Hamas saúda "vitória" à medida que palestinianos regressam ao norte da Faixa de Gaza
Dezenas de milhares de palestinianos deslocados estão, esta segunda-feira, a regressar ao norte de Gaza, depois de um impasse no fim de semana ter colocado o cessar-fogo em causa. O Hamas saudou o regresso a casa de deslocados como uma “vitória”, enquanto Israel alertou contra qualquer violação do cessar-fogo. O regresso dos deslocados acontece depois de Donald Trump ter sugerido a retirada dos palestinianos da Faixa de Gaza, uma proposta que foi rejeitada veementemente pelo povo e pelas autoridades palestinianas.
“A passagem de palestinianos deslocados começou pela Estrada Al-Rashid, pela parte ocidental do posto de controlo de Netzarim em direção à Cidade de Gaza e à parte norte” da Faixa de Gaza, disse uma autoridade à agência de notícias AFP.
Milhares de palestinianos esperavam desde domingo para regressar às suas casas no norte do enclave, tal como estava previsto no acordo. Mas Israel recusou abrir os pontos de travessia após acusar o Hamas de violar o acordo de cessar-fogo. Telavive justificou a recusa com a falha na libertação de um refém israelita, Arbel Yehud, e pela ausência de uma lista de todos os reféns a serem libertados na primeira fase do acordo de cessar-fogo.
No domingo à noite, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou que o impasse foi desbloqueado e que o Hamas libertaria três reféns na próxima quinta-feira, incluindo Arbel Yehud, e, conforme planeado na primeira fase do acordo, outros três no sábado. "Como parte desses acordos", Israel anunciou que permitiria que os deslocados regressassem ao norte de Gaza a partir desta segunda-feira. Imagens publicadas nas redes sociais mostraram uma onda humana a caminhar por estradas arenosas rodeadas pela devastação causada por mais de um ano de ataques aéreos israelitas.
O Hamas classificou o regresso dos deslocados como uma “vitória” para o povo palestiniano e sinaliza “o fracasso e a derrota dos planos de ocupação”.
Por sua vez, o ministro israelita da Defesa, Israel Katz, alertou, numa mensagem publicada na rede social X, que os acordos de cessar-fogo seriam aplicados "rigorosamente" na Faixa de Gaza e no Líbano.
"Qualquer um que quebre as regras ou ameace as forças do exército israelita pagará um alto preço. Não permitiremos um regresso à realidade de 7 de outubro", alertou, referindo-se ao ataque do Hamas em solo israelita a 7 de outubro de 2023.
Por sua vez, o antigo ministro israelita da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, da extrema-direita, considerou que as imagens do regresso dos habitantes de Gaza eram "imagens de vitória" para o Hamas e "mais uma parte humilhante" do acordo de cessar-fogo ao qual ele se opôs.
“Não sairemos de Gaza”
Enquanto os palestinianos regressam às suas casas no norte de Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu uma “limpeza” do território, isto é, a retirada da população do enclave, propondo que a maior parte da população fosse, pelo menos temporariamente, transferida para o Egito e para a Jordânia.
A proposta foi rejeitada veemente pelos palestinianos, com a Autoridade Palestiniana a defender que violaria as suas "linhas vermelhas".
“Nós enfatizamos que o povo palestiniano nunca abandonará a sua terra ou os seus locais sagrados, e não permitiremos a repetição das catástrofes Nakba de 1948 e 1967. O nosso povo permanecerá firme e não deixará sua terra natal”, disse a Autoridade Palestiniana em comunicado.
O Egito e a Jordânia também recusaram a ideia. “A nossa posição é que a solução dos dois Estados é o caminho para termos uma paz firme e duradoura. A nossa rejeição à deslocação é também firme e duradoura”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi.
Os residentes de Gaza também rejeitam sair do enclave. "Declaramos a Trump e ao mundo inteiro: não deixaremos a Palestina ou Gaza, independentemente do que aconteça", disse à AFP um deslocado da Cidade de Gaza, Rashad al-Naji.
O Hamas também exortou o governo norte-americano a abandonar tais propostas que se alinham com os "esquemas" israelitas e entram em conflito com os direitos do povo palestiniano.
A Jihad Islâmica Palestiniana (PIJ), que luta ao lado do Hamas em Gaza há mais de 15 meses, apelidou os comentários de Trump de um incentivo a “crimes de guerra”.
c/ agências