Hamas propõe libertar refém. Israel acusa grupo palestiniano de "manipulação e guerra psicológica"
O Hamas ofereceu-se para libertar um refém militar israelo-americano e os corpos de outros quatro com a mesma dupla nacionalidade como parte de um acordo para retomar as negociações com Israel para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Israel, no entanto, acusa o Hamas de "manipulação e guerra psicológica" e de não ceder nas negociações. A Casa Branca também já reagiu, acusando o Hamas de estar a fazer uma "aposta muito má ao pensar que o tempo está a seu favor".
“Os cinco indivíduos que o Hamas aceitou libertar são prisioneiros israelitas com nacionalidade norte-americana”, disse Taher al-Nounou, um dos líderes do Hamas, à agência noticiosa francesa AFP.
A proposta é condicionada, no entanto, à aceitação por parte de Telavive do início da segunda fase do acordo de cessar-fogo em Gaza, que implica a retirada israelita do território.
O Hamas responde, assim, à proposta recebida da parte dos mediadores na quinta-feira. Segundo avançou a imprensa israelita, a nova proposta, apoiada pelo enviado especial norte-americano, Steve Witkoff, apelava à libertação de cinco reféns vivos em troca de um cessar-fogo de 50 dias em Gaza, durante o Ramadão e a Páscoa, de forma a terem mais tempo para discutir os próximos passos do acordo.
Na declaração desta sexta-feira, o Hamas reiterou a sua “total prontidão” para chegar a um acordo abrangente que inclua tudo o que foi acordado para a segunda fase e voltou a pedir que Israel “cumpra integralmente as suas obrigações”.
Israel fala em “manipulação e guerra psicológica”
O governo israelita, por sua vez, classificou a proposta como "manipulativa" e "guerra psicológica" e acusou o Hamas de “não se ter movido um centímetro” nas negociações indiretas em curso.
“Enquanto Israel aceitou o quadro [apresentado pelo enviado norte-americano Steve] Witkoff, o Hamas mantém-se firme na sua recusa e não se moveu um milímetro”, afirmou o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, num comunicado, acusando o Hamas de continuar a recorrer à “manipulação e à guerra psicológica”.
"O Hamas está a fazer uma aposta muito má ao pensar que o tempo está a seu favor", lê-se num comunicado do Conselho de Segurança Nacional e do enviado especial de Donald Trump para o Médio Oriente, Steve Witkoff.
"Não é o caso. O Hamas está bem ciente do prazo e deve saber que responderemos em conformidade", acrescenta o texto, lembrando que o presidente norte-americano já afirmou que o Hamas "pagará um preço elevado" se não libertar os reféns.
"Estamos preocupados com o destino de todos os reféns", disse o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, quando questionado se Washington estava a dar prioridade aos reféns norte-americanos.
"Estamos a agir como se isto fosse uma troca normal, que o que está a acontecer é normal. É um escândalo. Devem ser todos libertados", acrescentou o chefe da diplomacia norte-americana no Canadá, onde participou numa reunião do G7.
"Não vou comentar o que aceitaremos ou não, exceto que todos nós — o mundo inteiro — devemos continuar a dizer que o que o Hamas fez é ultrajante, ridículo, doentio e repugnante", acrescentou.
O acordo de cessar-fogo em Gaza entrou em vigor a 19 de janeiro e determinava que os reféns não libertados na primeira fase fossem entregues na segunda fase, durante a qual seriam negociados os últimos planos para o fim da guerra.
No entanto, a primeira fase do cessar-fogo terminou a 1 de março e Israel e o Hamas não chegaram a acordo sobre como prosseguir. Israel aceitou um plano alternativo dos EUA, que visava a libertação dos reféns restantes sem iniciar negociações para acabar com a guerra, mas o Hamas não aceitou. Como consequência, Telavive suspendeu a entrada de ajuda humanitária no enclave a 2 de março.
Uma nova ronda de negociações indiretas teve início na terça-feira no Catar, nas quais esteve presente Steve Witkoff, o enviado especial do Presidente norte-americano, Donald Trump, para o Médio Oriente.
As duas delegações estão a tentar, através de mediadores americanos, qataris e egípcios, ultrapassar divergências em relação à segunda fase.
Segundo o Hamas, a segunda fase deve incluir um cessar-fogo permanente, a retirada total das tropas israelitas de Gaza e a libertação dos restantes reféns, bem como a reabertura das passagens de ajuda humanitária em Gaza.
Israel, por seu lado, quer um alargamento da primeira fase até meados de abril e exige a "desmilitarização total" do território e a saída do Hamas para se passar à segunda fase do acordo.
Durante a primeira fase da trégua, que terminou a 1 de março, o Hamas devolveu 33 reféns - incluindo oito cadáveres - e Israel libertou cerca de 1.800 detidos palestinianos.
c/agências