"Hackers" reforçam fileiras dos Anonymous e acentuam ataques a Putin

por Carla Quirino - RTP
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A guerra cibernética operada por piratas informáticos, sob a bandeira dos Anonymous, tem a mira apontada ao presidente Vladimir Putin, como retaliação pela invasão da Ucrânia. Estes hackers dizem invadir plataformas russas em nome de uma resistência anónima. Especialistas temem que, com a escalada deste tipo de ataques, as redes de emergência possam ser atingidas.

Se durante a Guerra Fria a campanha de desinformação se circunscreveu a transmissões de rádio, atualmente as ferramentas digitais vêm diversificar cenários.
 
Roman é um informático ucraniano e coordena um grupo de hackers chamado Stand for Ukraine. Diz só ter criado ligações com a organização de piratas informáticos Anonymous no momento em que a Russia invadiu o país.

Em declarações à BBC, Roman explicou que, quando conseguiram furar o portal da agência estatal russa Tass, manipulando-a com uma imagem anti-Putin, incluíram a assinatura dos Anonymous.

Este pirata informático diz trabalhar num apartamento em Kiev e agiliza ações focadas no combate a Putin. O grupo associado aos Anonymous "crim sites, aplicações Android e bots do Telegram para ajudar no esforço de guerra da Ucrânia e hackear alvos russos".

"Estou pronto para pegar numa arma e defender a Ucrânia, mas neste momento as minhas habilidades são melhor usadas no computador. Então estou aqui em casa, com os meus dois computadores portáteis, a coordenar essa resistência anti-Putin", declarou Roman.

Diz já ter desativado um serviço de passagens de comboios regionais russos durante várias horas, mas não há confirmação desta ação. Roman defende que "estas coisas são ilegais e erradas até que haja uma ameaça a si ou à família".
Um outro grupo de hackers polacos, denominado Squad 303, em homenagem a um famoso esquadrão de caças na II Guerra Mundial, associou-se também ao grupo Anonymous.

Um dos membros do Esquadrão 303 descreveu as ações do grupo como estando "numa barricada com uma arma durante o dia e a piratear com o Squad 303/Anonymous à noite".

O Squad 303 diz ter desenvolvido um site que "permite ao público enviar mensagens de texto para números de telefone russos aleatórios, contando a verdade sobre a guerra". Os hackers polacos afirmam ter feito circular mais de 20 milhões de mensagens SMS e WhatsApp.

Dizem que este tráfego de mensagens terá sido "a coisa mais impactante que o grupo fez até agora pela Ucrânia".

Jan Zumbach (nome falso), um dos membros do grupo, enquadra a a atividade ilegal do Squad 303 como forma de luta contra o Kremlin "com o objetivo de vencer a guerra de informações". Dizem não ter roubado nenhum dado privado. Apenas tentaram comunicar com cidadãos russos.

Os hackers em geral justificaram as motivações sublinhando que ucranianos inocentes estão a ser massacrados: "Vamos intensificar os ataques ao Kremlin, se nada for feito para restaurar a paz na Ucrânia".


Desde início do conflito, uma outra ação do grupo Anonymous ganhou destaque nos media russos. Foi colocado a circular um vídeo com imagens de bombas a explodirem na Ucrânia e soldados a descreverem os horrores no terreno.

Desde dia 26 de fevereiro, este conteúdo sobre a guerra foi partilhado por contas dos Anonymous em diversas redes sociais com milhões de seguidores. "APENAS EM: Canais de TV estatais #russos foram hackeados por #Anonymous para transmitir a verdade sobre o que está a acontecer na #Ucrânia", dizia uma publicação.

Um dos grupo associados aos Anonymous reinvindica milhões de visualizações do vídeo em causa e que assumiram os serviços de TV durante 12 minutos, interrompendo a programação de canais estatais russos.

Eliza, residente nos Estados Unidos, contou à BBC que o pai, cidadão russo, lhe telefonou durante a interrupção da TV. "O meu pai telefonou-me quando aconteceu e disse: ó meu Deus, eles estão a mostrar a verdade. Eu consegui então que ele gravasse e partilhei o vídeo online. Ele disse que um dos seus amigos também viu isto a acontecer".


Do outro lado da fronteira, também surgem ataques cibernéticos contra a Ucrânia, mas em menor escala. O último envolveu um vídeo deepfake, em que a manipulação do rosto e da voz de Volodymyr Zelensky reproduz o presidente da Ucrânia a sugerir aos soldados que deponham as armas. Foi rapidamente desmascarado.

Num ambiente de informação e contrainformação, haverá grande dificuldade para saber "quem está por trás de um ataque informático", dizem os especialistas que estudam estas ações. Alertam sobretudo para o aumento desta atividade desde que começou a invasão russa em território ucraniano.

"Nunca vi nada assim", afirma Emily Taylor, do Cyber Policy Journal. "Esses ataques trazem riscos. Podem levar a uma escalada, ou alguém pode acidentalmente causar danos reais numa área crítica da vida civil", como cortar a rede de computadores de um hospital ou interferir em comunicações de emergência.

Há pelo menos oito anos que o grupo Anonymous não se apresentava tão ativo, mas com a guerra na Ucrânia diversos outros grupos associaram-se à "marca".

"O calcanhar de Aquiles dos Anonymous é que qualquer um pode dizer ser dos Anonymous, incluindo atores estatais que operam contra aquilo por que lutamos", afirma o antigo elemento dos Anonymous Anon2World.

"Com o nosso atual aumento de popularidade, é certo que haverá repercussões óbvias de uma entidade governamental. Quanto a aumenta o caos, estamos habituados ao caos, especialmente online", remata Anon.
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