Entre a elegia e o perdão. É assim que Andrew Witty, o diretor executivo (CEO) do grupo UnitedHealth, se dirige aos americanos num artigo de opinião publicado em The New York Times na ressaca da morte de Brian Thompson. O CEO da gigante dos planos de saúde UnitedHealthcare foi assassinado na passada semana à entrada para um hotel na Sexta Avenida, em Nova Iorque, alegadamente por Luigi Mangioni e cujas motivações suscitam ainda todo o tipo de reações, em particular num debate que há vários dias está aceso nas redes sociais.
Mangioni, estudante na Universidade da Pensilvânia onde se licenciou em Informática, terá sido mesmo assistente na Universidade de Stanford, vem de uma família abastada do ramo do imobiliário no Estado do Maryland.
Detido num McDonald’s a 500 quilómetros do local do crime, a defesa diz que ainda estão por apresentar as provas de que seja ele o atirador.
Em suma, Luigi Mangioni é o último justiceiro do folclore popular norte-americano e será uma imagem difícil de destruir. As redes sociais já o veem como o herói que luta contra os gigantes das seguradoras por aqueles que morreram ao serem-lhes negados cuidados de saúde vitais. É a outra face desta moeda que terá levado esta sexta-feira o novo CEO da UnitedHealth às páginas do New York Times.
Andrew Witty inicia com uma elegia que terminará a incensar as qualidades de Brian Thompson, propondo a descrição de um self-made man que subiu da base ao topo assente em fortes e defensáveis valores de uma família de meio rural, um CEO que prezava a humanidade com que encarava os problemas do outro.
Pelo meio, Witty assume os problemas do “sistema de saúde”, que “não funciona tão bem como deveria”, um sistema “como o que temos, que ninguém desenharia”.
Que ninguém desenharia e que “ninguém assim fez”, acrescenta, para admitir que compreende a frustração dos americanos com o setor dos cuidados médicos.
“Sabemos que o sistema de saúde não funciona tão bem como deveria e compreendemos as frustrações das pessoas. Ninguém desenharia um sistema como o que temos. E ninguém o fez. É uma colcha de retalhos construída ao longo de décadas”, escreve Andrew Witty, para dizer de seguida que “a nossa missão é ajudar a fazê-lo funcionar melhor”.
Manifesta, nesse sentido, abertura para trabalhar com os seus parceiros – prestadores de cuidados de saúde, empregadores, doentes, empresas farmacêuticas, governos e outros – para "encontrar formas de prestar cuidados de alta qualidade e reduzir os custos” desses cuidados.
“Acho que o Sr. Diretor executivo está a insultar a inteligência dos leitores nesta tentativa de fazer com que esta história desapareça”, refere outro leitor.
São depois muitos os que comentam o artigo que referem que se trata aqui “apenas de palavras”.
Nas redes sociais, é a fórmula adversativa que tem dominado estes últimos dias: eu não concordo com a ideia de matar alguém, mas…
Interesting video on #unitedhealthcare. I don't agree with murder but in the wake of it, a lot of scathing information is coming out about their organization. The CEO and several others SHOULD have been hauled into court facing racketeering charges.https://t.co/8G3zAB3bll
— Beverly Sutphin (@baywatch242000) December 11, 2024