O Governo chinês condenou esta segunda-feira os protestos contra a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam. Após oito semanas consecutivas de protestos, a China pronunciou-se acerca das mais recentes manifestações que atingiram proporções violentas: foram "atos malvados e criminosos".
Foram detidas 49 pessoas durante uma manifestação contra o Governo da cidade ocorrida entre domingo à noite e a madrugada desta segunda-feira. Repetiram-se os confrontos entre a polícia e os manifestantes.
Em conferência de imprensa conjunta com a região administrativa de Macau, a China condenou veementemente o sucedido: "Foram incidentes horrendos, que causaram danos graves ao Estado de Direito".
Em comunicado, o porta-voz Yang Guang condenou "os atos malvados e criminosos cometidos por elementos radicais" e afirmou que "obedecer à lei é uma necessidade básica de um lugar que vive sob o Estado de Direito".
Esta é a primeira vez, desde a transferência de Hong Kong para a China, que o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau, do Conselho de Estado chinês, faz um comunicado de maior dimensão, uma vez que, normalmente, permitem que seja o próprio Governo de Hong Kong a fazê-lo.
Filipe Pinto - RTP
Filipe Pinto - RTP
O Gabinete apelou a todos os setores da sociedade que "se oponham claramente à violência" e "defendam fortemente o Estado de Direito".
Yang Guang lançou ainda uma advertência a manifestantes "com segundas intenções", dizendo esperar que "as pessoas de Hong Kong tenham consciência da natureza grave da situação atual" e que, "se Hong Kong continuar no caos, terá um custo para a sociedade".
Por outro lado, quando questionado se a China interviria militarmente em Hong Kong, evitou responder. Porém, o Artigo 14.º da Lei Básica, o documento constitucional da região administrativa, afirma que "o Governo de Hong Kong, quando necessário, pode pedir ao Governo da República Popular Central assistência às tropas para a manutenção da ordem pública e em catástrofes".
Lei da extradição na origem dos protestos
Milhões de pessoas acreditaram tratar-se de uma tentativa de Pequim de reforçar o controlo sobre o território semiautónomo e colocar em causa a independência dos tribunais. O que deu lugar aos protestos do último mês, quebrando até o recorde de maior número de manifestantes: dois milhões.
Os manifestantes encontram-se em todas as camadas da sociedade, incluindo os mais velhos.
Na realidade, o protesto de domingo passado teve uma protagonista: uma idosa. Com a bengala na mão, gritou contra as autoridades policiais, "furiosa e sem medo", como descreveu a jornalista Laurel Chor.
Face à adesão crescente aos protestos, Carrie Lam suspendeu as negociações sobre a proposta, mas recusou revogá-la definitivamente, o que prolongou as manifestações.I got this shot of her yesterday. She was furious and fearless. (@GettyImages) https://t.co/FWDTbzYfDg pic.twitter.com/o8y7W6rG8K
— Laurel Chor (@laurelchor) 28 de julho de 2019
Agora, os manifestantes pedem que Lam se demita.
Por outro lado, a lei de extradição invocou outras preocupações como a democracia, o futuro do território e a sua autonomia.
Na realidade, os protestos assumiram outros contornos. Não são apenas sobre a lei da extradição, mas também sobre o que acontecerá ao território depois de 2047, ano em que termina o acordo com a China, estabelecido em 1997. Foi através deste acordo que se estabeleceu a autonomia de Hong Kong, mas este tem a validade de 50 anos. O que acontecerá posteriormente não é definido no acordo.