Um ano após o ataque iraniano às bases militares norte-americanas no Iraque, o jornal The Washington Post revelou no domingo novos detalhes sobre o incidente. Sabe-se agora que 110 militares foram diagnosticados com lesões cerebrais traumáticas e 29 “ficaram de tal forma gravemente feridos” que receberem a condecoração de corações púrpura.
Após o ataque às bases militares norte-americanas, no dia 8 de janeiro de 2020, o presidente Donald Trump deixou uma mensagem no Twitter a garantir que estava “tudo bem”. Mas não estava. O ataque por parte do Irão foi sem precedentes, mas minimizado na altura.
O jornal The Washington Post avança agora que, apesar de o ataque não ter provocado nenhum morto, 110 militares foram diagnosticados com lesões cerebrais traumáticas, tendo alguns ficado hospitalizados e internados nos cuidados intensivos.
Para além disso, 29 militares “ficaram de tal forma gravemente feridos que receberem corações púrpura”, uma alta condecoração militar nos EUA concedida em nome do presidente aos feridos ou mortos que servem as Forças Armadas norte-americanas.
Muitos dos militares apresentam sintomas de ansiedade até hoje. Os que estavam presentes têm ainda pesadelos com aquele dia e sofrem de dores de cabeça crónicas, para além de outros problemas.
“Ainda tenho ansiedade”, admitiu o major Alan Johnson ao Washington Post. “Ainda tenho sonhos recorrentes, apenas o som daquelas coisas a chegar”, disse Johnson, referindo-se ao som dos mísseis.
“Não imagino que alguém tenha saído disto sem qualquer tipo de consequência, psicológica ou emocional, por causa do quão traumático foi”, disse o tenente-coronel Jonathan Jordan.
Segundo os números do Washington Post, há agora mais do dobro de soldados diagnosticados com lesões cerebrais do que os inicialmente avançados. Em finais de janeiro de 2020, os EUA confirmavam que 50 militares norte-americanos tinham ficado com traumatismos cranianos na sequência do ataque.
Dias antes, Trump tinha minimizado os relatos de lesões, afirmando que os militares "tinham dores de cabeça e algumas outras coisas", mas na sua opinião não era nada de “muito grave".
Sabe-se agora que Trump se baseou nas informações que tinham sido obtidas pelo Pentágono até ao momento. Questionados os militares sobre se precisavam de cuidados médicos, nenhum respondeu que sim, tendo sido enviado um relatório ao Pentágono que comunicava zero feridos.
“A verdade é que toda a gente tinha esses sintomas de lesão cerebral traumática. Mas esses sintomas eram insignificantes em comparação com o que passámos a noite toda”, disse Johnson.
Os militares começaram a ser submetidos a testes clínicos uns dias depois. Os pacientes com sintomas mais significativos foram retirados do Iraque. O major Alan Johnson, por exemplo, foi diagnosticado com uma lesão cerebral e passou semanas em fisioterapia e a receber tratamento psiquiátrico.
Os momentos antes e após o ataque
O relatório do Washington Post expõe a gravidade do ataque e ilustra o perigo em que foram colocados os militares.
Uma retaliação por parte do Irão à morte de Soleimani era esperada e as tropas norte-americanas no Médio Oriente começaram a preparar-se para esse cenário quase imediatamente após o assassinato do general iraniano.
No entanto, a gravidade da ameaça só ficou clara a 7 de janeiro, quando se aperceberam que o Irão não planeava atacar com rockets, mas com mísseis muitos mais poderosos lançados a quilómetros de distância da fronteira com o Iraque.
Sabe-se agora que a investida iraniana incluiu onze mísseis com cerca de onze metros de comprimento e 800 quilos de explosivos.
A Força Aérea dos Estados Unidos decidiu evacuar metade de uma unidade militar que incluía 160 pessoas. A outra metade ficou refugiada em bunkers. Numa outra unidade da base militar norte-americana, dezenas de soldados preparavam-se para partir em três aeronaves. Outros foram obrigados a ficar.
O alerta sobre a chegada dos mísseis chegou à 1h30 da manhã. Os disparos de mísseis continuaram por uma hora.
“Eu nem tive tempo para ficar com medo”, disse o sargente Drew Davenport ao Washington Post. “Eu estava tão cheio de adrenalina. Lembro-me daquela nuvem em forma de cogumelo e daquela cor vermelha e laranja brilhante vivamente. Foi uma das coisas mais violentas que já vi”, admitiu Davenport.