Hamas disponível para iniciar negociações sem cessar-fogo permanente

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Ohad Zwigenberg - Pool via Reuters

Um acordo para um cessar-fogo em Gaza parece estar mais próximo, depois de o Hamas ter anunciado que está disposto a deixar cair, para já, a exigência de um calar permanente das armas e a iniciar as negociações. "A bola está agora do lado dos israelitas", diz o Hamas.

O Hamas terá dado aval a uma proposta dos EUA para um cessar-fogo faseado em Gaza que permitirá a libertação de reféns, deixando assim de exigir que Israel se comprometa primeiro com o fim permanente da guerra antes de negociar qualquer acordo.

Esta mudança de posição foi avançada tanto pelas agências Reuters e AFP, como pela CNN, que citam altos funcionários do grupo islâmico palestiniano.

“O Hamas exigiu um acordo de Israel para um cessar-fogo completo e permanente como condição antes da negociação”, disse o alto funcionário do Hamas à AFP. “Este ponto foi ultrapassado, com os mediadores a comprometerem-se a que, enquanto as negociações estiverem em curso, o cessar-fogo permanecerá em vigor”, acrescentou.

“O Hamas abandonou a condição que tinha imposto de um cessar-fogo permanente e concordou em iniciar negociações”, explicou, avançando que a cedência apenas foi possível porque o grupo recebeu "compromissos e garantias verbais" dos mediadores de que a guerra não será retomada e que as negociações continuarão até que se chegue a um cessar-fogo permanente.
"Agora queremos essas garantias no papel", referiu.

As negociações para um cessar-fogo em Gaza estão paralisadas há meses, dado que o Hamas tem exigido que Israel concorde com o fim total da guerra antes de assinar qualquer acordo – condições que Telavive considera inaceitáveis. Com esta mudança de posição, aumentam as esperanças para que um acordo de cessar-fogo seja alcançado e que os reféns mantidos pelo Hamas desde o ataque de 7 de outubro sejam libertados.

“A bola está agora do lado dos israelitas”, diz o Hamas.
"Transmitimos a nossa resposta aos mediadores e estamos à espera de ouvir a resposta dos ocupantes", disse o responsável do grupo à Reuters.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tinha agendadas reuniões para este domingo para discutir os próximos passos na negociação do plano de cessar-fogo de três fases que foi apresentado em maio pelo presidente dos EUA, Joe Biden, e que tem a mediação do Catar e Egito.

Está também previsto que uma delegação israelita vá até ao Catar na próxima semana para continuar as negociações para um cessar-fogo em Gaza.
O que pressupõe o acordo?
O acordo faseado de Washington incluirá, em primeiro lugar, um cessar-fogo "total e completo" de seis semanas, que permitirá a libertação de um certo número de reféns, incluindo mulheres, idosos e feridos, em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinianos.


Durante esse período, as forças israelitas também se retirariam das zonas densamente povoadas de Gaza e permitiriam o regresso das pessoas deslocadas às suas casas no norte da Faixa de Gaza, segundo estas fontes.

Ao longo dessas seis semanas, Hamas, Israel e os mediadores também negociariam os termos da segunda fase, que poderia levar à libertação dos restantes reféns do sexo masculino, tanto civis como soldados. Em contrapartida, Israel libertaria outros prisioneiros e detidos palestinianos.

Numa terceira fase, segundo as duas fontes, seriam libertados os restantes reféns, incluindo os corpos de prisioneiros mortos, e dar-se-ia início a um projeto de reconstrução com a duração de um ano.

O Hamas ainda quer "garantias escritas" dos mediadores de que Israel continuará a negociar um acordo de cessar-fogo permanente quando a primeira fase entrar em vigor, disseram os dois funcionários.


A guerra no Médio Oriente completa, este domingo, nove meses. Milhares de manifestantes assinalaram o dia com protestos em Telavive. Pedem eleições antecipadas e acusam o Governo de Benjamin Netanyahu de estar a bloquear o acordo de cessar-fogo.

c/ agências
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