Hong Kong apontada nos EUA como "líder mundial" em crimes financeiros

por Carla Quirino - RTP
Bobby Yip - Reuters

Lavagem de dinheiro, evasão de sanções e alegados desvios de tecnologia proibida para a Rússia são alguns pontos que os legisladores norte-americanos colocam em cima da mesa para alertarem o Governo dos EUA. Pedem à Administração cessante de Joe Biden que repense os laços financeiros com a cidade asiática. Alegam mesmo que região administrativa especial da China está a tornar-se "líder mundial" em crimes financeiros.

"Hong Kong deixou de ser um centro financeiro global confiável para se tornar um ator essencial no aprofundamento do eixo autoritário da República Popular da China, Irão, Rússia e Coreia do Norte", desde que Pequim impôs uma abrangente lei de segurança nacional à cidade chinesa semi-autónoma em 2020, afirmou o comité norte-americano sobre o Partido Comunista Chinês em carta enviada na segunda-feira à secretária do Tesouro, Janet Yellen.

Os legisladores advertem Washington para a necessidade de fazer “um maior escrutínio sobre o valorizado setor financeiro de Hong Kong”.A cidade asiática é um pilar da economia no Oriente e abriga muitos grandes bancos norte-americanos. Gera mais de um quinto do produto interno bruto do território chinês. Porém, de acordo com a análise feita pelo comité de legisladores, Hong Kong está a tornar-se um “líder global” em práticas ilícitas. 

A cidade tem tido um “papel crescente” na exportação de tecnologia ocidental controlada para a Rússia, a criação de empresas de fachada para comprar petróleo iraniano e a gestão de “navios fantasmas” que se envolvem em comércio ilegal com a Coreia do Norte.

“Agora, devemos questionar se a política de longa data dos EUA em relação a Hong Kong, particularmente em relação ao seu setor financeiro e bancário, é apropriada”, acrescentaram.

A carta agora tornada pública alerta ainda, citando investigações recentes, que "quase 40 por cento dos produtos enviados de Hong Kong para a Rússia em 2023" estavam nas listas de bens proibidos dos EUA e da UE, como semicondutores e outras tecnologias que Moscovo precisa para a guerra na Ucrânia.
Laços entre EUA e Hong Kong desgastados
Após a transferência britânica de Hong Kong para a China, em 1997, a cidade recebeu a garantia, por parte de Pequim, de que permaneceria sob condição de região semi-autónoma, com independência judicial, durante 50 anos, coroando o acordo "Um País, Dois Sistemas".

Em 2020, o então presidente Donald Trump revogou o tratamento especial de que Hong Kong desfrutava há muito tempo sob a lei dos EUA, para punir Pequim por impor a lei de segurança nacional à cidade anteriormente franca. Desde então, dezenas de empresas sediadas em Hong Kong foram atingidas por sanções dos EUA por fugirem de amplas medidas impostas à Rússia em resposta à invasão da Ucrânia.

Estes alertas surgem no momento em que Trump está a dois meses de ocupar de novo a Casa Branca. Com ele segue um gabinete repleto de defensores da China, incluindo Marco Rubio, que foi nomeado secretário de Estado.

A carta é assinada pelo deputado republicano John Moolenaar, que preside o Comité, e pelo deputado Raja Krishnamoorthi, o principal democrata do painel.

Nas preocupações expressas no documento, é ainda destacado o crescente escrutínio sobre Hong Kong na crescente rivalidade entre os EUA e a China e deixa-se uma questão: “Estamos interessados em compreender como o Tesouro pretende combater ainda mais a facilitação da lavagem de dinheiro e evasão de sanções através do sistema financeiro de Hong Kong”.

“Infelizmente, a ideia de Hong Kong como autónoma da China é atualmente uma farsa. As empresas dos EUA precisam de entender que as suas operações em Hong Kong provavelmente estarão sob maior escrutínio”, acentuam os legisladores.
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