Hospital de Maputo com apenas 60% dos profissionais e enfermarias esgotadas

por Lusa

O Hospital Central de Maputo (HCM) está a funcionar com apenas 60% do pessoal de saúde necessário, devido à tensão social na sequência dos anúncios dos resultados das eleições moçambicanas, e algumas enfermarias já esgotaram a capacidade.

O Hospital Central de Maputo (HCM) está a funcionar com apenas 60% do pessoal de saúde necessário, devido à tensão social na sequência dos anúncios dos resultados das eleições moçambicanas, e algumas enfermarias já esgotaram a capacidade.

"Em termos de profissionais de saúde estamos a 60% daquilo que devíamos ter (...) Tivemos esta noite o reforço de alguns colegas que estão de férias, de alguns colegas que não são desta unidade sanitária", explicou hoje a diretora clínica substituta do HCM, Eugénia Macassa, ao fazer o balanço das últimas 24 horas.

"Agradecemos bastante esse reforço que chegou e ajudou-nos a dar vazão aos doentes que precisavam de ser operados e estamos a ver que necessidades mais precisamos, que é para depois fazer um apelo", acrescentou.

Em causa está a agitação social que se verifica desde segunda-feira, com barricadas em várias zonas da capital, saques, vandalização de equipamentos públicos e privados por manifestantes que contestam os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro.

Nas últimas 24 horas, afirmou ainda, o HCM registou dois óbitos relacionados com as manifestações e 49 pessoas baleadas, entre outras ocorrências.

"Continuamos a receber pacientes críticos, muitos deles vítimas das manifestações. O facto de recebermos muitos pacientes vítimas de trauma torna as nossas equipas exaustas. Há colegas que estão a fazer 48/72 horas", disse.

"Continuamos com falta de alguns consumíveis, pelos mesmos motivos, as vias de acesso, a facilidade para os fornecedores chegarem ao hospital, temos problemas com alimentação, temos problemas com combustível, estamos com enfermarias cheias de pacientes, principalmente aquelas que internam pacientes com trauma", reconheceu a responsável.

Com uma capacidade total de 1.500 camas, algumas enfermarias do maior hospital de Moçambique já não tem condições para receber mais doentes, enquanto outros, com alta médica, acabam por não sair do hospital por falta de condições de segurança nas ruas para o regresso a casa.

"Naquelas enfermarias que são específicas para doentes com traumas já esgotou. Estamos a internar os pacientes com trauma em outros locais. Temos muitos doentes que estão à espera de internamento e já estamos a acionar um outro pedido de apoio a nível do Grande Maputo para aquelas situações onde não será possível oferecer o internamento nesta unidade", disse Eugénia Macassa.

Com várias vias bloqueadas por manifestantes, a responsável apontou os problemas de segurança que as equipas médicas estão a enfrentar: "Temos profissionais de saúde que são violentados a caminho do hospital e as nossas ambulâncias também são violentadas quando tentam passar pelas vias que estão bloqueadas. Por isso voltamos a fazer o apelo para permitir que os profissionais de saúde passem e cheguem à unidade sanitária para prestar cuidados aos pacientes que aqui chegam".

Num hospital que tem necessidades diárias de cem unidades de sangue, de 0,45 litros, o `stock` atual é de apenas 59, deixando, nas últimas 24 horas, dois pedidos de transfusão por satisfazer, apesar da adesão de dadores de sangue nos últimos dias, relatou ainda.

Moçambique vive o quarto dia de tensão social na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, marcados nos anteriores por saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo, em que morreram pelo menos 56 pessoas, nos dias 23 e 24 de dezembro.

Este número soma-se aos pelo menos 130 mortos registados desde 21 de outubro nos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, segundo a plataforma eleitoral Decide.

O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.

Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

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