O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou hoje os líderes mundiais a "aproveitarem ao máximo o impulso" da Cimeira dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), onde foi acordado um aumento de financiamento para os países em desenvolvimento.
Num discurso de encerramento do Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável, Guterres celebrou o facto de os líderes terem respondido com um "plano de resgate" dos ODS e terem concordado com um aumento do financiamento para a consecução dessas metas: 500 mil milhões de dólares por ano (468,2 mil milhões de euros anuais).
"Chegaram a esta Cimeira com novas ideias (...) mas vocês estão a sair daqui com algo muito mais crítico -- uma `lista de tarefas de desenvolvimento`. Devemos aproveitar ao máximo o impulso desta Cimeira para estimular o progresso nos próximos meses --- e isso pode ser feito de sete maneiras-chave", começou por dizer.
Primeiro, Guterres apelou aos líderes internacionais para que concretizem as suas promessas e transformem o seu apoio em investimentos reais nos países em desenvolvimento.
"Para levar adiante esta iniciativa, apelo à formação de um Grupo de Líderes para entregar um conjunto de medidas claras que permitam que os 500 mil milhões de dólares comecem a fluir antes do final de 2024", indicou.
Em segundo lugar, pediu que se traduza os compromissos assumidos na Cimeira em políticas, orçamentos, investimentos e ações concretas.
De seguida, o ex-primeiro-ministro português pediu um maior apoio à ação nas seis principais áreas de transição dos ODS --- alimentação, energia, digitalização, educação, proteção social e empregos, e biodiversidade.
Na quarta posição, instou ao imediato planeamento dos "aumentos massivos nos investimentos" destinado à proteção social.
"Temos de dar vida ao Acelerador Global do Emprego e da Proteção Social para abranger mais mil milhões de pessoas até 2025 e quatro mil milhões até 2030", disse.
Em quinto, António Guterres disse ser tempo de os países desenvolvidos cumprirem a sua meta de Ajuda Oficial ao Desenvolvimento, de 0,7% dos seus rendimentos nacionais brutos.
As reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial do próximo mês foram a sexta medida-chave apontada pelo secretário-geral, que defendeu que, além da recapitalização, é necessária uma recanalização adicional urgente de 100 mil milhões de dólares (93,6 mil milhões de euros) em Direitos Especiais de Saque não utilizados.
"De um modo mais geral, precisamos de melhorar os mecanismos globais da dívida em geral, nomeadamente acelerando os procedimentos, permitindo suspensões imediatas da dívida e reestruturando a dívida em termos mais longos e acessíveis para países com necessidades urgentes", afirmou.
Por último, pediu que os líderes internacionais cheguem à COP28, no próximo mês, com planos e propostas concretas para "evitar os piores efeitos das alterações climáticas", cumprir as promessas globais de apoios essenciais, e ajudar os países em desenvolvimento a alcançar uma transição justa e equitativa para as energias renováveis.
O chefe das Nações Unidas apelou assim ao fim da "guerra sem sentido contra a natureza" e a passagem "das palavras à ação" ainda este ano.
"Esta lista de tarefas de desenvolvimento não é apenas um trabalho de casa. Este é um trabalho de esperança. E a ação é o preço da esperança. Temos um plano de resgate diante de nós, agora é a hora de tirar as palavras das páginas e investir em desenvolvimento em escala, como nunca antes", indicou, no seu discurso de encerramento da Cimeira.
"Agora é o momento de regressarem aos vossos países e começarem a trabalhar nas políticas, orçamentos e investimentos necessários para alcançar os ODS. Acima de tudo, agora é a hora da liderança. Vamos agir agora para um mundo melhor, mais saudável, mais pacífico, sustentável e próspero", concluiu, sendo amplamente aplaudido.
De acordo com a ONU, apenas 15% das metas dos ODS estão no caminho certo para serem alcançadas até 2030, um cenário bastante "preocupante" para a Organização.
Ao longo desta Cimeira dos ODS, que arrancou na segunda-feira, a ONU conseguiu um novo compromisso por parte de todos os líderes globais, e que ficou consolidado numa declaração de intenções aprovada ainda na segunda-feira.
Com esta declaração política, Guterres admitiu sentir-se "profundamente encorajado", especialmente tendo em conta o compromisso a que se propõe de melhorar o acesso dos países em desenvolvimento ao financiamento necessário para avanços nos ODS.