Habitualmente neutra, Suíça junta-se às sanções da UE contra a Rússia

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

A Suíça, que é conhecida por tradicionalmente se manter à margem dos conflitos internacionais, anunciou esta segunda-feira que vai adotar as sanções aplicadas pela União Europeia contra a Rússia. Além de bloquear o espaço aéreo a Moscovo e proibir a entrada no país de cinco oligarcas russos, o governo suíço vai congelar os bens das pessoas e instituições russas incluídas na lista da UE de 367 entidades a sancionar na sequência da ofensiva militar contra a Ucrânia. Estas sanções abrangem os bens de Vladimir Putin, do primeiro-ministro Mikhail Mishustin e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov.

"Considerando a contínua ofensiva militar da Rússia na Ucrânia, o Conselho Federal tomou a decisão a 28 de fevereiro de adotar os pacotes de sanções impostos pela UE a 23 e 25 de fevereiro", anunciou Berna em comunicado.

"A Suíça reafirma a sua solidariedade com a Ucrânia e com o seu povo", sublinha o comunicado do Governo helvético, citado pela Reuters, acrescentando que oferece ajuda a quem fugir do país para a Polónia.

De acordo com o que afirmou, em conferência de imprensa o ministro suíço das Finanças, Ueli Maurer, os ativos na Suíça de personalidades russas que constam da 'lista negra' da UE "estão congelados com efeito imediato".

"A Suíça está também a aplicar as sanções financeiras impostas pela UE ao presidente russo Vladimir Putin, ao primeiro-ministro Mikhail Mishustin e ao ministro dos Negócios Estrangeiros Sergey Lavrov com efeito imediato", afirmou Ignazio Cassis.

"Esta é uma medida de grande alcance por parte da Suíça"
, disse o presidente do Conselho Federal numa conferência de imprensa, acrescentando que o Governo suíço "está a dar este passo com convicção, ponderação e de forma inequívoca".

Ignazio Cassis reconheceu que se trata de uma ação “sem paralelo”, uma vez que a Suíça se mantém sempre neutra em conflitos políticos internacionais. Mas justificou que “o ataque da Rússia é um ataque à liberdade, um ataque à democracia, um ataque à população civil e um ataque às instituições de um país livre”.

“Isto não se aceita no que toca ao Direito Internacional, nem deve ser aceite politica ou moralmente”
, afirmou Cassis, ao explicar a mudança de posição do país.

“Nestes dias sombrios”, continuou o presidente do Conselho Federal, a Suíça solidariza-se com a Ucrânia e “esperamos que as sanções façam o Kremlin mudar de ideias”.
Suíça proíbe entrada a oligarcas próximos de Putin
Nos últimos dias, as autoridades suíças - que pareciam hesitantes quanto à aplicação de sanções após a invasão - estiveram sob forte pressão para se alinharem com a UE e com os Estados Unidos.

Na mesma conferência, a ministra da Justiça, Karin Keller-Sutter, anunciou que cinco oligarcas russos ou ucranianos "muito próximos de Vladimir Putin" e com fortes laços económicos com a Suíça "foram imediatamente proibidas de entrar" no território suíço. Estes visados - cujos nomes a Suíça não quer tornar públicos - não têm autorização de residência na Suíça, mas importantes "ligações económicas, especialmente nas finanças e no comércio de mercadorias", acrescentou.

Recorde-se que a Suíça é um dos destinos dos bens e fortunas dos grandes oligarcas russos, e que os números oficiais dos bancos suíços davam conta, em 2020, de depósitos num valor global superior a 11 mil milhões de dólares, de acordo com números citados pelo New York Times.

Além disso, a Suíça é considerado um centro para o comércio global de matérias-primas, estando presentes naquele país um grande conjunto de empresas que, nomeadamente, comercializam petróleo russo. De acordo com a imprensa suíça, 80 por cento do comércio russo de petróleo e gás é feito na Suíça.

Tal como a UE anunciou no domingo, a Suíça também fechou o seu espaço aéreo a partir desta segunda-feira a todos os voos provenientes da Rússia e a todos os movimentos aéreos de aviões russos, incluindo jatos privados. Apenas "voos para fins humanitários, médicos ou diplomáticos" estão isentos desta proibição.

A verdade é que as autoridades suíças, que estavam relutantes em aplicar sanções proporcionais à invasão russa da Ucrânia, estiveram sob forte pressão durante vários dias para se alinharem com a União Europeia e os Estados Unidos. A maioria dos partidos políticos, com exceção da ala radical de direita SVP - à qual pertence o Maurer, apelava a um gesto mais forte. No sábado, dezenas de milhares de suíços que protestaram em apoio ao povo ucraniano também apelaram a sanções mais duras.

O Conselho Federal declarou, contudo, que "a Suíça continuará a examinar individualmente cada novo pacote de sanções impostas pela UE".
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