Hillary Clinton ainda não se livrou dos problemas do e-mail pessoal

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Rick Wilking, Reuters

O director do FBI, James Comey, sustentou nos últimos dias que o comportamento de Hillary Clinton em relação à conta pessoal de e-mail para tratar de assuntos oficiais quando era secretária de Estado não foi o mais correcto, mas que isso não era caso para proceder a uma acusação formal. O assunto parecia arrumado. Mas não, ontem ao final da noite o Departamento de Estado anunciou que vai realizar nova investigação interna à candidata dos democratas à Casa Branca.

O anúncio chegou esta quinta-feira, com o Departamento de Estado a reabrir o caso e a prometer celeridade na investigação. “Tentaremos concluí-la o mais rapidamente possível, mas não vamos estabelecer prazos artificiais”, declarou o porta-voz John Kirby.

Kirby esclareceu que é possível proceder a uma investigação interna, mesmo que se tenha dado o caso encerrado – como aconteceu ao início da semana – dentro do Departamento de Justiça.

James Comey explicara na terça-feira perante uma comissão que Hillary Clinton foi “extremamente descuidada” ao usar um e-mail pessoal para tratar assunto oficiais, mas que isso não era razão suficiente para avançar com uma acusação contra a actual candidata à Presidência dos Estados Unidos.

“Embora haja evidências de potencial violação dos estatutos que regem o uso de informação classificada, a nossa opinião é que nenhum procurador razoável apresentaria acusações neste caso”, sustentou o chefe do FBI.
Uma espinha na campanha

Independentemente dos resultados deste novo inquérito aos e-mails de Hillary, um efeito é já mais do que previsível: a candidata Clinton continuará a ser cozida em lume brando por Donald Trump, o concorrente republicano.

O caso surgiu em 2015, quando Hillary se lançava na corrida à Presidência. A candidata já vinha acusada de uma atitude não condizente com as exigências do cargo. Mais, de ter violado as regras oficiais relativas à proteção de documentos e de menosprezar a hipótese de um ataque informático.

Um assunto que apenas saiu do segredo devido à investigação que o Congresso levou a cabo sobre a forma como a então secretária de Estado lidou com um ataque de militantes à missão americana em Benghazi, durante os levantamento da Primavera Árabe na Líbia.

O FBI defendeu a tese de que, apesar do uso indevido de material sensível do Estado, não pode dizer sem dúvidas que existiu aqui uma clara "intenção" de Hillary Clinton. Declaração que – reaberta a investigação – não impedirá a equipa de Trump de usar todas as fugas que forem saindo deste novo processo. E mais ainda se for uma nota de culpa - seja a que nível for - a fechar o dossier.

Qualquer resultado será uma dor de cabeça para a campanha dos Clinton. Se não, vejamos: ao início da semana, quando o caso foi dado como encerrado, a sua equipa apressou-se a dar conhecimento disso mesmo através de uma comunicação à imprensa em que assinalava a candidata tão limpa como se acabasse de sair do banho.

Não inocente foi também o facto de apenas após a decisão do FBI o Presidente Obama ter feito a sua primeira aparição na campanha de Hillary. Mas agora tudo voltou ao que era – um contexto nebuloso de pressupostos legais, de questões formais do que é ser o comandante supremo dos americanos e, por tudo isto, da dúvida que se instala: tem Hillary Clinton a fibra para liderar a maior democracia do mundo?
Tópicos
PUB