Hamas responde a Trump. Ameaças "encorajam o ocupante"

por Inês Moreira Santos - RTP
"Essas ameaças complicam as questões relativas ao acordo de cessar-fogo e encorajam o ocupante a não implementar os seus termos" Hatem Khaled - Reuters

Donald Trump deixou um ultimato ao Hamas, na quarta-feira, exigindo a libertação de "todos os reféns agora" e devolvidos "imediatamente todos os corpos". O movimento radical reagiu a encarar este "último aviso" e as repetidas ameaças do presidente norte-americano de guerra e "morte" em Gaza como um sinal de "apoio a Netanyahu para que viole o acordo de cessar-fogo".

"Essas ameaças complicam as questões relativas ao acordo de cessar-fogo e encorajam o ocupante a não implementar os seus termos", reagiu o Hamas, pedindo a Washington que "pressione" Israel a respeitar as suas obrigações.

Em comunicado, o movimento palestiniano apontou que a melhor maneira de libertar os reféns israelitas é iniciar as negociações para a segunda fase de tréguas. Na nota de imprensa, o porta-voz do Hamas, Abdel Latif Al-Qanou, refere que as ameaças de Donald Trump servem para forçar o primeiro-ministro israelita a apertar "o cerco e a fome" contra o povo palestino em Gaza.

"A melhor maneira de libertar os prisioneiros israelitas restantes é que a ocupação [referindo-se a Israel] inicie negociações para a segunda fase e seja responsabilizada pelo acordo assinado sob a mediação de intermediários", lê-se no comunicado.

Na mesma nota é ainda mencionado que o Hamas cumpriu as sua parte da primeira fase do acordo mediado pelos Estados Unidos e que o Governo israelita estava “a evitar negociações para a segunda fase”.No domingo, um dia após a primeira fase terminar, Israel bloqueou a ajuda humanitária em Gaza, em resposta à rejeição do Hamas a uma nova proposta israelita de estender o cessar-fogo sem qualquer compromisso de acabar com a guerra ou de retirar totalmente as tropas.

Entretanto, o presidente dos Estados Unidos fez um "último aviso" ao Hamas para libertar os reféns que mantém em Gaza, ameaçando o movimento islamita palestiniano que caso contrário deixará Israel "terminar o trabalho" no enclave.

Shalom Hamas significa Olá e Adeus - Vocês podem escolher. Libertem todos os reféns agora, não depois, e devolvam imediatamente todos os corpos das pessoas que vocês assassinaram, ou acabou para vocês”, escreveu Trump na rede Truth Social, acusando os membros do Hamas de serem “pessoas doentes e torcidas” por manterem os corpos do reféns israelitas mortos.
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As ameaças de Trump foram feitas poucas horas depois de a Casa Branca confirmar que os Estados Unidos mantiveram contactos diretos com o movimento islâmico, que Washington cataloga como organização terrorista, indicando que as autoridades israelitas foram consultadas sobre estas conversações relacionadas com a próxima fase do cessar-fogo na Faixa de Gaza.

"Vou enviar a Israel tudo o que eles precisam para terminar o trabalho, nenhum membro do Hamas estará a salvo se não fizerem o que eu digo", ameaçou. 
“Este é o último aviso! Para a liderança [do Hamas], agora é a hora de deixarem Gaza, enquanto ainda tem uma chance”.

O presidente norte-americano estendeu as ameaças “ao povo de Gaza”: “Aguarda-vos um futuro lindo, se não mantiverem os reféns”.

“Se esconderem reféns, estão mortos", realçou, repetindo os avisos: “Tomem uma decisão inteligente. Libertem os reféns agora, ou vão pagar um inferno depois”.

As tréguas entre Israel e o Hamas têm vacilado nos últimos tempos, devido a desentendimentos sobre os termos do acordo de cessar-fogo.

O diálogo direto de Washington com o Hamas, revelado pelo `site` Axios, foi confirmado pela porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, que justificou esta abordagem com o grupo palestiniano com a tentativa de por fim à guerra na Faixa de Gaza. O Hamas já confirmou estes contactos e Israel também corroborou as consultas de Washington a este respeito.

As negociações centraram-se na libertação de reféns norte-americanos em posse do Hamas, embora também tenha sido discutido um acordo mais amplo para libertar todos aqueles que ainda estão detidos na Faixa de Gaza e um entendimento para pôr fim à guerra, de acordo com as fontes citadas pelo Axios.

A confirmação surge depois de o grupo palestiniano ter rejeitado no sábado a proposta dos Estados Unidos, um dos três países mediadores nas negociações, de prolongar a primeira fase do acordo até ao final do Ramadão em troca da libertação dos restantes reféns. Israel confirmou igualmente que ter recebido informações do diálogo de Washington com o Hamas.

c/ agências
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