Líder do Hamas Ismail Haniyeh morre em Teerão. Movimento palestiniano responsabiliza Israel

por Inês Moreira Santos, Carlos Santos Neves - RTP
"A residência de Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político da resistência islâmica do Hamas, foi atacada em Teerão" Mohammed Salem - Reuters

O Hamas confirmou esta quarta-feira a morte do seu líder político, Ismail Haniyeh, num ataque em Teerão, onde marcou presença na tomada de posse do novo presidente do Irão, Masoud Pezeshkian. O movimento radical palestiniano atribui a Israel a responsabilidade por este aparente ataque direcionado.

"O irmão líder, mártir combatente Ismail Haniyeh, líder do movimento, morreu em resultado de um ataque traiçoeiro sionista na residência em Teerão, depois de participar na cerimónia de posse do novo presidente iraniano", indicou nas últimas horas, em comunicado, o movimento Hamas.

O primeiro anúncio da morte de Ismail Haniyeh partiu dos Guardas da Revolução. Em comunicado, esta força iraniana adianta que o dirigente do Hamas e um guarda-costas morreram num ataque à residência de Ismail Haniyeh em Teerão. Telavive não confirma, por agora, o ataque em Teerão, ou a morte de Haniyeh.

"A residência de Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político da resistência islâmica do Hamas, foi atacada em Teerão e, devido a este incidente, ele e um guarda-costas morreram", indica a nota dos Guardas da Revolução, divulgada no portal Sepah.

Recorde-se que o Governo israelita prometera eliminar a cúpula do Hamas na sequência da ofensiva desencadeada a 7 de outubro pelo movimento.

A notícia da morte de Ismail Haniyeh surge após o Estado hebraico ter confirmado que as suas forças mataram o chefe militar do Hezbollah Fuad Shukr, um dos elementos mais próximos líder do movimento xiita libanês, Hassan Nasrallah.
Gonçalo Costa Martins - Antena 1
"Não vai ficar impune"

O grupo islamita palestiniano avisou entretanto que esta morte “não vai ficar impune”. Também a Autoridade Palestiniana e países como Irão, Turquia e Rússia juntaram-se já ao coro de vozes que condenaram a morte do líder do Hamas.

A partir da Cisjordânia, o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, “condenou veementemente o assassínio do líder do Hamas e considerou-o um ato cobarde e um acontecimento perigoso”, adiantou a agência de notícias oficial palestiniana Wafa. Abbas também “apelou às massas e às forças do povo palestiniano para a unidade, a paciência e a firmeza face à ocupação israelita”.
Já o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina, Hussein al-Sheikh, descreveu “o assassínio” de Haniyeh como “um ato cobarde”.

“Obriga-nos a permanecer mais firmes diante da ocupação”
, sublinhou nas redes sociais.

Em reação, o Irão afirmou que a morte de Haniyeh vai servir para reforçar os laços entre o país e o povo palestiniano.“O martírio do irmão Ismail Haniyeh em Teerão reforçará os laços profundos e inquebráveis entre a República Islâmica do Irão e a amada Palestina e a Resistência”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kan'ani, citado pela agência de notícias oficial Mehr.

Kan'ani expressou ainda “condolências pelo martírio de Ismail Haniyeh” e reforçou que o sangue do líder assassinado do Hamas “nunca será desperdiçado”.

O próprio presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, veio entretanto acusar Israel de ter assassinado Ismail Haniyeh e prometeu fazer com que o país "se arrependa" desta ação "cobarde".

Na mesma linha, o ayatollah Ali Khamenei, líder supremo iraniano, ameaçou "castigar" Israel.

Outros países reagiram à morte do chefe do Hamas, com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Mikhail Bogdanov, que denunciar um “inaceitável assassínio político”.

A Turquia condenou o “desprezível assassínio” de Haniyeh, um aliado próximo do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

“Mais uma vez, ficou demonstrado que o governo de Netanyahu não tem qualquer intenção de alcançar a paz”, escreveu o gabinete do chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan.

A China condenou igualmente o assassínio de Ismail Haniyeh.O Hezbollah xiita libanês clama que a morte de Haniyeh vai reforçar a "determinação" de quem combate Israel.


"Estamos muito preocupados com esse incidente. Opomo-nos vigorosamente e condenamos este assassínio", reagiu um porta-voz da diplomacia chinesa, Lin Jian.

Por sua vez, o Catar, um dos mediadores entre o Hamas e Israel, denunciou um "crime hediondo" e advertiu para uma "escalada perigosa" no Médio Oriente.

"O Catar acolhe a liderança política do Hamas, na qual estava incluído Haniyeh, que medeia as negociações para uma trégua na Faixa de Gaza. Acreditamos que este assassínio poderá mergulhar a região no caos e comprometer as hipóteses de paz", lê-se em comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Catar.
Filho de Haniyeh garante que resistência não vai terminar
Abdul Salam, filho do líder do Hamas morto, garantiu que a resistência do movimento islamita não vai terminar com o “assassinato dos seus líderes”.

"O meu pai sobreviveu a quatro tentativas de assassinato durante sua jornada patriótica, e hoje Alá lhe concedeu o martírio que ele sempre desejou”, disse.Os rebeldes houthis do Iémen, apoiados pelo Irão, vieram dizer-se determinados em secundar o Hamas.


Segundo Salam, o líder do Hamas "estava muito interessado em estabelecer a unidade nacional e se esforçou pela unidade de todas as facções palestinas" e "este assassinato não deterá a resistência, que lutará até que a liberdade seja alcançada".

“Estamos numa revolução e numa batalha contínua contra o inimigo, e a resistência não termina com o assassinato dos líderes”, afirmou Salam, citado pela agência noticiosa iraniana Mehr.

“Haniyeh estava numa das residências especiais para veteranos de guerra no norte de Teerão quando foi morto por um projétil aéreo”
, informou a agência de notícias local Fars, uma informação repetida por outros meios de comunicação social.

A agência Mehr acrescentou ainda que “as razões por detrás deste ataque estão a ser investigadas e os pormenores serão divulgados” quando forem conhecidos.

c/ agências
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