"Haiti precisa de paz". Primeiro-ministro Ariel Henry demite-se

por Carla Quirino - RTP
Ralph Tedy Erol - Reuters

O primeiro-ministro interino do Haiti, Ariel Henry, confirmou na segunda-feira que vai renunciar ao cargo e apelou a "todos os haitianos" para que "permaneçam calmos", de forma a que "paz e a estabilidade voltem o mais rápido possível". Vai ser criado um conselho de transição para o país que está, para já, mergulhado numa vaga de violência e em situação "muito precária".

Ariel Henry apresentou a demissão do cargo de primeiro-ministro, que ocupava de forma interina, depois de pelo menos dez dias consecutivos de violência e caos no Haiti.

Aproveitando o momento em que Henry estava ausente do país, grupos armados liderados por um antigo polícia, conhecido como Jimmy "Barbecue" Cherizier, uniram-se para destronar o Governo. "Barbecue" e os gangues incendiaram esquadras, prisões, paralisaram o porto de Porto Príncipe (Port-au-Prince) e chegaram mesmo a cercar o aeroporto da capital.

A escalada de violência e a falta de apoio dos Departamento de Estado dos EUA, ou dos países vizinhos, não deixaram a Henry outra alternativa.

"O Haiti precisa de paz, estabilidade, desenvolvimento duradouro", declarou Ariel Henry, chefe de Governo demissionário, que se encontra na ilha de Porto Rico.

“O Governo que lidero irá renunciar imediatamente após a instalação de um conselho [de transição]”, anunciou.

 
Ariel Henry, chefe de Governo demissionário | Reuters

E acrescentou: “Quero agradecer ao povo haitiano pela oportunidade que me foi concedida. Peço a todos os haitianos que permaneçam calmos e façam tudo o que puderem para que a paz e a estabilidade voltem o mais rápido possível”.
Sucessão de acontecimentos

Henry tinha viajado para o Quénia com vista a assinar um acordo no sentido do envio de uma força de segurança internacional. Estes militares teriam como missão ajudar a combater a violência no Haiti. Nesse momento, todavia, a rebelião acentuou-se nas ruas de Porto Príncipe com "Barbecue" a invadir e libertar prisioneiros das maiores prisões do país e a prometer "genocídio", caso o primeiro-ministro em funções não abandonasse o cargo.

De regresso ao Haiti, Henry viu o seu avião impedido de aterrar no aeroporto nacional, acabando por fazê-lo em Porto Rico.

Os países caribenhos reuniram-se de emergência, na segunda-feira, na Jamaica, por iniciativa da Caricom - Comunidade dos países das Caraíbas, com representantes da ONU e de vários países, incluindo França e Estados Unidos, para tentar encontrar uma solução para o Haiti.

O presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, também presidente da Caricom, anunciou a constituição de um conselho de transição incumbido de nomear “rapidamente” um primeiro-ministro interino. O conselho deverá preparar ainda o caminho para as primeiras eleições no Haiti desde 2016.

A capital Porto Príncipe e a região circundante mantêm-se em estado de emergência, que entretanto foi prorrogado para um mês.

Os grupos criminosos controlam, nesta altura, cerca de 80 por cento da capital haitiana.


Antigo polícia Jimmy "Barbecue" Cherizier nas ruas de Porto Príncipe | Ralph Tedy Erol - Reuters

Matthias Pierre, antigo ministro do Haiti, além de ter anunciado a demissão no programa Newsday da BBC, antes de esta ser confirmada publicamente, descreveu como a situação atual do país se apresenta “muito precária”.

“A autoridade da polícia é fraca e mais de 40 esquadras estão destruídas. O exército é muito limitado e não está equipado; membros de gangues ocupam a maior parte do centro de [Porto Príncipe] e algumas sedes do governo. Muito em breve as pessoas ficarão sem comida, medicamentos e apoio médico", acrescentou.

Henry, com 74 anos, liderou o país de forma oficialmente interina, desde julho de 2021, após o assassinato do ex-presidente Jovenel Moïse. A partir dessa data, não só acumulou os dois cargos como adiou repetidamente as eleições, argumentando que a segurança deveria “ser restaurada primeiro”.
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