A Hungria vai promover competitividade económica, cooperação em defesa e alargamento aos Balcãs na presidência da União Europeia (UE), no segundo semestre, com analistas a falarem na "melhor altura" para esta liderança, dada a transição institucional pós-eleições europeias.
"A competitividade, mas também as questões demográficas, estão na vanguarda do programa do trio [após as presidências sueca e espanhola]. [...]. Precisamos de medidas, de menos regulamentação, de regulamentação mais flexível, de uma verdadeira estratégia de competitividade que torne as empresas europeias competitivas", afirma em entrevista à agência Lusa o secretário de Estado da Comunicação Internacional e porta-voz internacional do gabinete do primeiro-ministro, Zoltán Kovács.
A cerca de dois meses de a Hungria assumir a presidência rotativa do Conselho da UE, Kovács acrescenta que "há uma questão importante que está a emergir de novo, basicamente nos últimos dois anos, mas especialmente nas últimas semanas e meses, que é a capacidade de defesa, a cooperação em matéria de defesa e o estado das forças armadas europeias", uma outra prioridade húngara, num contexto de tensões geopolíticas pela guerra da Ucrânia causada pela invasão russa e de conflito em Gaza entre Israel e o grupo islamita Hamas.
Acresce a prioridade de alargamento aos Balcãs Ocidentais, países que na visão do secretário de Estado "merecem muito mais" do que a Ucrânia aderir à UE porque "têm vindo a concretizar e têm cumprido" com os requisitos, ao passo que Kiev "está muito longe disso".
A presidência do Conselho da UE pela Hungria, entre julho e dezembro deste ano, acontece num esperado período de vácuo institucional pós-eleições europeias, que terão lugar em junho, já que, depois do sufrágio, os líderes da UE irão discutir os cargos de topo europeus e não as habituais propostas legislativas.
"Estamos cientes de que a presidência húngara vai ter lugar no meio de uma transição institucional e, por isso, vai ser consumida muita energia na gestão desta transição, mas, ao mesmo tempo, [...] a presidência húngara pretende ser aquela que lida com problemas reais", como a "regulamentação excessiva da agricultura europeia, que está a causar grandes problemas em toda a Europa", salienta Zoltán Kovács nesta entrevista à Lusa.
Dadas as atuais tensões entre Bruxelas e Budapeste pelo procedimento aberto contra a Hungria por violação do Estado de direito, analistas ouvidos pela Lusa consideram que esta altura de vácuo institucional é a ideal para a Hungria cumprir a tarefa de presidir à UE, esperando-se que o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, use este período a seu favor.
"Sendo a Hungria um país com uma significativa deficiência em termos de Estado de direito, esta é realmente a melhor altura para assumir a presidência da UE porque será uma presidência curta devido às férias de verão e ao período de interregno e porque quase nada vai acontecer [em termos legislativos]", afirma à Lusa o investigador Bulcsú Hunyadi, do Instituto do Capital Político.
Já Zsuzsanna Szelenyi, responsável do Instituto de Democracia da Universidade Central Europeia (instituição financiada por George Soros, filantropo e rival de Órban), sublinha que o chefe de governo húngaro "vai usar o vácuo institucional como uma espécie de palco extra".
"Órban comportar-se-á e correrá pelo mundo como um líder da Europa", vinca a investigadora, falando numa "má imagem da UE" no próximo semestre, no qual "não haverá muito sobre a Ucrânia" dada a oposição húngara ao apoio financeiro e militar a Kiev.
Face a estas críticas e após tentativas falhadas de cancelar a presidência húngara, Zoltán Kovács reage: "A presidência não é uma dádiva, não é opcional. É, sim, um dever. Foi decidido há anos, talvez há mais de uma década, [...] por isso não temos outra opção".
Para Dharmendra Kanani, porta-voz principal dos Amigos da Europa, "há todas as possibilidades de Órban usar a presidência para alimentar os adeptos do descontentamento com o projeto da UE e pôr em causa determinadas políticas".
Já a investigadora do Conselho Europeu das Relações Externas Zsuzsanna Végh adianta à Lusa que "esta será uma presidência que terá lugar durante a maior remodelação institucional da UE", cabendo a "Orbán decidir se quer ser construtivo ou perturbador".