Hamas culpa Washington. Líder do Governo de Gaza morto em ataques israelitas

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Amir Cohen - Reuters

O chefe do Governo do Hamas na Faixa de Gaza, Essam al-Dalis, foi morto nos ataques aéreos israelitas da última noite em território palestiniano, anunciou o movimento islâmico em comunicado. O Hamas acusa os Estados Unidos de terem "responsabilidade" pelos ataques israelitas, que mataram mais de 400 pessoas e ameaçam o colapso total do cessar-fogo.

São já mais de 400 os mortos na nova vagas de ataques israelitas em Gaza, na última noite. Entre as vítimas está o chefe do Governo de Gaza, Essam al-Dalis, segundo o próprio Hamas.

Numa "declaração de condolências" partilhada pelo grupo palestiniano, para além de Essam al-Dalis, constam os nomes do chefe do Ministério do Interior, o general Mahmoud Abu Watfa, e do diretor-geral dos serviços de Segurança Interna, o general Bahjat Abu Sultan.O ataque da última noite é o mais violento desde que entrou em vigor o cessar-fogo, a 19 de janeiro, que está agora em risco de colapsar.


O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse ter instruído os militares para tomarem "ações enérgicas" contra o Hamas em resposta à recusa do grupo em libertar os restantes reféns e também por ter rejeitado as propostas dos Estados Unidos para prolongar a primeira fase do cessar-fogo, em vez de passar à segunda fase do acordo, como originalmente acordado.

"Não vamos parar de combater enquanto todos os reféns não regressarem a casa e até que todos os objetivos da guerra sejam atingidos", anunciou o ministro israelita da Defesa, Israel Katz.

Entretanto, o exército israelita ordenou a evacuação das zonas de fronteira da Faixa de Gaza com Israel e pediu aos habitantes que sigam em direção ao centro do território palestiniano, indicando que em breve poderá lançar novas operações terrestres.
Hamas acusa Washington de ter “responsabilidade”
O grupo radical palestiniano, por sua vez, acusou Israel de violar o cessar-fogo e de prejudicar os esforços dos mediadores para garantir um cessar-fogo permanente. O Hamas revelou ainda que está "a trabalhar com mediadores internacionais" para "conter a agressão de Israel". O Hamas "aceitou o acordo de cessar-fogo e implementou-o integralmente, mas a ocupação israelita renegou os seus compromissos (...) ao retomar [esta noite] a agressão e a guerra", disse um líder do grupo armado à agência France-Press, sublinhando que o movimento, até agora, não respondeu aos ataques.

O grupo armado – que ainda mantém 59 dos cerca de 250 reféns capturados no seu ataque de 7 de outubro de 2023 – culpa os Estados Unidos pelos ataques, denunciando o “apoio ilimitado” a Israel por parte de Washington.

"Com o seu apoio político e militar ilimitado [a Israel], Washington tem total responsabilidade pelos massacres de mulheres e crianças em Gaza", afirmou o movimento em comunicado.
Negociações num impasse
As negociações relativamente ao cessar-fogo estão num impasse. O acordo determinava que os reféns não libertados na primeira fase fossem entregues na segunda fase, durante a qual seriam negociados os últimos planos para o fim da guerra.

No entanto, a primeira fase do cessar-fogo terminou a 1 de março e Israel e o Hamas não chegaram a acordo sobre como prosseguir.Israel aceitou um plano alternativo dos EUA, que visava a libertação dos reféns restantes sem iniciar negociações para acabar com a guerra, mas o Hamas não aceitou.


Uma nova ronda de negociações indiretas teve início há uma semana no Catar, nas quais esteve presente Steve Witkoff, o enviado especial do Presidente norte-americano, Donald Trump, para o Médio Oriente.

Com o apoio de Israel, Witkoff apresentou uma nova proposta em que apelava à libertação de cinco reféns vivos em troca de um cessar-fogo de 50 dias em Gaza, durante o Ramadão e a Páscoa, de forma a terem mais tempo para discutir os próximos passos do acordo.

O Hamas entretanto respondeu à proposta e ofereceu-se para libertar um refém militar israelo-americano e os corpos de outros quatro com a mesma dupla nacionalidade como parte de um acordo para retomar as negociações com Israel. No entanto, Telavive acusou o Hamas de "manipulação e guerra psicológica" e de não ceder nas negociações.

O Egito, um dos mediadores do acordo de cessar-fogo assinado em janeiro, apelou à moderação e instou todas as partes a trabalharem para chegar a um acordo duradouro.As duas delegações estão a tentar, através de mediadores americanos, cataris e egípcios, ultrapassar divergências em relação à segunda fase.

Segundo o Hamas, a segunda fase deve incluir um cessar-fogo permanente, a retirada total das tropas israelitas de Gaza e a libertação dos restantes reféns, bem como a reabertura das passagens de ajuda humanitária em Gaza.

Israel, por seu lado, quer um alargamento da primeira fase até meados de abril e exige a "desmilitarização total" do território e a saída do Hamas para se passar à segunda fase do acordo.

Durante a primeira fase da trégua, que terminou a 1 de março, o Hamas devolveu 33 reféns - incluindo oito cadáveres - e Israel libertou cerca de 1.800 detidos palestinianos.

c/ agências
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