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Guterres quer aplicar capacidades como secretário-geral da ONU

por Inês Geraldo - RTP
“Acho que tive um enorme privilégio de acumular um conjunto de experiências”, afirma António Guterres, já na pele de candidato Estela Silva - Lusa

O antigo primeiro-ministro declarou que a candidatura a secretário-geral da ONU apresenta-se como uma oportunidade de colocar em prática a experiência que teve como alto comissário para os Refugiados, sabendo de antemão que a corrida é difícil. António Guterres falou ontem na Fundação de Serralves, onde se mostrou orgulhoso do patrocínio do Governo português.

Depois de dez anos como alto comissário da Organização das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres terminou o mandato em 2015. Agora, o Governo português propõe uma candidatura do antigo primeiro-ministro para o lugar que ainda é ocupado pelo sul-coreano Ban Ki-moon.
António Guterres reagiu também à vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais, desejando que o mandato do professor “corra bem para o país”.


Em Serralves, no Porto, o antigo primeiro-ministro disse aos jornalistas que se sente privilegiado por ter ocupado cargos importantes durante a vida profissional. Guterres lembrou que esteve na primeira linha da consolidação da democracia em Portugal, ocupou um alto cargo governativo e as experiências que ganhou enquanto número um do ACNUR.

“Acho que tive um enorme privilégio de acumular um conjunto de experiências. Vivi uma revolução em Portugal, estive na primeira linha da consolidação da democracia no nosso país, uma experiência inolvidável, tive ação como membro de um partido e do Governo e depois tive uma extraordinária oportunidade em trabalhar dez anos em apoio aos refugiados que foi algo que me abriu as portas de tudo o que hoje é vital nas relações internacionais”, comentou Guterres.

“Acho que tenho o dever de pôr a render essas capacidades”, continuou.

Questionado sobre a candidatura, António Guterres explicou que a mesma não é pessoal e que partiu do Governo de António Costa tomar essa iniciativa.

Na semana passada, através de um comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Executivo anunciou que vai apresentar a candidatura do ex-alto comissário ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas, explicando que tem a obrigação de estar disponível.

“A minha atitude é muito simples, é de disponibilidade, e tenho muita honra em aceitar a decisão do Governo português de querer propor a minha candidatura”.

E continuou ao ser questionado se está preparado para assumir mais uma experiência exigente nas Nações Unidas: “Estas são coisas para as quais nós nunca estamos inteiramente preparados, mas acho que tudo aquilo que aprendi ao longo da vida, em todas as oportunidades que me foram oferecidas, me cria a obrigação de estar disponível”.
Candidatura difícil mas com apoios
Apesar de demonstrar grande orgulho em ver o Governo de Portugal a apresentar a candidatura, é o próprio António Guterres a considerar que não se trata de algo fácil de alcançar.

No entanto, alguns chefes de Estado já revelaram apoiar o antigo primeiro-ministro português na corrida, colocando em evidência as experiências de Guterres durante a vida profissional.

José Maria Neves, primeiro-ministro cabo-verdiano, revelou que António Guterres terá todo o apoio e empenhamento de Cabo Verde, realçando que o antigo alto comissário tem a “estatura necessária” para ocupar.

Também o primeiro-ministro de São Tomé, Patrice Trovoada, declarou que António Guterres conta com todas as características próprias para desempenhar um tão alto cargo nas Nações Unidas.
Avisos para o futuro da Europa
Num debate na Fundação de Serralves, António Guterres voltou a chamar a atenção para o possível colapso do sistema de asilo europeu e do espaço Schengen, caso os países europeus continuem a recusar a entrada de refugiados.

Reuters

“No momento em que os europeus se devem unir, infelizmente continuam a desunir-se, o que é péssimo para os refugiados”, comentou.

António Guterres fez questão de lembrar que a situação está a agravar-se cada vez mais e que a crise refugiados que se vive na Europa é um sintoma de um mundo que está a ficar cada vez mais perigoso.

Para o antigo primeiro-ministro, a Europa deve envidar esforços para acolher o maior número possível de refugiados de forma organizada, para combater os problemas demográficos de que padece atualmente.

Em relação a possíveis ataques terroristas, António Guterres lembrou que os movimentos de refugiados não podem ser confundidos com o terrorismo, mas admite que vão haver tentativas de infiltração.

O ex-alto comissário explicou que Portugal não é um dos países mais procurados por refugiados por se encontrar “longe”, mas avisa que o país deveria ser mais ativo no acolhimento para poder povoar o interior, cada vez mais desertificado.

Guterres ressalvou que os refugiados vêm na sua maioria de zonas rurais e que poderiam ter um papel ativo na revitalização do interior de Portugal.
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