Hamas "aberto" a governo palestiniano único em Gaza e na Cisjordânia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Ismail Haniyeh (ao centro) em Doha, Qatar, a 20 de dezemdro de 2023, para um encontro com o MNE do Irão Reuters - WANA

O líder do grupo Hamas, Ismail Haniyeh, afirmou-se esta terça-feira, "aberto à ideia" de um "governo único" nos territórios palestinianos.

A Cisjordânia é atualmente governada pela Autoridade Palestiniana, de Mahmmoud Abbas, e a Faixa de Gaza pelo Hamas. Após eleições realizadas em 2006 e uma guerra civil com a Fatah, de Abbas, em 2007, o Hamas assumiu sózinho o controle de Gaza, que tem governado como partido único desde então.

A 12 de outubro de 2017, o Hamas e a Fatah assinaram no Cairo um acordo de reconciliação intermediado pelo Egito.

"Recebemos numerosas iniciativas sobre a situação interna (palestiniana) e estamos abertos à ideia de um governo nacional para a Cisjordânia e Gaza" afirmou Haniyeh esta terça-feira, numa entrevista televisionada.

O destino do enclave da Faixa de Gaza, após as operações militares israelitas que ali decorrem desde 7 de outubro, contra o Hamas, tem estado a preocupar a comunidade internacional.

Esta terça-feira, o governo de unidade de Israel tinha previsto reunir-se para debater o "dia seguinte" à guerra, mas o encontro acabou por ser cancelado, tal como negociações de paz mediadas pelo Qatar e pelo Egito, após um ataque que vitimou em Beirute um alto responsável do Hamas. 

Pelo menos dois ministros israelitas estarão a pressionar os palestinianos a abandonarem o enclave voluntariamente.

A expulsão de uma população do seu território é proibida pelas convenções de Genebra, que constituem os fundamentos do direito humanitário internacional, e os EUA já se manifestaram contra a ideia avançada pelos responsáveis israelitas.

A opção do êxodo foi igualmente descartada pelo líder do Hamas, que vive no Catar. "A conspiração para deslocar [o povo palestiniano] não será alcançada", garantiu na mesma entrevista, citada pela Agência France Press.
"Derrota" de Israel
Haniyeh mostrou-se aliás confiante na vitória do seu grupo antevendo uma "derrota" do inimigo.

"A cada dia que passa, a resistência e a sua confiança na vitória são reforçadas", garantiu. "O inimigo está destinado à derrota".

"Esta agressão terminará sob os golpes da resistência e da tenacidade do nosso povo. A ocupação não terá outra escolha exceto vergar-se à vontade do nosso povo", adiantou Haniyeh.

As operações militares de Israel desenrolam-se há quase três meses, provocadas pela invasão do seu território coordenada pelo Hamas, a 7 de outubro, que causou 1200 mortos, a maioria civis israelitas, assassinados de forma bárbara de acordo com numerosos relatos.

Na mesma operação, o Hamas fez cerca de 250 reféns. Uma semana de tréguas, entre 24 e 30 de novembro, permitiu a libertação de 105 destes civis em troca de 240 prisioneiros palestinianos. Após a morte de vários reféns durante os combates, permanecerão sequestrados em Gaza 129 reféns, de acordo com as autoridades de Israel.

Sobre estes, Ismail Haniyeh declarou que "só serão libertados se se cumprirem as condições da resistência" do Hamas, transmitidas ao Catar e ao Egito, os intermediários nas negociações com Israel. A principal exigência é a "total cessação da agressão" contra os palestinianos.

O Hamas afastou qualquer possibilidade de novas tréguas para a troca de prisioneiros antes do "fim da guerra". Israel não admite por seu lado qualquer cessar-fogo permanente e prometeu destruir o Hamas.
Cisjordânia em risco de "implodir"
De acordo com o grupo palestiniano, a guerra em Gaza fez mais de 22.000 mortos até esta terça-feira e os combates não dão sinal de abrandar, especialmente em Khan Younis, e apesar de Israel já estar a retirar algumas forças do enclave em preparação para um conflito prolongado, de acordo com Mark Regev, conselheiro do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

A guerra em Gaza "é uma maratona, não um sprint", afirmou Regev.

O impacto das operações militares de Israel contra o Hamas também se tem feito sentir na Cisjordânia, onde Israel tem conduzido o que designa como "operações preventivas" de segurança.

Pelo menos 2.550 pessoas foram detidas por Israel na Cisjordânia desde outubro, 1.300 delas suspeitas de laços com o Hamas.

Depois de mais uma operação noturna "antiterrorista" de Israel perto de Qalqilya, no norte dos territórios ocupados, ter feito quatro mortos esta terça-feira, o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, veio avisar que o território pode "implodir", devido às tensões com Israel.

(com agências)
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