panda.
O novo Hwasong-18 tem três estágios, de acordo com a KCNA, assim como o principal ICBM dos Estados Unidos, o Minuteman III, que é movido por três motores de foguete de combustível sólido.
Jeffrey Lewis, investigador do James Martin Center for Nonproliferation Studies sublinha que este avanço tecnológico confirma que “a Coreia do Norte sempre seguiu o mesmo caminho técnico dos EUA, União Soviética, França, China, Israel e Índia”.
“Dado que a Coreia do Norte vem testando motores de foguete sólidos de grande diâmetro há vários anos, está claro (pelo menos para mim) que desde 2020 um teste como este poderia ocorrer a qualquer momento”, argumentou Lewis.
“Ato grave e provocador”
O teste foi detetado na quinta-feira pela Coreia do Sul e pelo Japão, que ordenaram a retirada dos moradores da ilha de Hokkaido, no norte.
O míssil voou cerca de mil quilómetros em direção às águas entre a península coreana e o Japão, antes de cair no mar, acrescentou o JCS, descrevendo o lançamento como um “ato grave e provocador”. O Japão também conferiu que o míssil caiu na água, mas não forneceu indicação precisa do local de impacto.
Dos EUA também chegam críticas e descrevem o lançamento como uma “violação descarada de várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU”. Paralelamente, a Casa Branca instou os países a condenar as atividades de teste de Pyongyang com mais veemência.
O lançamento do Hwasong-18 ocorre dois dias antes do país comemorar o nascimento do fundador Kim Il Sung, um dos feriados mais importantes da Coreia do Norte.