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Homenagem ao marechal Pétain levanta coro de críticas

por Raquel Ramalho Lopes - RTP
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O marechal Pétain será homenageado no próximo sábado, em França, juntamente com outros sete protagonistas da I Guerra Mundial. Uma homenagem que o Presidente Emmanuel Macron considera “legítima” e que motivou uma onda de críticas, incluindo a do Conselho Representativo das Instituições Judaicas de França.

“O Marechal Pétain foi um grande soldado durante a Primeira Guerra Mundial”, mesmo se “fez escolhas funestas” durante a Segunda Guerra Mundial, como a liderança do regime de Vichy, justificou esta quarta-feira o Presidente de França.

“Considero inteiramente legítimo que prestemos homenagem aos marechais que conduziram o nosso exército à vitória, como todos os anos. O meu chefe de Estado-Maior estará presente na cerimónia”, acrescentou Macron, referindo-se ao almirante Bernard Rogel.

"Não oculto nenhuma página da História", sublinhou Emmanuel Macron.

No próximo sábado, por ocasião do Centenário do Armistício, vão ser distinguidos os líderes militares da Primeira Guerra Mundial, incluindo os oito marechais: Joffre, Foch, Lyautey, Maunoury, Gallieni, Fayolle, Franchet d'Esperey e Pétain.
Críticos unânimes
As explicações de Emmanuel Macron, à margem do conselho de ministros em Charleville-Mezieres, levantaram um coro de críticas, da esquerda à direita do espectro político, incluindo a do representante da comunidade de 400 mil judeus franceses.

O presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas de França (CRIJF) disse estar “chocado” com a decisão de Emmanuel Macron.

"É chocante que a França possa prestar tributo a um homem considerado indigno de ser Francês num julgamento realizado em nome do povo francês, em julho de 1945", considerou Francis Kalifat. "A única coisa que quero reter de Pétain é que em 1945 foi atingido pela ignomínia nacional que o torna inelegível para qualquer homenagem", escreveu nas redes sociais.


O líder da Esquerda Insubmissa Jean-Luc Melanchon acusa Macron de “ter ido longe demais”. “O Marechal Joffre foi o militar vitorioso da Guerra de 1914-18. Pétain foi um traidor e um antissemita. Os seus crimes e traição não podem ser apagados da história. Macron, desta vez foi longe demais”, escreveu numa publicação no Twitter.


Benoît Hamon, fundador do movimento Generation-S, considera que o Presidente francês não deve “homenagear Simone Veil no Panteão ao mesmo tempo que o traidor antissemita Pétain nos Inválidos. Nada justifica tal vergonha. Quem preside à França precisa de mostrar-se um pouco mais à altura dos acontecimentos”.

O porta-voz do Partido Socialista, Pierre Jouvet, também nas redes sociais acusa Macron de tentar "reabilitar Pétain", criticando as "itinerâncias de memória" do Presidente. Horas antes exprimia a sua “repugnância! Pétain, o homem de Vichy, da colaboração com Hitler, da rusgade Vel d'Hiv terá direito a um tributo nacional no sábado. Honrar este homem condenado à indignidade nacional em 1945 é uma vergonha e um insulto à história do nosso país”.

O porta-voz do Governo responde que esta é uma “polémica de má-fé” e citou o general De Gaulle que, em 1966, dizia que a glória de Pétain “em Verdun não pode ser contestada ou desconhecida pela pátria”.

“Não podemos seguir por atalhos duvidosos. Pétain serviu a pátria em 1914 e traiu-a em 1940”, declarou Benjamin Griveaux em conferência de impensa.
Pétain, de herói a colaboracionista
Philippe Pétain conduziu os franceses à vitória na Batalha de Verdun, durante a Primeira Guerra Mundial, cujo Centenário do Armistício é assinalado no próximo sábado.

A Batalha de Verdun foi a mais longa da Primeira Guerra, durante a qual morreram mais de 300 mil soldados franceses e alemães ao longo de 10 meses. Após a vitória, o moral das tropas francesas sai reforçado e Pétain, filho de agricultores, é promovido a comandante-em-chefe dos exércitos franceses em 1917. No final da Primeira Guerra, Pétain foi considerado um herói e o seu nome atribuído a ruas nas mais variadas localidades de França.

No entanto, duas décadas depois, com parte do território francês ocupado pelo regime nazi, o marechal foi nomeado presidente. O seu governo, deslocalizado para uma parte do território não ocupada e com sede em Vichy, executava as ordens de Hitler em França, tendo ordenado a deportação e extermínio de judeus.

Condenado à morte em 1945, é indultado pelo então Presidente Charles De Gaulle, que comuta a pena para prisão perpétua. Philippe Pétain morre na prisão, na ilha de Yeu, em 1951. Tinha 95 anos.
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